A cada quatro anos, a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul é renovada a partir das eleições municipais. Alguns vereadores já experientes permanecem para mais um mandato, outros não se reelegem e outros chegam para a sua primeira experiência parlamentar. Porém, em 2023, o Legislativo caxiense também terá uma renovação. Eleitos para a Câmara dos Deputados, os vereadores Denise Pessôa (PT) e Mauricio Marcon (Podemos) se tornarão deputados federais a partir de 1º de fevereiro de 2023 e abrirão suas vagas para dois novos vereadores.
A suplente Rose Frigeri (PT) assume a vaga da atual presidente da Casa, Denise. No lugar de Marcon, entra o suplente Ricardo Zanchin (Novo) — conhecido como Prof Zanchin na campanha de 2020. Os dois são primeiros suplentes dos respectivos partidos pelos quais Denise e Marcon foram eleitos. Nessa situação, existe uma particularidade. Apesar de Marcon estar atualmente no Podemos, o parlamentar foi eleito com uma cadeira do Novo, portanto, a vaga continua sendo da sigla.
Segundo a assessoria do Legislativo, ainda não há uma data específica para Rose e Zanchin assumirem o mandato. Apesar de ideologias opostas e partidos diferentes, Rose e Zanchin têm algumas similaridades. Os dois são professores e têm a educação como uma das suas bandeiras para o futuro mandato. Além disso, as eleições de 2020 marcaram a primeira experiência dos dois em concorrer a um mandato.
O Pioneiro conversou com cada um dos novos parlamentares. Confira a seguir.
Rose Frigeri (PT)
Caxiense da gema, como costuma falar, Roselaine Frigeri, 59 anos, mais conhecida como apenas Rose, é formada em Direito e História pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), e mãe de um jovem de 18 anos que também pretende seguir a área do Direito. Conta com orgulho que é filha de pai e mãe caxienses e uma apaixonada pelas suas duas áreas de atuação. Pela manhã, atua como professora da rede municipal de Caxias, lecionando a disciplina de História, e, à tarde, atende no seu escritório de advocacia.
— Até hoje, eu vou ser bem sincera, não sei escolher entre uma e outra — afirma Rose.
Desde 2021, quando a atual legislatura da Câmara foi empossada, Rose já assumiu cinco vezes o mandato no Parlamento. Três vezes em 2021, e duas em 2022. No total, foram 120 dias como vereadora, ou seja, quatro meses. Segundo ela, no próximo ano, pretende defender as pautas da educação, igualdade na luta das mulheres e de todos os segmentos que são discriminados, respeito aos idosos, agricultura familiar e economia solidária. Apesar de ter um apreço maior por alguns assuntos, Rose destaca que um vereador precisa intervir, estudar, ouvir e trabalhar em todas as áreas da cidade.
Infância marcada pelo senso de solidariedade e justiça
"Desde os 13 anos eu queria fazer direito. Inclusive, eu li (nessa idade) a Constituição de 1988 e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desde pequena, eu aprendi em casa, com os meus pais e com os meus irmãos, a questão da justiça [...] Meu pai foi desde sempre sindicalista. Na época da ditadura, eu tinha sete anos e o meu irmão tinha 16 anos. Ele foi preso político da ditadura. Eu lembro deles (os militares) entrando em casa, pegando o meu irmão e levando ele. Nós ficamos meses sem saber onde ele estava preso, ele foi muito torturado. O meu pai era do Sindicato dos Metalúrgicos, teve intervenção dos militares no sindicato. Eu via desde os cinco anos, o meu pai escondendo livros e materiais no porão da casa. A minha mãe era dona de casa, mas ela sempre falava para a gente defender a justiça. Então, esse senso de solidariedade, de justiça, de cidadania é muito normal na minha vida."
Início da vida política
"Com 11 anos, eu participei da minha primeira eleição para o Centro Cívico. Concorri como presidente e fui eleita. Ali, começou a minha participação efetiva na política porque a política não é só partidária. No Ensino Médio, eu estudei no São Carlos, e lá eu participei do Grêmio Estudantil. Na faculdade, eu fui a primeira mulher coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Enquanto estudante, eu sempre fui da entidade máxima representante dos estudantes. Quando fui professora da UCS, participei da Associação dos Docentes da UCS (ADUCS). Fui durante quatro anos da coordenação do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv). Eu nunca deixei de participar dos movimentos democráticos."
Forte atuação nos "bastidores" do PT
"No partido, fui do diretório municipal do PT, da executiva regional e estadual. Fui uma das coordenadoras da campanha de Olívio Dutra ao governo do Estado em 1994 e 1998. Fui chefe de gabinete do Pepe Vargas quando ele foi deputado estadual, antes de ser prefeito de Caxias. Fui coordenadora da bancada do PT quando se elegeu o primeiro vereador de Caxias do Sul, que foi o Pepe. Quando o Pepe assumiu a prefeitura eu participei de algumas secretarias. A minha vida pessoal e o exercício da cidadania se misturam muito. Eu fui chamada muitas vezes para concorrer como vereadora, desde a época da faculdade, mas eu sempre fugia. Em 2020, depois de mais de meio século de vida, eu resolvi concorrer a um cargo."
Ricardo Zanchin (Novo)
Muito conhecido como apenas "prof", Ricardo Zanchin, 55 anos, é natural de Caxias do Sul, casado e tem um filho. Economista e professor de Economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) durante 25 anos, Zanchin também atua há 28 anos com consultoria de empresas nas áreas econômica e financeira. Além da paixão pela Economia, ele faz questão de pontuar que é juventudista de coração, foi 17 vezes paraninfo de turmas de formandos na UCS e um tradicional gringo que come massa, polenta e galeto.
A eleição de 2020 marcou a entrada de Zanchin na política. Ele ressalta que o seu padrinho é o vereador Mauricio Marcon. Os dois se conheceram na UCS, como professor e aluno. Marcon também é economista formado pela universidade comunitária. Além do incentivo de Marcon, os seus alunos também sempre deram força para Zanchin encarar um cargo público.
— Eles (os alunos) diziam que a política precisava também aproximar pessoas boas e pessoas de bem — conta.
Para o futuro mandato, Zanchin afirma que não terá uma atuação combativa, assim como o ex-aluno. Porém, as pautas dos dois são similares, focadas, principalmente, no desenvolvimento econômico e formação de renda e emprego para a cidade. Em 2022, Zanchin assumiu o mandato na Câmara por duas semanas durante o mês de fevereiro.
Apadrinhamento político de ex-aluno
"O Mauricio Marcon foi meu aluno no curso de Economia e, desde a época da Universidade, eu percebi que ele era muito atuante, muito ativo com as questões sociais, econômicas e políticas. Em 2019, ele (Marcon) e o (Marcelo) Slaviero me visitaram no meu escritório. O Marcon, então, me convidou para entrar na política. O Novo tem muito isso, de convidar pessoas que não são "políticos profissionais", mas da sociedade, para se filiar. E eu me filiei, gostei da proposta. Depois, ele (Marcon) me convidou para participar do processo seletivo para candidato a vereador. Em 2019, fiz o processo seletivo do Novo para ser vereador, passei e concorri."
Retenção de talentos e mercado público na pauta
"O meu viés vai ser da economia. Minha minhas pautas serão mais de desenvolvimento econômico, atração de investimentos, retenção de talentos. Eu vejo muitos jovens indo embora do país. Eu, que atuei muito tempo na universidade, vejo que quando o jovem se forma ou quando ele está se formando, ele não tem muita opção. Os jovens acabam ficando meio perdidos no mercado. Caxias do Sul é uma cidade rica, mas precisa diversificar com tecnologia, inovação e novas propostas para que os nossos jovens fiquem não só em Caxias, mas no Brasil como um todo. Mas todo mundo sabe que a minha maior bandeira como vereador é o mercado público. Foi o que falei durante toda a campanha: eu não admito Caxias do Sul não ter um mercado público. As grandes cidades como Curitiba, Milão, Porto Alegre tem mercado público e eu não consigo entender Caxias do Sul não ter um mercado público."
Mudança de perfil para a Câmara
"O que muda do Marcon para o Zanchin é o perfil. Ele (Marcon) é muito combativo, tem um perfil mais agitado. Eu sou mais tranquilo e mais calmo. Muda só o perfil, mas as pautas que ele defendia são praticamente as mesmas que eu vou defender: desenvolvimento econômico, a formação de renda e emprego para Caxias do Sul. Eu não sou tão combativo e agressivo como o Marcon. Mas a maioria das pautas do PT eu divirjo bastante. Não posso me intitular anti-PT, não dá pra colocar dessa forma."