Estreando o novo formato da tradicional reunião-almoço da CIC Caxias, a RA CIC, nesta segunda-feira (11), o ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança do governo do presidente Jair Bolsonaro, Sergio Moro, afirmou que não desistiu de transformar ou mudar o país. A alegação se dá após a mudança de última hora para o União Brasil e a sua desistência, "naquele momento" do ingresso no União Brasil, de concorrer à Presidência, colocando-se à disposição para concorrer à Câmara Federal por São Paulo. Com o tema da palestra "O Brasil dos nossos sonhos", Moro declarou ao empresariado caxiense que é preciso criar um centro democrático, com um candidato único, se possível.
— Ocorre que existe uma percepção de que é necessário que haja uma via democrática única para fazer frente às duas propostas políticas de extremos. E a gente precisa ter um centro unificado para fazer face a esses desafios. Nessa perspectiva, ninguém abria mão de nada, ninguém se dispunha a fazer uma espécie de sacrifício, e essa minha movimentação representa a ideia de dar um passo atrás para ajudar na formação dessa via democrática, para conseguir reunir as forças necessárias para ir adiante — apontou Moro.
O jurista fez questão de destacar que a sua movimentação política — com a migração de última hora para o União Brasil — representa um sacrifício para a construção de um centro forte.
— Ninguém se dispõe a fazer uma espécie de sacrifício. Essa minha movimentação, no fundo, representa isso. A ideia é dar um passo atrás para ajudar na formação desse centro, essa via democrática. Não vamos confundir esse centro com aquilo que chamamos de centrão — confirmou.
Carta de princípios da CIC
O presidente da CIC Caxias, Celestino Oscar Loro, na abertura da RA CIC, entregou a chamada Carta de Princípios da entidade ao pré-candidato, que visa externar o pensamento da classe empresarial de Caxias do Sul. De acordo com Loro, Sergio Moro é o primeiro postulante a cargo público que recebe o documento.
— O senhor é o primeiro postulante a cargo público a receber um documento que foi produzido pelas instâncias políticas da nossa entidade com os princípios que defendemos para o projeto de Nação que queremos — pontuou.
De acordo com Loro, a Carta de Princípios externa o pensamento da classe empresarial de Caxias do Sul a respeito de questões de Estado que são relevantes neste momento do país.
— São essas propostas que buscamos ouvir, tendo em vista o seu legado de combate à corrupção, por meio da Operação Lava Jato — declarou o presidente da entidade.
Os princípios elencados na Cara de Princípios envolvem temas de maior relevância, na visão do empresariado caxiense, para o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do Brasil. Entre eles, a ética e a transparência da administração pública; o respeito à Constituição e legislação vigentes; liberdade econômica, com redução de burocracia e excessiva intervenção dos entes públicos na economia; redução do tamanho do Estado, com privatizações ou extinção de estatais que oneram os cofres públicos. Além disso, a carta dá destaque às reformas tributárias, políticas e administrativas para o país.
O QUE MORO DISSE:
POLARIZAÇÃO POLÍTICA
"Essa polarização não é boa para o país. Nós precisamos, para olhar os problemas do país, olhar para o futuro. Esse futuro não está no governo do passado, que fracassou, um governo que está manchado pelos escândalos de corrupção, que nos entregou a recessão em 2015 e 2016, da qual, até hoje, nós não nos recuperamos. E não está no governo atual, que entrega um país estagnado economicamente. Um governo que abandonou as promessas que tinha feito em 2018. Promessas relacionadas ao combate à corrupção, promessas como a forma de fazer política com integridade, honestidade."
BRASIL ISOLADO
"A assinatura do tratado entre Mercosul e União Europeia abriria mercados europeus aos produtos brasileiros, especialmente, para agropecuária e agroindústria. O tratado está congelado, está parado no Parlamento Europeu, e não vai andar enquanto for esse governo. (O tratado) também não vai andar se a alternativa a esse governo for o governo passado."
REFORMAS
"Nós precisamos ter uma agenda moderna para o Brasil, uma agenda vigorosa em tema de reformas. A (reforma) administrativa para tornar o governo mais eficiente. A reforma tributária, porque quem produz sabe o peso desse sistema complexo de tributos e como implica na sua atividade produtiva, especialmente, na área da indústria."
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
"Hoje, o mundo se preocupa com as consequências da mudança climática. O Brasil, lá fora, é visto como um vilão ambiental. [...] Muitos aqui são do mundo empresarial e sabem desse movimento chamado ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, na tradução, governança ambiental, social e corporativa), isso está orientando os investimentos produtivos no mundo inteiro. O Brasil vai perdendo oportunidades de negócios porque estamos com a prática errada e o discurso equivocado."
INSTITUIÇÕES CAPTURADAS
"A gente precisa ter uma proposta de governo que pense, sim, no desenvolvimento econômico. Esse desenvolvimento econômico tem que ser sustentável, inclusive, para a gente reduzir a pobreza e a desigualdade. Precisamos pensar na qualidade das nossas instituições. Muitas vezes, na minha percepção, a gente não consegue fazer as reformas necessárias para o Brasil voltar a crescer porque parte das nossas instituições foram capturadas. O governo, muitas vezes, se dedica a atender interesses especiais e, não, propriamente, agir para o bem comum. [...] Muitas vezes (o governo) está atendendo aos interesses paroquiais, preocupado em eleição, em reeleição. -
CORRUPÇÃO
"O que aconteceu foi um desmantelamento do combate à corrupção no país. Procuradores que não procuram. Juízes que não julgam. Polícias que não investigam. É esse o retrato atual. Vamos culpar apenas o governo federal? Não. Há muitos cúmplices nessa história. Parte do Congresso que aprovou legislação que nos fez retroceder. Parte do Supremo Tribunal Federal que se dedicou, quase que como um esporte, a anular condenação de criminosos, gente que, comprovadamente, recebeu suborno ou pagou suborno. Mas, também, o governo federal é responsável por esse quadro tenebroso, que gerou um ambiente propício para que nós tivéssemos esse retrocesso."
PACOTE ÉTICO
"Eu tenho defendido, dentro desse pacote ético, o fim da reeleição para presidente da República. O fim do foro privilegiado. Tem que acabar com o tal do foro privilegiado. É um escárnio. A lógica do foro privilegiado é blindar quem faz coisa errada."