O último dia de audiências de testemunhas do processo de cassação que investiga o vereador de Caxias do Sul, Lucas Caregnato (PT), por quebra de decoro parlamentar começou por volta das 14h desta segunda-feira (3) o. As manifestações foram de quatro testemunhas apontadas pela defesa de Caregnato. A primeira a falar foi a historiadora Luiza Iotti. Na sequência, se manifestaram o ex-vereador e ex-vice-prefeito Edio Elói Frizzo; o historiador Ramon Tissot; e o engenheiro mecânico e líder comunitário Orlando Michelli. Lucas Caregnato foi o último a dar sua versão do ocorrido e encerrou a etapa de audiências.
Na semana passada, 11 testemunhas prestaram depoimento. Na segunda (26), cinco representantes da prefeitura foram ouvidos. Um dia depois, na terça-feira (27), seis pessoas depuseram em favor de Lucas Caregnato, apontadas pela defesa. Caregnato se envolveu em tumulto durante audiência pública na noite de 25 de abril, na prefeitura, que tratou sobre a ocupação da Maesa e que envolveu a chefe de gabinete do Executivo, Grégora Fortuna dos Passos.
Como nos outros dias de audiências, o clima na Sala de Comissões Geni Pettefi era tranquilo e amistoso. Entre uma testemunha e outra, os vereadores presentes interagiam entre si, com conversas e até brincadeiras. No seu depoimento na tarde de ontem, Caregnato afirmou que sua contundência ocorreu por estar indignado com a situação. Ele reforçou que considera inadequada a conduta do cargo em comissão da prefeitura. Além disso, o vereador disse que é compreensível a exaltação quando se discute temas importantes e há confronto de ideias. Por fim, ele ressaltou que no dia seguinte pediu desculpas aos envolvidos.
A Comissão Processante é formada por Alexandre Bortoluz (PP), presidente; Sandro Fantinel (PL), relator; e Clóvis “Xuxa” de Oliveira (PTB), integrante. A comissão aguarda documento solicitado à Polícia Civil para encerrar a fase de instrução. A defesa de Caregnato terá, então, cinco dias para enviar a defesa final do caso, e então começa a produção do relatório. O caso deve ser votado em plenário até o dia 6 de agosto. São necessários 16 de 23 votos favoráveis para cassar o mandato de um vereador.
Leia trechos dos depoimentos:
Luiza Iotti, historiadora
“Admiro muito o que o Lucas (Caregnato) fez, batalhando para que um grande número (de pessoas) pudesse participar. Conheço o Lucas há muitos ano, admiro e respeito a trajetória dele. Assisti aos vídeos (do tumulto), de forma nenhuma (houve diferenciação no tratamento de Caregnato com homens ou mulheres). Houve exaltação de forma geral. Ele (Maico Pezzi, CC da prefeitura) foi para cima do Lucas, pelo o que pude ver nos vídeos, ele que começou toda a confusão, e depois vem a (chefe de gabinete) Grégora (Fortuna dos Passos) num momento que já tinha exaltação no ar. Não vejo que Lucas tenha mudado a forma de tratamento de um (secretário de Gestão e Finanças, Cristiano Becker) para o outro (Grégora). Foi um momento em que todo mundo estava exaltado, por parte da prefeitura e por parte dos manifestantes.”
Elói Frizzo, ex-vereador e ex-vice-prefeito
“É a coisa mais normal que tem, dar um empurrãozinho, um xingamento. Se isso é motivo para se propor cassação, eu não entendo mais nada de democracia. Presenciei episódios em pleno regime militar que não se agia assim, no sentido de censurar as pessoas. Faltou, por parte de quem estava gerindo (a audiência), ter deixado claro que a porta ficaria aberta, a se evitar os empurrões e palavrões de ambos os lados. O restante faz parte do jogo democrático, onde interesses estão sendo contrariados. Ele se manifestou como se manifesta um parlamentar na defesa de uma posição. Com toda minha experiência de anos no poder Legislativo, no máximo, com muita força de vontade, (esse caso renderia) alguma representação na Comissão de Ética. Está se usando um remédio onde se quer matar o paciente, e não curá-lo. As mulheres que temos aqui na nossa cidade são mulheres muito capazes, têm enfrentamentos com homens de maneira igualitária sem problema nenhum, não precisam de ninguém para defendê-las.”
Ramon Tissot, historiador
“Assisti aos vídeos (do tumulto). Me pareceu muito estranho que o pessoal não tenha entrado. Não vi nenhum tipo de atitude (por parte de Caregnato) diferente daquilo de quem está na vida pública, nesse tipo de debate sobre tema tão importante, que via de regra são acalorados. Esse tipo de discussão de agentes públicos me parece normal. Em vários momentos quando temos direitos não sendo garantidos, as pessoas colocam mais ênfase para que sua voz seja ouvida, principalmente perante absurdos. Servidores públicos têm que ser tratados com igualdade independente do gênero, e pelo o que percebi nas imagens, o tom foi muito parecido entre os agentes de governo homens e mulheres.”
Orlando Michelli, líder comunitário
“Eu cheguei (na audiência) quando a reunião já estava acontecendo. Depois de alguns minutos, algumas pessoas chegaram para também acessar. Veio do meu lado o vereador Lucas, que disse ao porteiro que deixasse as pessoas entrarem. Vi que o Lucas pedia para o rapaz abrir a porta, que dizia não poder abrir porque as pessoas não podiam entrar. Sei que, depois de um “diz que sim diz que não”, abriram a porta, aí o Lucas saiu e disse que quem estava de fora ia entrar, e o rapaz disse que não. O Lucas para algumas coisas tem um tom elevado, acredito que por ser professor.”
Lucas Caregnato, vereador
“Estavam na audiência pública vários secretários, poucas pessoas da comunidade e havia espaços vagos. Ouvi uma discussão lá atrás (nos fundos do auditório). O tumulto que se gera é o impedimento por parte do Maico (Pezzi de Souza, CC da prefeitura), por conta disso eu levantei, e então tinha sido fechada a porta para a vereadora (suplente) Andressa (Marques, do PCdoB). Quando fui sair, ele se colocou entre eu e a porta. Tinham umas 10, 12 pessoas sem os instrumentos, eu fiquei ali, e ele (Maico) me empurrando, dizendo que não podia sair. Sou parlamentar e já vivenciamos alguns momentos aqui (na Câmara) bastante tensos, de pessoas que chegaram aqui e trataram vereadores de formas desrespeitosas, e os ânimos se acirraram."
Foram cobranças contundentes, fiz da mesma forma aos três secretários
LUCAS CAREGNATO
Vereador de Caxias do Sul
"O que me indignou naquele momento é que estava todo mundo exaltado, muito brabo, vi que a porta tinha sido fechada na cara da Andressa, nisso vem a Rose (Frigeri, vereadora do PT) e (o Maico) empurra ela. Fui ofendido, e ofensa começa quando alguém peita a outra pessoa. Eu simplesmente abri o trinco de cima e o de baixo, diante dessa confusão, porque uma vereadora tinha sido empurrada (Andressa) e a outra estava sendo “amassada” (Rose). A contundência da minha fala se dá nesse momento de audiência pública, discutindo um dos temas mais importantes da cidade. Foram cobranças contundentes, fiz inicialmente com o cargo em confiança, fiz isso com o secretário Cristiano, e com a chefe de gabinete Grégora. Fiz a cobrança da mesma forma aos três secretários (Cristiano, Grégora e procurador-geral do município, Adriano Tacca)."
"Sou afro-ítalo, então eu falo gesticulando, quem me conhece da tribuna sabe. No dia seguinte me manifestei sobre o fato, expliquei o que tinha acontecido, e disse que se minha contundência tivesse ofendido o secretário Cristiano e a secretária Grégora, eu pedia escusas.”