
Até quinta-feira (29), sempre às 7h15min, o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra entrevista os candidatos à prefeitura de Caxias do Sul. O bate-papo terá duração de 30 minutos cada, com mediação dos jornalistas Alessandro Valim e André Fiedler.
Denise Pessôa é a segunda entrevistada da série. Confira o bate-papo na íntegra:
Gaúcha Serra: A senhora é a candidata da esquerda na eleição, numa cidade que nos últimos anos tem tido históricas votações da direita, do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo. A última eleição que o PT ganhou para o Executivo aqui em Caxias foi no ano 2000. O que leva a senhora a crer que é possível reverter essa realidade e fazer com que a sua candidatura possa ser vitoriosa?
Denise Pessôa: Primeiro quero dizer que a nossa chapa é uma chapa de centro-esquerda, e a gente tem comigo nessa chapa o Alceu Barbosa Velho, que foi um prefeito do PDT. A gente atua com outros partidos dentro dessa coligação e tem a experiência do Alceu, que foi prefeito e fez uma boa gestão em Caxias do Sul, e eu digo que foi a última gestão com participação popular. E tenho também comigo o apoio do Pepe Vargas, que foi um grande prefeito que estruturou o SUS em Caxias do Sul.
E eu vejo que este é um momento em que a gente precisa diminuir as polarizações. A gente tem esses conflitos que ocorreram em um passado muito recente, com situações em que as pessoas acabaram se separando de amigos e de familiares, e a gente se propõe aqui a fazer um diálogo. Tanto que a nossa chapa já demonstra um diálogo mais amplo, já que a gente nunca esteve junto, o PT e o PDT, numa chapa em Caxias do Sul.
Então a gente tem uma composição mais ampla, como quando eu presidia a Câmara de Vereadores. Sempre fui uma pessoa que dialogou com os diferentes, tanto que fui eleita presidente da Câmara com votos de vários vereadores que, inclusive, não eram do PT, porque a gente sempre teve menos representantes na Câmara.
Então eu vejo que o diálogo é necessário nesse momento e a nossa chapa se dispõe a fazer esse diálogo. Porque a partir do dia 1º de janeiro de 2025, eu não serei uma prefeita só para os que votarem em mim. Serei uma prefeita para toda a cidade, e eu sei trabalhar com as diferenças.
Gaúcha Serra: A senhora mencionou seu vice, o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho. Naquele momento em que ele foi prefeito, o PDT era aliado ao MDB, e a senhora foi crítica dessa administração. O que mudou de lá para cá, e que resultou nessa aproximação?
Denise Pessôa: Quando comecei na Câmara de Vereadores, eu me lembro de vários momentos que a gente tinha divergências dentro da Câmara, mas a gente sempre se respeitava. Eu estou falando lá de 2009, no meu primeiro ano, eu fui vereadora com a Geni Pettefi, com o Alaor de Oliveira, com o Mauro Pereira e com vários vereadores mais antigos. A gente divergia dentro do plenário, mas se respeitava. Ninguém pregava a extinção do outro partido, mas de um tempo para cá a gente percebeu que existem grupos que não respeitam essa democracia e os partidos.
Eu não me importo de haver divergência sobre o meu pensamento, mas quando tu prega a extinção de um partido, aí tu extrapola qualquer princípio democrático. Então, no decorrer do tempo, a gente viu crescer, inclusive, uma chamada frente anti-PT na Câmara de Vereadores, que acho que faz mal para a democracia e para a cidade. A gente tem que construir uma cidade que não deixe ninguém para trás, ninguém. Não é porque é de um partido ou de outro que a gente tem que deixar para trás.
Então, quanto ao prefeito Alceu, a gente que fez oposição sempre de forma responsável. Votei os projetos que foram bons para nossa cidade, mas a gente tem que reconhecer sim que o prefeito Alceu foi uma pessoa que contribuiu muito para a educação: foram construídas 10 escolas na gestão dele, muitas com recursos do Governo Federal. Se nós tivéssemos seguido nesse caminho certamente a gente já teria resolvido o problema da educação infantil.
Na questão do transporte público, o Alceu também foi o prefeito que investiu muito nas estações de transbordo. Foi ele que avançou nessas estações, e que depois não foi feito mais nada. Então acho que tem muitas qualidades, e que fazem bem para a nossa cidade.
Foi o último prefeito, como eu falei, que garantiu a participação social, algo extremamente importante para nós. Porque a gente vai retomar o Orçamento Participativo que começou lá com o Pepe, depois mudou de nome e virou Orçamento Comunitário. É uma proposta extremamente importante porque Caxias, do tamanho que é, para a gente resolver os problemas, precisa de muitas cabeças e muitas pessoas discutindo, pensando e debatendo o que deve ser prioridade.
Então eu tenho muito orgulho de ter o Alceu na nossa chapa e reencontrar várias pessoas que a gente teve caminhada dentro de movimentos sociais, dentro de movimentos de bairro, de lutas por melhorias na nossa cidade. A gente tem um time muito qualificado e muitas pessoas têm ajudado, mas a gente também tem esse olhar para a comunidade, que eu acho que é extremamente importante.
Gaúcha Serra: Com sua experiência como vereadora, e agora mais recentemente como deputada, o que a senhora entende que é o principal desafio hoje do município de Caxias do Sul?
Denise Pessôa: Eu vejo que Caxias do Sul já foi grande em vários temas. A gestão municipal já foi referência no SUS lá quando o Pepe foi prefeito. De todo mundo a gente ouve até hoje "a saúde era uma saúde antes do Pepe e outra depois”. Então acho que essa referência da saúde, a referência de uma cidade limpa. Caxias já passou até no Fantástico como uma das cidades mais limpas do Brasil. A gente foi capital da cultura, e vejo que a gente perdeu protagonismo.
Então, a gente precisa voltar a ser protagonista enquanto cidade, mas acima de tudo voltar a ser mais humana. E quando eu digo mais humana, é não naturalizar o sofrimento das pessoas, as filas de espera por tratamento e por consultas de especialistas. A gente tem hoje aquela fila do CES, que abraça a quadra.
Mas eu queria dizer que acho que o desafio hoje é reestruturar a saúde porque tudo espera, mas a saúde não. A demora nessa solução, muitas vezes as pessoas pagam com a própria vida.
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Gaúcha Serra: Como se daria essa reestruturação? Porque, já de alguns anos, o que se diz é que existe um problema de financiamento com relação à saúde. Como buscar esse financiamento, uma vez que existe uma dificuldade de se conseguir compor isso com o município e os vizinhos?
Denise Pessôa: Eu acho que a gente precisa dialogar com os municípios e tentar compor essa questão do financiamento para atendimento de leitos hospitalares, isso é uma coisa. Mas é importante dizer que a gente conseguiu aumentar 110 leitos desde o ano passado aqui em Caxias do Sul, no Hospital Geral, através de uma articulação nossa com o Governo Federal. Então, 110 leitos foram apenas no Hospital Geral, que atende toda a região, mas acho que quando a gente fala de reestruturar a saúde, a gente não pode só olhar a questão hospitalar. A gente precisa olhar antes.
Veja que a gente aumentou 110 leitos, o que é quase um hospital novo aqui em Caxias do Sul, e ainda tem 60, 90 pessoas esperando por leito. Então, isso é enxugar gelo. A gente precisa não só aumentar leitos hospitalares. A gente precisa trabalhar antes, lá na atenção primária. E na atenção primária, a gente tem que melhorar o atendimento nas UBSs.
Hoje as UBSs não são resolutivas. As pessoas não encontram o médico lá, ou quando são encaminhados demora para fazer o exame, demora para conseguir remédio. Às vezes, o que é um problema simples acaba se agravando, e aí a UPA está lá, lotada.
A gente vai reestruturar a atenção primária, e como fazer isso? A gente vai trabalhar com as estratégias de saúde da família, que são equipes multidisciplinares. Existe financiamento do Governo Federal para isso, e a gente trabalharia com mais médicos e mais profissionais atendendo lá na UBS, algumas com o atendimento ampliado, com a estratégia de saúde da família.
Mas não adianta ter atendimento ampliado e não ter profissional. Então a gente precisa ter o profissional lá, multidisciplinar, para conseguir fazer esse atendimento e ter mais resolutividade no início. Quando se tem essa resolutividade lá, ela não vai agravar tanto a situação no final.
A gente pensa também em ter um centro especializado para a saúde da mulher. A gente sabe que hoje, nas UBSs, tem faltado muito ginecologista, então a gente precisa fazer esse atendimento especializado para a mulher em um centro que possa fazer vários procedimentos específicos. Além disso, a questão de poder pensar residências médicas, que possa fazer essas parcerias com instituições de ensino e melhorar, também, o atendimento médico lá na UBS.
Gaúcha Serra: Ainda na saúde, uma das grandes queixas é a defasagem do repasse de verbas do Governo Federal e do Estado. O chamado Teto MAC ficou um bom tempo sem atualização. A senhora é do mesmo partido que a Presidência da República, e vê a possibilidade de evoluir nisso, de se buscar mais recursos para bancar a saúde em Caxias?
Denise Pessôa: É importante dizer que o Teto MAC é um recurso destinado para a média e alta complexidade, então o MAC é isso. Que a gente quando fala dele, é só para serviços de alta e média. Quando a gente olha hoje o Governo Federal, ele tem aumentado e atualizado a tabela SUS em alguns procedimentos. Não dá para fazer tudo numa tacada só, porque faz anos que não se atualiza nada.
Então, o Governo Federal tem feito as atualizações da tabela SUS em alguns procedimentos. Inclusive foi anunciado, acho que na semana passada ou 10 dias atrás, a ministra Nisia (Nisia Veronica Trindade Lima) anunciou alguns procedimentos que estariam sendo atualizados na tabela SUS. Além disso, a questão do Teto MAC, é importante dizer que quando se aumentou o repasse para o Hospital Geral, ele conta como Teto MAC de Caxias, porque média e alta é o hospital também.
Inclusive a gente já conseguiu R$ 13 milhões a mais por ano para o Hospital Pompéia. Isso é atualização do Teto MAC aqui de Caxias do Sul. Ah, mas não é da prefeitura? Todo o recurso entra pela prefeitura, e a maior parte dos serviços que fazem alta e média complexidade são os hospitais, então é um aumento desse Teto MAC, sim, é inclusive por articulação do nosso mandato junto ao governo federal.
Gaúcha Serra: Sobre a mobilidade de transporte coletivo, a senhora mencionou rapidamente que a cidade recém aprovou uma legislação de plano de mobilidade. Mas a senhora mesmo mencionou alguns desafios, especialmente com relação ao transporte coletivo, que tem sofrido no país inteiro com financiamento e sustentabilidade. Como é que é possível resgatar, e é necessário na sua visão, de fato, resgatar isso aqui em Caxias? Como fazer isso?
Denise Pessôa: A gente fez na nossa pré-campanha 27 reuniões por toda a cidade, eu e o Alceu Barbosa Velho. Inclusive o Pepe acompanhou várias, e nessas reuniões um dos temas que mais aparecia era a demanda sobre a questão da mobilidade urbana, a questão dos ônibus. Tem pouco ônibus, as linhas aumentaram e há linhas que estão fazendo dois, três bairros, e menos horários.
Então, o que eu vejo, e eu não estou reclamando da qualidade do ônibus, isso a gente não ouve reclamação, mas o sistema hoje não atende a demanda da nossa comunidade. As pessoas não têm segurança de pegar o ônibus, e a gente viu o relato de pessoas que perderam o emprego porque não tinha o transporte na hora adequada. Nos finais de semana, então, diminui muito, e a gente precisa reestruturar.
O Plano de Mobilidade é preciso dizer que demorou muito para sair. A gente já perdeu muito recurso. Eu, quando cheguei em Brasília, tinha possibilidade de trazer recurso para Caxias e sempre esbarrava no Plano de Mobilidade. Ah, não tem, então a gente não pode investir na área urbana de Caxias, pois tudo que era recurso que vinha pelo Ministério das Cidades tinha que ter o Plano de Mobilidade. Que bom que saiu.
Eu tive a oportunidade de estudar porque, afinal, também sou arquiteta e urbanista, gosto dessa matéria. O transporte público, ele é um direito constitucional, assim como direito à saúde, o direito à educação. Então o transporte público precisa ter atenção do município.
Veja que o Plano de Mobilidade aponta, como uma proposta, a construção de mais três estações de transbordo. A gente tem as estações de transbordo e teria mais três: uma na região do aeroporto, uma na região do São Ciro e outra no Fátima. Essas estações fariam com que a gente tivesse mais rapidez no transporte. Então tu consegue fazer tantos movimentos, dos bairros para as estações, e das estações para outras estações, sem passar pelo Centro. Tu diminui o fluxo, diminui distância e melhora a velocidade do transporte.
A gente precisa avançar na construção dessas estações e transbordo. Mas veja que elas são algo que foi pensado ainda lá no final do governo Pepe. Já tinha um planejamento de avançar nas estações de transbordo e a gente fez duas no governo Alceu, e depois nada mais. Então a gente precisa avançar nessas estações para garantir uma malha que dê mais velocidade pro transporte público. A gente vê que a questão do transporte coletivo precisa melhorar toda essa infraestrutura, para a gente ter mais velocidade.
Gaúcha Serra: A senhora pretende manter o subsídio da passagem do transporte coletivo?
Denise Pessôa: Veja que nos países mais desenvolvidos do mundo não existe transporte público sem subsídio. Todo mundo acha muito bonito na Europa, a gente vê o pessoal que anda em grandes velocidades e grandes distâncias com custo menor. Eu entendo que da forma como é colocado hoje o transporte público, claro que hoje tem subsídio, mas em geral quem paga o transporte público é só o trabalhador.
A pessoa que tem carro, as outras pessoas que não usam transporte público, que têm o conforto de sair com seu carro, acabam não contribuindo para um direito que é de todos. Então eu vejo que a questão de subsídio é algo que democratiza e garante o transporte, porque só o custo do transporte acaba ficando muito alto. Então eu defendo que tenha subsídio, mas tem que ser de forma organizada.
E pode ser de várias formas. Pensar um fundo próprio para recolher de várias fontes e diminuir o custo do transporte. A gente precisa pensar como criar esse fundo. Hoje tem todo aquele debate da tarifa zero. Óbvio que não é uma conta simples, e nem vou defender isso porque seria algo muito difícil de executar, e não vou prometer o que não dá para executar. Mas eu vejo que tem como diminuir o custo a partir da criação de um fundo, que seja destinado só para o transporte público.
Gaúcha Serra: Sobre as parcerias público-privadas. Nos últimos anos a cidade desenvolveu projetos nessa linha, e a gente sabe que o seu partido, do ponto de vista nacional, nem sempre é favorável e tem uma certa resistência a iniciativas do tipo, com parcerias com o setor privado. Um dos projetos em andamento nesse momento, ainda não viabilizado e em estudo, é para a educação. Como é que a senhora enxerga as parcerias público-privadas? É uma ferramenta que a senhora pretende usar num eventual governo seu?
Denise Pessôa: Primeiro quero dizer que o Partido dos Trabalhadores não é contra PPP, e a gente tem vários governos Brasil afora que demonstram isso. A gente já tem várias parcerias público-privadas no Brasil afora, então acho que é preciso primeiro deixar isso mais nítido. Talvez em algum momento muito para trás teve alguma divergência sim.
Mas não é para tudo. A gente defende que tenha serviço público de qualidade e que, sim, se priorize o serviço público porque ele não visa lucro, e quem vai fazer uma parceria público-privada tem que ter sempre a margem de lucro para quem executar esse serviço. Mas sobre a questão da parceria público-privada, veja que o governo municipal criou uma secretaria e tem feito debate sobre várias parcerias público-privadas. Ele tentou fazer a da Maesa, que foi mal feita e não saiu do papel, ficou dois anos ali, debatendo, e quando apresentou, teve que recuar. Então algo que não foi bem elaborado.
Foi pensado na PPP da Festa da Uva. Eu, como presidia a Câmara de Vereadores, fui vice-presidente da Festa da Uva lá na primeira Festa da Uva do governo. O prefeito um dia me disse "olha, a gente quer fazer uma PPP da Festa da Uva." Nós também aceitamos, e nós inclusive tínhamos colocado no programa de governo do Pepe essa proposta. "Temos acordo", eu disse, e não vai ter divergência porque a Festa da Uva é uma estrutura grande e é subutilizada. Então ela pode ser sim também um fruto de receita para o município, tendo claro as reservas de datas para que a prefeitura possa utilizar para alguns eventos.
Mas passou quatro anos e nada foi feito. Então eu não quero ser pessimista, mas uma PPP da Educação Infantil tem um tempo muito longo para resolver um problema que tem que ser mais urgente. Acho que tem como combinar, e vamos ver se vai sair até o final do ano essa PPP, mas eu tenho um pouco de pé atrás sobre sair de fato. Eu acho que tem várias formas para resolver as vagas da educação infantil e que talvez até possa ter uma PPP, mas não assim, um longo tempo, porque o problema é mais urgente.
A gente precisa buscar espaços em escolas já hoje, em escolas municipais a gente pode ampliar uma sala e ter mais uma turma da educação infantil. A gente pode buscar prédios do Estado que não estão sendo utilizados, e a gente pode construir escolas, inclusive, porque hoje tem também recurso do Governo Federal. Com o que a gente gasta hoje comprando vagas, a gente já poderia construir muitas escolas.
Então pensar em construir escolas, especialmente para idade de creche. Mas eu acho que a gente tem que ir buscando alternativa para ser mais rápido, porque a mãe que está lá querendo uma vaga da educação infantil para poder trabalhar, não vai esperar 10 anos ou mais, até construir uma creche. Então a gente precisa pensar isso, e pensar toda essa questão da migração, das pessoas que vêm, para poder também atender.
Mas também avaliar essa questão dos dados do IBGE, que diz que hoje a gente está tendo menos filhos. Então se a gente tiver uma política de médio a longo prazo para construir muitas escolas de educação infantil, talvez tenham pouco tempo de validade. A gente que fazer essa essa conta e essa análise.
Gaúcha Serra: Sobre essa questão que está entrelaçada com a educação, a capacidade de investimento do setor público de Caxias do Sul. Ele tem diminuído nos últimos momentos, nas últimas gestões. A verba disponível para investimento é cada vez menor. Como mudar essa lógica? Como buscar mais recursos para investir?
Denise Pessôa: Hoje a gente voltou a ter um Governo Federal que tem possibilidades de tu acessar recurso, porque a gente não tinha. Não tinha mais editais do Ministério da Cidades, não tinha mais editais de PAC, não tinha mais essas possibilidade de conseguir tantos recursos.
Hoje a gente tem. Nesse um ano e meio de mandato do presidente Lula e eu, que sou deputada federal, eu consegui trazer para Caxias cerca de R$ 63 milhões, de diversas áreas. Tem áreas que não são relacionadas à prefeitura? Tem. São áreas da saúde, tem viatura para a Polícia Rodoviária Federal e para as polícias nossas, onde consegui algumas viaturas.
Mas tem muito recurso que veio para a prefeitura. Desde equipar parques para Educação Infantil em várias escolas do município, e que até agora não foi comprado. A gente tem R$ 6 milhões para a pavimentação da Claudino Costa, que é uma estrada que liga Santa Lúcia à região do Cruzeiro, e até hoje, faz um ano que esse recurso está na prefeitura, não saiu do papel.
A gente tem muito recurso, mas que não sai do papel. Então acho que a gente tem que ter uma velocidade na gestão, que hoje a gente não está tendo. Tu estava falando aqui da preocupação de questão de recursos. Estou te dizendo que a gente tem muito recurso hoje, que a gente já conseguiu captar junto ao governo federal, também através de emendas, mas que até agora não saiu do papel.
Então a gente precisa acelerar gestão e projeto, para conseguir avançar na resolutividade. Vai ficar quanto tempo esse dinheiro no cofre da prefeitura?
Gaúcha Serra: Um tema que tem sido muito presente na cidade é a zeladoria e o serviço de recolhimento de lixo. Na sua visão, como é que está esse serviço, e se pode melhorar, onde está o gargalo? Qual é o caminho que se pode seguir para devolver essa imagem de Caxias uma das cidades mais limpas do país?
Denise Pessôa: Eu estou na vida pública, na política, desde 2009, e participei de todas as eleições de lá para cá. Até uma antes, mas ainda era muito jovem. E eu nunca tinha visto esse tema ser um problema na cidade. Eu nunca tinha visto dizer que a cidade estava suja ou que não estava se fazendo a capina. Então isso é um fenômeno desse governo, não é algo que é normal, de todos os governos anteriores. Isso é o anormal.
Então eu vejo que faltou uma gestão que cobrasse os resultados necessários. A gente pensa em criar um sistema de gerenciamento de zeladoria, que é uma plataforma online que unifique a gestão dos serviços de zeladoria. Então a gente vai ter a possibilidade de fazer o pedido online, mas também ter esse mapeamento gerado a partir das solicitações da comunidade e dos serviços realizados. Então com esse cruzamento tu consegue enxergar o todo.
A gente sabe que agora foi criada a Coordenadoria de Governança na prefeitura, que eu acho que é extremamente importante, que tem um pouco dessa função de gerenciar as informações, de fazer toda esse cruzamento de dados. Então a gente vê que essa possibilidade de ter um sistema, de gerenciamento e zeladoria, eu acho que ele é extremamente importante.
Eu não sou daquelas que acha que precisa criar mais uma secretaria, mais um serviço, que aumente o custo para fazer algo que parece tão básico. Eu vejo que tendo um sistema que gerencie e melhore a gestão, acaba não tendo esse custo da secretaria e sendo mais eficiente.
Gaúcha Serra: Caso Magnabosco. A senhora é favorável a um acordo?
Denise Pessôa: Em relação a essa questão do Magnabosco, eu vi as últimas notícias trazidas pelo prefeito Adiló, em que ele fala que a ministra Carmem Lúcia faria uma reunião de conciliação para dialogar, para tentar fazer uma negociação. Eu sou a favor do diálogo sempre, e não sei como está esse agendamento, mas eu defendo que essa conversa, essa audiência, aconteça após o período eleitoral.
Seria o mais adequado que o prefeito tentasse conversar com a ministra Carmen Lúcia ou requeresse que essa audiência fosse pós período eleitoral, para que, caso ele seja reeleito, ou eu, ou os demais candidatos que estão concorrendo, para quem for eleito participar dessa negociação. Eu acho que seria mais adequado, já que o próximo prefeito ou prefeita vai ter que provavelmente dar acordo às condições dessa negociação. Então eu vejo que seria mais adequado esperar o resultado eleitoral.
Caso o prefeito seja reeleito, estaria legítimo para fazer essa negociação. Eu vejo que seria algo melhor construído, mas nesse ponto, todo diálogo é bem-vindo.
Gaúcha Serra: Eu queria abordar com a senhora a resiliência climática. A gente teve em maio uma catástrofe aqui no Estado e esse tema está cada vez mais presente. Em que caminho Caxias do Sul deve seguir para resistir melhor a eventos como que a gente teve?
Denise Pessôa: Eu quero primeiro dizer que o Alceu foi o prefeito que começou a trazer esse debate. Ele começou a implantar os tanques de contenção, naquela linha das cidades esponja, de começar a reter água para diminuir a velocidade e diminuir as áreas de alagamento.
Eu fui criada no movimento comunitário com o meu pai, lá no Garbin, uma região que alaga e tinha esse problema, e como arquiteta acabei apresentando uma proposta lá em 2011 na Câmara de Vereadores, e que depois foi aprovada também pelo governo Alceu. Ele sancionou a lei que cria cisternas, em um projeto que exige cisterna para construções com mais de 800 metros quadrados de área impermeável.
A cisterna também tem uma função de recolher essa água, porque a gente mora numa região muito íngreme. Então qualquer acúmulo de água tem a tendência de ganhar velocidade e em alguns pontos alagar, especialmente as áreas mais baixas. A gente conseguiu com essa lei, que também vem nessa construção de uma cidade mais resiliente, diminuir toda essa água e reter um pouco. Então são duas medidas que a gente já mostrou que a gente apresentou, e que hoje estão incorporadas na legislação municipal.
Caxias do Sul tem um estudo, que é do IPT, que é a carta geotécnica de aptidão à urbanização de Caxias do Sul, e nesse estudo ali tem várias medidas que são trazidas e são feitos o levantamentos do território da nossa cidade. Já existe desde 2022 um estudo trazendo essas áreas, como é o terreno e algumas condições. Eu acho que a gente precisa aproveitar todos esses estudos, e o mapeamento de área de risco também já feito há algum tempo.
A gente precisa trazer tudo isso, fazer cruzamentos, e a gente sabe que a Universidade de Caxias do Sul também está fazendo um estudo junto com a prefeitura. Traduzir isso no plano diretor e traduzir isso para a política de habitação, porque muitas pessoas estão migrando das áreas de alagamento e vindo para cá, e não dá para essas pessoas correrem risco em área de deslizamento, pois aqui a gente também tem muitas áreas íngremes.
Agente precisa reestruturar a Defesa Civil, e fazer com que todos esses estudos sejam traduzidos no plano diretor, para avançar no planejamento da nossa cidade e na regulamentação de zonas de ocupação controlada, que são áreas que a gente precisa ter uma atenção muito especial.