Foi alta a adesão de jovens entre 16 e 18 anos que procuraram os cartórios ou o sistema pela internet para tirar o título eleitoral, especialmente nas últimas semanas antes do prazo do dia 4 de maio finalizar. Vinha sendo baixa a motivação dos jovens nas eleições anteriores para participar das escolhas eleitorais, entretanto, para as eleições de 2022, essa perspectiva foi revertida com uma campanha do Tribunal Superior Eleitoral para incentivar o voto nessa faixa etária. A campanha bem elaborada contou com a participação de celebridades e influenciadores digitais, além de uma mobilização intensa de pessoas "comuns" nas redes sociais.
Em Caxias do Sul, com dados fechados em 5 de maio, a busca pelo primeiro título foi o serviço com maior procura em 2022, representando 49,33% das operações — ou 6.033 alistamentos eleitorais — em um número de pouco mais de 18 mil requerimentos solicitados no total.
Apesar das campanhas pela internet, a consciência política e social dos jovens ainda tem grande influência pela base: família, grupo de amigos, escola, igreja e assim por diante.
— Esse círculo de relações forma mais a mentalidade política e social do que propriamente as redes sociais. O que precisaríamos estudar é em que medida uma coisa influencia a outra? Ou seja, como um grupo reproduz nas redes sociais os seus interesses e ideias? E como essas ideias das redes sociais repercutem nesses grupos. Existe uma relação dupla que às vezes não é considerada — observa o cientista político Marcos Paulo Quadros.
Na opinião do cientista político, as campanhas anteriores para o alistamento eleitoral eram mais sutis. Neste ano, com campanhas massivas do TSE e manifestações de personalidades, o fato ganhou uma nova perspectiva.
— A novidade foi a ênfase dada na campanha. Nós não tínhamos visto, até então, todo um instrumental direcionado para essa mensagem. Não podemos negar que se trata de um movimento político e eu diria até de caráter partidário — analisa Quadros.
No entanto, o professor argumenta que a essência da democracia também pressupõe a capacidade da pessoa se abster e não querer participar do processo.
— Por conta da politização, esse aspecto da democracia vem sendo deixado um pouco de lado. Os jovens têm todos os motivos para não se sentirem incluídos no sistema. Por isso, eles estão buscando esferas paralelas de participação ou de não participação. Isso de trabalhar em uma ONG, na igreja, em algum sindicato e não ir para a luta partidária deve ser respeitado. Essa nossa ênfase e demanda por participação pode denotar um pouco da nossa imaturidade democrática — reflete.
Twitter é a fonte preferida de informações
A reportagem conversou com sete adolescentes, entre 16 e 17 anos, que tiraram o título de eleitor neste ano, para saber o que os motivou a fazer o alistamento eleitoral e quais são as suas principais influências na hora de buscar informações sobre a política nacional. Os sete alunos do Cetec UCS são unânimes ao afirmar que a fonte preferida de informação é o Twitter. O estudante Pedro Luiz Adames, 17, usa, principalmente, a rede social para se informar, com ênfase nos Trending Topics do dia (palavras, frases ou tópicos mencionados com mais frequência na rede).
— Eu normalmente vejo alguma notícia no Twitter. Mas eu analiso se tem veracidade aquela fonte, se o perfil é verificado. Se não parece verdade, eu pesquiso mais a fundo no Google, procuro as notícias para descobrir se é real mesmo — explica.
As mídias tradicionais como jornal impresso, rádio e televisão não são muito consideradas pelos jovens na hora da busca de informação, mas eles afirmam que assistem aos jornais do meio-dia e da noite, em algumas ocasiões.
Já Luiza Moura Linzmaier, 17, conta que, quando surgem pautas nacionais, a primeira fonte de informação buscada é a família. A estudante gosta de assistir às lives que os pré-candidatos realizam nas redes sociais. A política internacional também terá grande influência nas futuras decisões políticas da nova eleitora.
— Quando é um assunto da política internacional, eu procuro os influencers de lá (Estados Unidos). Tem uma influenciadora que sigo há muito tempo, ela sempre coloca a opinião dela a partir de uma visão muito ampla. Ela é uma imigrante cubana e viveu coisas que muitos nos Estados Unidos não viveram. A visão política dela abrange muitas comunidades. Essas visões de fora me ajudam muito a pensar em pessoas que estão imigrando para o meu país e eu também vou pensar nos imigrantes quando for escolher o meu candidato — atesta Luiza.
"Esses escândalos ajudam a formar a nossa opinião"
Apesar de jovens, os estudantes estão cientes de diversos escândalos políticos que rondam o país nas últimas décadas. Para Isabela Reginato Pilatti, 16, os escândalos afetam de forma negativa a sua percepção política, mas ela usa isso como combustível para criar novas opiniões.
— A partir desse negativo, tu consegue formar um posicionamento correto para ti e para o que tu busca. Muitas coisas que vêm e são "ruins", na verdade chegam para agregar no teu pensamento e perspectiva — pondera.
Para Pedro, essas situações o fazem perder a fé nos candidatos.
— Uma coisa ruim desses escândalos é que tu acaba perdendo um pouco a fé nos candidatos porque nenhum está zero envolvido em alguma coisa, sempre tem algo, se tu pesquisar. Tu não consegue confiar muito em quem tu vai votar porque não sabe se vai ser como os outros ou se ele será diferente — sinaliza Pedro.
Isabela argumenta que, para além do partido, é necessário descobrir a história de cada candidato e qual proposta ele tem para o país.
— Não que eu ache que se uma pessoa errou uma vez ela não irá mais acertar. Todo mundo erra, né? Todo mundo é humano. Se o candidato tem uma proposta política e tu se identifica com ela, não precisa ir pela maioria. Por mais que no final fiquem dois candidatos que tu não votou, depois tu vê entre os dois a proposta que mais se encaixa. Penso que temos que votar em candidatos que acreditamos ter a proposta mais assertiva para o Brasil — reforça.
Gilmar Antonio Paniz Júnior, 17, acredita que nunca existirá um candidato perfeito.
— Tu nunca vai concordar com tudo o que aquele político faz. Nenhum candidato vai ser perfeito ou vamos concordar plenamente — completa.
O QUE ELES E ELAS DIZEM
"Para tirar o título, as conversas da minha família influenciaram muito. Além disso, vi notícias falando que, dessa forma, podemos votar no nosso candidato. Se ganhar outro candidato e eu não votar, eu não posso reclamar porque eu não fiz a minha parte." Gilmar Antonio Paniz Júnior, 17
"Eu quis fazer o título esse ano porque a política é muito importante. Ao contrário do que muitas pessoas dizem, o jovem tem que participar da política. Temos que buscar estudar porque estamos colocando o voto no nosso futuro e a nossa opinião tem importância". Maiara Finger Longaray, 16
"Eu sempre tive a força de me expressar, especialmente na política. Inclusive, eu pedi de presente de aniversário o título de eleitor para eu já poder fazer o meu papel na sociedade, para eu conseguir melhorar a economia do país, que é a área por onde eu vou escolher os meus candidatos". Luiza Moura Linzmaier, 17
"Votar é uma forma de contribuir para o avanço do país, é o que a gente almeja. Não adianta só falar das coisas que estão ruins se não fizermos o nosso papel para melhorar. Muitas pessoas depositam confiança nos jovens. Acho muito importante estarmos sempre inteirados e ativos na política. Precisamos votar em candidatos que tenham um posicionamento no qual a gente acredita." Isabela Reginato Pilatti, 16
"(O voto) é um direito que nós precisamos usar. Vamos decidir o futuro do país e nós somos o futuro do país. Achei legal o Cetec influenciar, postando nas redes sociais para nós fazermos o título. Lá na frente, os nossos votos farão diferença no primeiro e no segundo turno." Pedro Luiz Adames, 17
"Pelo fato de não ser obrigatório ainda a gente votar, ainda assim é bom para uma experiência, saber como funciona e o que acontece. É o nosso futuro, precisamos participar e cuidar disso." Maria Eduarda Rizzon Finger, 17
"É importante darmos a nossa opinião na hora do voto, mas claro, baseados em várias áreas, como a economia. Tudo isso para melhorar a situação em que a gente vive. O que me influenciou a fazer o título foi muito a família. A escola também influenciou muito porque tivemos professores que falaram sobre política em sala de aula. É importante estarmos nesse meio desde cedo para aprender como funciona." Lucas Gressler da Silva, 17