As mobilizações em rodovias estaduais e federais de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro já refletem, mesmo que de forma branda, em alguns setores da economia da Serra. Nesta segunda-feira (31), os relatos ainda são de impactos mínimos, mas há a expectativa e a apreensão para os próximos dias, se não houver a desmobilização nos trechos interrompidos.
O presidente do Sindipetro, Vilson Luiz Pioner, diz que na área de atuação do sindicato não há informações sobre desabastecimento de combustíveis nos estabelecimentos nesta segunda-feira (31). Ele acredita que o estoque esteja garantido pelos próximos dois ou três dias pelo menos.
— O que nós estamos trabalhando é para continuar recebendo as cargas. Hoje (segunda-feira) a maioria dos postos conseguiu ser abastecido. Então, temos estoque para alguns dias, sem causar nenhum problema maior para nenhum consumidor. A não ser, é claro, que demore (o fim da mobilização nas rodovias). Evidente que se for ficar uma semana sem carregar, aí é claro que iria faltar. Mas nos próximos dois ou três dias tem combustível nos tanques — afirma o presidente da entidade.
Cenário similar é relatado pelo presidente das empresas SIM, Neco Argenta.
— Alguns impactos têm sim. Como hoje é segunda-feira, no final de semana as refinarias quase não carregam, hoje tivemos algumas rupturas em alguns locais, bem pontuais. Se continuar amanhã (terça-feira) aí poderá complicar mais, como nas outras greves de caminhoneiros. São estoques para dois outros dias, não tem como estocar mais no solo — aponta o empresário.
Ele também explica que a descompensação no mercado pode gerar variação no valor do litro do combustível:
— Isso é muito natural, porque as distribuidoras começam a ter escassez, e começa toda a descompensação, que gera impacto no preço.
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Celestino Loro, por sua vez, informa que representantes da entidade se reuniram no final desta tarde para diagnosticar o tamanho do impacto dos bloqueios. Até agora, Loro pontua que não existem efeitos, porém o cenário tende a mudar se as manifestações persistirem.
— A notícia que nós temos é que tem muitos caminhões retidos e muitas transportadoras também não estão colocando os caminhões na estrada e, naturalmente, se persistir por dois ou três dias vai faltar abastecimento de matéria-prima e mercadorias em fábricas e comércio. Há estoque, mas não existe estoque para tanto tempo. Precisamos aguardar os próximos movimentos — atesta.
Para a presidente do Centro de Indústria e Comércio (CIC) de Bento Gonçalves, Marijane Paese, é preciso ter cuidado e se colocar no lugar do outro neste momento. Para ela, por conta do resultado apertado entre Lula e Bolsonaro, muitas pessoas não se sentem representadas no momento.
— Mas a gente sabe que é uma democracia e que as coisas precisam continuar.
Porém, se seguirem os bloqueios a presidente se preocupa com o setor produtivo.
— Tem funcionários que trabalham em hospitais, por exemplo, e outros postos de trabalho. Isso afeta a mão de obra, afetará a matéria-prima e, consequentemente, a produtividade. É um pouco compreensível esse momento. Depois, as pessoas vão tomando consciência e voltem a olhar para o crescimento do Brasil — conclui.
Ceasa Serra sentiu impacto nas vendas
As mobilizações provocam reflexos e apreensão também no setor alimentício. Conforme o gerente técnico-operacional da Administradora de Consórcios Intermunicipais (Adcointer), responsável pela Ceasa Serra, Alceu Thomé, os principais impactos nesta segunda-feira foram nas vendas. Com a interrupção nas rodovias, muitos compradores de outras regiões do Estado não conseguiram chegar central de abastecimento de Caxias.
— Os compradores que vêm de outras cidades, de caminhão, pararam no trânsito e não conseguiram chegar. Vem gente da fronteira, de outras regiões do Estado. São pessoas que costumeiramente vêm e não conseguiram fazer suas compras — detalha Thomé.
Agora, a apreensão é para o que acontecerá nos próximos dias. O gerente diz que alguns produtos como mamão, melancia, melão, tomate e abacaxi são transportados de outras partes do país, de estados mais quentes. Sem acesso pelas rodovias, podem faltar, em alguns dias, na mesa do consumidor.
— É uma questão que pode ter efeito imediato, se não conseguirem chegar aqui — resume Thomé.