O vereador de Caxias do Sul, Lucas Caregnato (PT), divulgou um novo vídeo nas redes sociais, no início da noite desta quarta-feira (3), em que apresenta detalhes da versão dele a respeito do tumulto que ocorreu na última audiência pública sobre o projeto da prefeitura para ocupação do complexo da Maesa. No material, é mostrado o início da confusão pelo lado de fora do auditório — um ângulo diferente do exibido por GZH e publicado anteriormente pelo próprio vereador Caregnato, que exibia o caso pela visão de dentro do auditório. Desde a última terça-feira (2), o petista é alvo de um processo de cassação, acusado de quebra de decoro parlamentar.
Caregnato narra as imagens à medida que a situação ocorre, para "restabelecer a verdade", nas palavras do vereador. O vídeo mostra a vereadora suplente Andressa Marques (PCdoB) assinando a lista de presença da audiência pública. Em seguida, ela abre a porta do auditório e é impedida de entrar pelo cargo de confiança (CC) da prefeitura, Maico Pezzi. É o mesmo CC que Lucas Caregnato e Rose Frigeri (PT) acusam de tê-los empurrado e ofendido.
— Os fatos que ocorreram naquele dia foram distorcidos ou se criou uma falsa narrativa. Nós temos a vereadora Andressa, suplente desse parlamento, participando democraticamente da audiência publica, assinando a lista de presença. Ela assina a lista de presença, conforme o regulamento estabelece. O fato que se demonstra aí é a vereadora numa audiência pública, depois de ter tentado assinar a lista de presença, ela abre a porta e é empurrada por um CC do governo — diz Caregnato, no vídeo.
Na sequência, ele justifica a atitude de abrir a porta durante a audiência pública:
— Eu, como vereador, nesse momento intervi, na medida que havia o arbítrio de uma cidadã, tentando ser restringida de participar de uma audiência pública. Abri a porta para que a vereadora pudesse adentrar no recinto de uma audiência que deveria ser pública.
Prefeitura não investiga atuação do CC
Quanto ao cargo em comissão (CC) da prefeitura, identificado como Maico Pezzi e servidor da Secretaria de Parcerias Estratégicas — pasta responsável pelo projeto de concessão patrocinada para a Maesa —, a prefeitura afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que, até o momento, não há investigação em torno do caso. "Pessoas que estavam no local não confirmam esse relato de empurrão ou ofensas por parte dele", diz a nota enviada.
Pezzi é acusado pelos vereadores Lucas Caregnato e Rose Frigeri de tê-los empurrado e ofendido, assim como a suplente Andressa Marques. Rose afirma ter machucado a mão em função disso e registrou boletim de ocorrência contra o CC. No documento, ela afirma que foi "empurrada de maneira truculenta" por Maico Pezzi, "às vistas do secretário Cristiano (Becker, de Gestão e Finanças) e da secretária Grégora (Fortuna dos Passos, chefe de Gabinete)".
— O município deveria ter comigo e com a própria vereadora (suplente) Andressa a mesma solidariedade que teve com a secretária (Grégora). Agora virou todo mundo feminisrta, solidário com as mulheres. Acho que o prefeito (Adiló Didomenico) deveria ser solidário com nós também. Pensei em fazer (uma denúncia administrativa contra o CC), mas com essa confusão (processo de cassação de Caregnato), acabei não decidindo ainda o que fazer. Vou ver qual o encaminhamento que vou dar, foram muitas atitudes truculentas, não só em relação a mim. É até mais grave (a atitude do CC em relação com a de Caregnato). Lucas teve uma atitude impulsiva, mas ele não encostou em ninguém, e esse cara (Pezzi) encostou em mim e na Andressa também. Agora vamos ter que ver o que fazer, estou pensando seriamente — explicou a vereadora Rose Frigeri.
Relembre o caso
Na última audiência pública sobre o projeto de ocupação e gestão do complexo da Maesa, que ocorreu no dia 25 de abril no auditório da prefeitura, alguns manifestantes protestavam do lado de fora do espaço, que estava com a porta fechada e com assentos disponíveis. Além de se posicionarem contrários ao projeto da prefeitura que estava sendo apresentado, o grupo pedia para entrar no espaço e participar do evento. Neste momento, os vereadores Lucas Caregnato e Rose Frigeri, também do PT, foram até a entrada do auditório, e um servidor da prefeitura tentou impedir quando Lucas abriu a porta.
Caregnato e Rose dizem ter sido empurrados pelo CC, o que irritou o vereador petista, que começou a discutir de forma exaltada inicialmente com o secretário Cristiano Becker e, na sequência, com a chefe de Gabinete. Caregnato afirmava aos secretários que havia sido agredido e ofendido pelo servidor da prefeitura, e demandava que ele fosse retirado do local.
Na sessão da Câmara de quinta (27), a vereadora e procuradora especial da mulher na Casa, Tatiane Frizzo (PSDB), levou ao plenário um vídeo com um trecho do tumulto e repudiou a forma como Caregnato discute com Grégora, classificando como "violência verbal contra a mulher". Na sequência, mais colegas do Legislativo comentaram o conteúdo, e lamentaram as atitudes do petista. Um dia antes, na quarta (26), a prefeitura de Caxias divulgou uma nota de repúdio contra o tumulto "causado por um pequeno grupo de manifestantes", e citou Caregnato dizendo que ele "forçou a porta para permitir acesso irrestrito, danificando-a e insultando verbalmente aqueles que tentavam manter a ordem".
Em nota, publicada no último sábado (29) em um vídeo em redes sociais, Lucas Caregnato diz que recebeu com "surpresa" o pedido de cassação do seu mandato por um "eleitor que não estava presente no tumulto". Além disso, ele ressalta que é papel do vereador defender o cidadão e que a atitude dele no momento foi uma "ação reativa sem direcionamento pessoal".
Na última terça-feira (2), a Câmara aprovou a abertura do processo de cassação contra o vereador Lucas Caregnato. O pedido de cassação foi protocolado na sexta-feira (28) pelo eleitor Lucas Ribeiro Suzin, que acusa Caregnato de quebra de decoro parlamentar após o tumulto na audiência pública.
No final da sessão, foi sorteada a Comissão processante que investigará o caso: Alexandre Bortoluz (PP) será o presidente, Sandro Fantinel (sem partido) será o relator e Clóvis Xuxa (PTB) será o vogal (integrante). Essa Comissão tem cinco dias a partir desta terça (2) para notificar o vereador Lucas Caregnato da abertura do processo, com cópia da denúncia e documentos relativos ao processo. Para concluir todos os trâmites, são 90 dias contados a partir da notificação. O vereador perde o mandato se, na votação final, tiver o voto favorável à cassação de pelo menos dois terços dos parlamentares (16 de 23).