O vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel, concedeu entrevista na manhã desta quarta-feira (1º) à RBS TV, e se posicionou a respeito das suas declarações preconceituosas na sessão da Câmara de Vereadores de terça-feira (28). Na ocasião, Fantinel pediu aos produtores e empresários para que "não contratem mais aquela gente lá de cima", e disse dos baianos que "a única cultura que eles têm é tocar tambor na praia". Segundo o parlamentar, se esta conversa fosse realizada "em outro momento e em outro contexto, não teria nada de mal". Além disso, ele pediu desculpas pelas falas e garantiu que somente citou a Bahia por estar envolvida no processo do resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves.
Na entrevista, Fantinel tentou explicar que a intenção da sua manifestação no plenário era de alertar os agricultores sobre um suposto golpe que usaria a questão da situação análoga à escravidão.
— A única coisa que eu falei, e retirei dos anais da Câmara, pedi desculpas em plenário, porque sabe que quando a gente tá no calor da conversa, da fala, a gente diz palavras que não é aquilo que a gente quer dizer, foi que os baianos gostam de tambor e de ficar na praia. Se a gente fosse ter essa conversa num outro momento e num outro contexto, a pessoa iria me dizer "é verdade, é a cultura deles", não teria nada de mal. O problema é que entrou num contexto que foi interpretado como uma forma de falar mal deles. Existiram crimes muito mais graves do que aquilo que eu fiz, que eu, no meu coração, não fiz crime nenhum. Então retiro, peço desculpas, não era a minha intenção. Se fosse em um contexto diferente não teria problemas, mas peço desculpas. O importantíssimo: eu somente citei a Bahia porque a Bahia está presente no processo de Bento Gonçalves — declarou Fantinel.
Confira os principais trechos da entrevista do vereador à RBS TV:
A respeito dos argentinos:
"Eu já disse no começo que na questão de Bento houve realmente analogia à escravidão porque houve agressões, ameaças e tantas outras coisas mais. Quando eu falei dos argentinos, foi um agricultor que me disse o seguinte: "teve um tempo atrás que eu contratei uns argentinos para trabalhar aqui e seguraram o ambiente limpo, quando saíram me entregaram o ambiente limpo e ainda me agradeceram por tudo". Por isso que eu citei os argentinos. Aí eu disse: "olha, pessoal, se vocês acham que os caras lá de cima não trabalham bem, então peguem os argentinos". A minha fala era essa. Eu, sinceramente, do fundo do coração, estou na vida pública há muitos anos. Eu nunca vi o que eu disse ser um crime, ser uma coisa errada, porque se tu estudar o que eu falei, eu não falei nada demais."
"Porque a minha esposa, o pai dela é africano, então não existe essa história de dizer que eu sou racista"
SANDRO FANTINEL
Em entrevista à RBS TV
Preconceito nas declarações:
"Eu poderia ter falado em um tom mais baixo, poderia ter explicado de uma forma diferente. No momento em que eu disse "os argentinos", "caras lá de cima", eu juro por Deus que naquele momento não passou pela minha cabeça diferença de cor ou raça. Eu me referia a pessoas, não cor, raça ou credo. Porque, a minha esposa, o pai dela é africano, então não existe essa história de dizer que eu sou racista. Eu peço desculpas ao pessoal da Bahia, que não tem culpa. Vocês que me mandaram centenas de mensagens, de ofensa, que eu enlouqueci essa noite, eu digo para vocês: eu não estou brabo com vocês, eu não estou triste com vocês. Sabe por quê? Porque vocês não têm culpa, vocês foram manipulados por um sistema que forjou uma conversa que queria dizer uma coisa e eles deram a entender outra. Infelizmente, na política isso acontece, principalmente quando tem um grupo maior que quer destruir um grupo menor que atrapalha."
Interpretação das declarações:
"O Fantinel é o único vereador de Caxias do Sul que tem o maior projeto social depois do Frei Jaime (Bettega, no projeto Mão Amiga), que é o Agro Fraterno, que alimenta 2,2 mil famílias todo mês a custas minhas. Então, se eu não gostasse dos pobres, tivesse algum tipo de racismo, algum tipo de preconceito, eu não seria essa pessoa, eu não faria isso. Me desculpem se foi mal interpretada minha fala, não era o que eu quis dizer. A questão dos baianos com a sujeira foi uma montagem. Eu me referia à questão que aconteceu aqui em Fazenda Souza. Em nenhum momento Sandro Fantinel falou "os baianos são sujos". Foi isso que foi lançado na mídia, que depois montou o resto. Existiram crimes muito mais graves do que aquilo que eu fiz, que eu, no meu coração, não fiz crime nenhum, mas tudo bem. Estão me destruindo, eu e a minha família. Minha esposa só chora, meu filho tem medo de ir para a faculdade e eu já recebi quatro ligações com ameaças de morte, quatro ligações me dizendo que vão me matar quando eu chegar na Câmara por causa de uma fala que, na realidade, não era a intenção que eu tinha e que não era aquilo que eu queria dizer."
"Existiram crimes muito mais graves do que aquilo que eu fiz, que eu, no meu coração, não fiz crime nenhum, mas tudo bem. Estão me destruindo, eu e a minha família."
SANDRO FANTINEL
Em entrevista à RBS TV
Citação a respeito dos baianos:
"Eu somente citei a Bahia porque a Bahia está presente no processo de Bento Gonçalves. Se fosse o pessoal de Santa Catarina, eu teria citado Santa Catarina, teria citado o Paraná. Então não foi que eu subi na tribuna para falar dos baianos. Muito pelo contrário. A minha pauta era essa de falar que estão acontecendo alguns casos aqui no interior e eu citei o caso de Bento porque é o que está na mídia. O que aconteceu em Bento, com certeza, não se faz isso com seres humanos, eu abomino esse tipo de coisa."
Avaliação sobre ter cometido crime ou não:
"A população é muito dividida hoje, vocês sabem disso. Hoje, temos uma polarização muito grande. O povo da direita entendeu a minha fala, alguns me puxaram a orelha, por isso que eu estou me retratando. Mas todos eles sabem o que o Sandro é e o que o Sandro não é. Se me cassarem, eu serei o mártir da direita em Caxias do Sul que foi condenado, cassado, por algo que não era tão grave quanto diziam, porque não foi isso que eu quis dizer. Ou seja, o crime, ao nosso ver, não é grave ao ponto de tirar o mandato de uma pessoa que foi colocada pelo povo que tanto trabalha no interior."
Noite após repercussão e ausência na Câmara:
"Eu passei muito mal. A minha esposa não dormiu, chorou a noite inteira, o meu filho andava pela casa para frente e para trás, apagando as mensagens de ofensa. A gente não dormiu um minuto, eu passei mal do estômago. Não consegui comer nada porque atacaram a minha família. Se fosse só eu, a gente tem coro mais grosso, a gente está acostumado. Agora, quando tu vês um filho chorando, com medo de ir para a escola, a esposa do lado desesperada, como é que você se sente? Eu passei uma noite de horrores. Vou até procurar um médico, porque não estou me sentindo bem. Sei que existia a possibilidade de que se eu fosse para a Câmara hoje (quarta-feira), talvez eu fosse agredido, existia essa possibilidade. Não estou dizendo que vai acontecer, mas por esse motivo optei de ficar com a minha família, tentar acalmar a situação.
"O que aconteceu em Bento, com certeza não se faz isso com seres humanos, eu abomino esse tipo de coisa."
SANDRO FANTINEL
Em entrevista à RBS TV
O que fica após o episódio:
"O que fica para mim desse episódio é que são situações tristes. Em primeiro lugar que, ao meu ver, vou pensar mais antes de pronunciar algumas palavras, algumas situações, vou me polir um pouco mais. Mas eu não posso deixar de dizer que coisas que a gente podia dizer antes não se pode mais dizer agora. A gente tem que se acostumar com esse novo sistema de governo, onde eles podem dizer o que eles querem e a gente não pode. Tanto que o certo seria eu agora, se existisse uma justiça, ter direito de processar esse pessoal que montou essa conversa forjada para criar todo esse pânico no país inteiro para derrubar a minha pessoa. Pesquisem o passado do Fantinel, vocês vão saber quem ele é, não precisa eu explicar."