Após voltar de licença-saúde, o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) coloca em perspectiva o que a administração deve enfrentar no segundo ano de gestão. Além das questões pendentes e contínuas, 2022 começa com uma adversidade climática: a estiagem. Na manhã de terça-feira (4), Adiló concedeu entrevista ao Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, e expôs como o município pretende lidar com alguns dos principais desafios previstos para o ano. Confira trechos da entrevista:
O senhor começa o ano com desafio da seca. Como pretende enfrentar essa estiagem e como prevê as dificuldades do município para o ano?
Ano passado iniciamos com orçamento devedor, em mais de R$ 160 milhões, mas tivemos ao nosso favor a economia, principalmente o agronegócio, que se comportou de forma muito boa e ajudou a nossa indústria, tivemos o Refis e repasse extra do governo estadual por conta da privatização da CEEE, conseguimos fechar o ano no azul, com superávit, mas esse ano se mostra muito desafiador, pois o orçamento é devedor, Caxias vem com problema na arrecadação versus a sua despesa e temos o agronegócio afetado duramente no país. Uma parte do Norte sucumbindo às enchentes e a parte sul torrando ao sol. Dos últimos 60 anos, essa é a pior seca, não só pelo período de ausência de chuva, mas pelo sol com baixa umidade, são três anos consecutivos e o relato do interior dá conta de que fontes, vertentes que serviam as famílias no nosso interior há mais de 60 anos estão secando. Além da queda na produção, estamos perdendo as plantas, isso é muito preocupante. Fizemos reunião e estamos providenciando decreto de emergência, de calamidade, para que possamos buscar recursos do governo federal para socorrer os nossos agricultores e tentar minimizar o prejuízo, já que evitar ele é quase impossível.
De que forma Festa da Uva vai ser afetada com essa seca?
Vamos ter de nos antecipar na compra da uva, para estocar ela e seguramente remunerar um pouco melhor os nossos agricultores para compensar o prejuízo. Vamos buscar forma de ajudar, mas a principal ação é compra antecipada, estocar em câmaras frias e dentro do possível equacionar um preço para compensar essa queda. Não resolve, mas ajuda.
Esses eventos climáticos ocorrem mais seguidamente nos últimos anos. Além das questões emergenciais, é preciso estruturar um planejamento a longo prazo. Como a prefeitura pode auxiliar nisso?
Já vínhamos debatendo. Temos plano de trabalhar muito forte estruturando a captação de água da chuva. Não temos mais como ficar apenas olhando para as vertentes ou reservatórios e não olharmos para o céu. Vamos ter de aprender a captar água da chuva, nas propriedade rurais, área urbana. É uma tendência que se avizinha, sem volta. Não vejo outra forma, seja desmatamento ou poluição, a natureza vem dando sinais de desequilíbrio. Teremos de compensar isso com cuidado, racionalização do uso da água e para o interior vamos ter de desenvolver política de captação e estocagem de água da chuva, com financiamento, ajuda aos nossos agricultores e também na perfuração de poços artesianos, que também já se mostra com alguma dificuldade. Há regiões com poços perfurados com mais de 100 metros que têm se mostrado insuficientes, com pouco volume de água ou até sem água.
Sobre o Parque de proteção animal, os moradores não querem que o canil seja instalado na região (da 2ª Légua). Como está essa discussão, quais são as alternativas para receber o parque e até quando vocês definem essa questão?
A vice-prefeita Paula (Ioris/PSDB) cumpriu aquilo que assumimos com Ministério Público, indicando 13 áreas, agora esperamos retorno da doutor Janaína (De Carli, promotora do Ministério Público) para conversar com ela, mas continuamos procurando outras áreas. Essa semana, inclusive, tem mais uma área que vai ser vistoriada. O que aconteceu foi uma distorção dos fatos, chamamos algumas lideranças para conversar no início e, em vez de termos esse respaldo para mostrar o projeto para a comunidade, a comunidade foi toda instigada contra o projeto, sem conhecer ele. A gente respeita, e desde o primeiro momento afirmamos que estaríamos em busca de outra área, aquela se mostrou muito bem adequada, mas infelizmente houve a reação adversa da comunidade ao projeto, então não desistimos de procurar outra área. Se tivermos outras áreas que sejam igual ou melhor, vamos instalar em outro local. Caxias pede há muito tempo esse parque de proteção animal e não apenas um canil, como alguns estão colocando. Vamos continuar e acredito que até março conseguimos resolver esse assunto com toda tranquilidade e diálogo. Da nossa parte nunca vai faltar isso, em que pese temos sido hostilizados, de forma muito agressiva. A nossa obrigação é manter a serenidade e buscar alternativas.
Temos falado muito da crise financeira da Codeca. O que se espera para este ano em relação à empresa?
Nomeamos uma comissão que está tratando e estamos fazendo um último esforço, tentando de todas as formas salvar a companhia. Para nós ela é importante, é estratégica para Caxias e vamos fazer esforço grande. Agora, para que a Codeca possa sobreviver, é necessário que sindicatos, trabalhadores e governo municipal cheguem a um denominador comum e recuem em alguns pontos e encontrem ponto de equilíbrio para que a empresa possa se sustentar e se recuperar, pois ela tem hoje prejuízo acumulado de mais de R$ 30 milhões e não só isso, ela está toda desestruturada, frota sucateada, os contêineres estão uma verdadeira calamidade. Então, se fosse apenas prejuízo financeiro já era gravíssimo, mas toda a estrutura dela deixa a desejar e precisa muito capital, muito recurso, coisa que não temos hoje para socorrer a Codeca. Então vai precisar de todo mundo para que a empresa possa sobreviver.
A coleta mecanizada em Caxias foi muito saudada na época que foi implantada, mas tivemos aumento de reclamações, até em função de lixo acumulado nas ruas. Como avalia esse aspecto?
Pessoal tem cobrado muito a zeladoria da cidade e com toda a razão, a gente aceita as críticas, pois são procedentes. Não estou satisfeito com a limpeza. Porém, ninguém se deu conta da forma que o Governo (de Flávio) Cassina (PTB) recebeu a cidade, como ela estava. Ele foi assolado em seguida pela pandemia, não conseguiu fazer muita coisa nessa área, recebeu a Codeca destroçada, financeiramente falida e durante o seu governo tentou fazer o possível, recebemos ela nessa situação calamitosa, e (ela) é o principal braço da prefeitura na questão da limpeza e zeladoria da cidade. E durante oito meses deste ano trabalhamos com em torno de 25% do efetivo, as pessoas esquecem disso, tivemos, por força de lei, por orientação do Ministério da Saúde, o afastamento do grupo de trabalhadores e muitas vezes trabalhamos até abaixo de 25%, pois quando surgia caso de suspeita de covid no meio das equipes de plantão elas eram afastadas em quarentena. Em home office não se troca tampa de bueiro, não se arruma calçada, não planta flor, não faz limpeza. E se conseguiu fazer muito, apesar de tudo, nos últimos quatros meses. Levanto isso porque dá impressão de que está se criticando os servidores públicos, que não tiveram condições de trabalhar, não foi má vontade. Mais do que ninguém, eles querem ver a cidade voltando à normalidade.
Transporte coletivo, administração tem dito que vai lutar que a passagem permaneça em R$ 4,75. Pode ser acenado para a a população que a tarifa vai se manter nesses termos, na medida que foi para a Câmara projeto de autorização para o subsídio?
Encaminhamos projeto de subsídio e tivemos de retirar ele, inclusive por orientação da controladoria do município, por falta de disponibilidade financeira, de provisionamento. A vontade do município é ajudar na questão das gratuidades, não é dinheiro para a concessionária como se coloca nas redes sociais. Ninguém vai dar dinheiro para a concessionária. Existe um contrato, em que temos de repor prejuízo, o que fizemos parcialmente com R$ 4 milhões, é da lei. E a nossa proposta busca subsidiar as gratuidades, para garantir as gratuidades para as pessoas que precisam e seja subsidiada pelo município e não suportada pela concessionária. Tem uma comissão nomeada que está trabalhando em cima dessa questão. Deverão nos apresentar uma proposta nos próximos dias, nós vamos fazer um esforço muito grande para manter a passagem nos R$ 4,75, que é uma maneira de o transporte coletivo voltar a ter número de passageiros necessário porque isso também é muito importante para manter o equilíbrio tarifário. Baixou muito no ano passado e retrasado o número de passageiros por quilômetro rodado, chegou em 25 mil, 30 mil por dia, numa cidade que já teve 300 mil passageiros transportados por dia. Hoje o ponto de equilíbrio se daria em 120 mil.
Por que a dívida do Caso Magnabosco não é parcelada?
Estamos enfrentando o processo dentro das possibilidades jurídicas. Não somos contra a indenização do valor da área, porém, uma área que vale em torno de R$ 50 milhões está sendo cobrado mais de R$ 900 milhões. Por mais que se tente parcelar isso, o município não tem fôlego, não tem capacidade, isso levaria Caxias a uma quebradeira por mais de 10 anos. Aí não tem prefeito que vai salvar essa cidade. Imagina que temos R$ 70 milhões, R$ 80 milhões por ano de (recurso) livre, que o prefeito pode destinar para uma ou outra obra e isso nem sempre se concretiza com orçamento devedor. Aí vai parcelar uma dívida dessas de R$ 900 milhões, ou R$ 1 bilhão, imagina quanto de juros vai dar por mês. Mas há várias anomalias jurídicas dentro deste processo, que estamos enfrentando com um escritório que está trabalhando em cima do caso. Vencido isso, é possível sentarmos e fazermos um acordo. Mas não nesse valor, pois não teríamos condição de suportar.
Na saúde, preocupam as filas represadas de cirurgias eletivas, exames e ainda a questão a ser encaminhada da renovação de contrato com o Hospital Pompéia, no impasse envolvendo os leitos SUS. Em que pé está a situação do Hospital Pompéia e como município conseguirá reduzir essa fila de espera?
Ficou fila, sim, inclusive por determinação legal as UTIs estiveram suspensas para cirurgias eletivas, ficando à disposição da covid. Ficou represamento muito grande, que pretendemos trabalhar com mutirões e enfrentar isso. Não vai ter solução mágica, vai demandar muito esforço e paciência da população, pois não é falta de vontade, aconteceu com todas as cidades do porte de Caxias. Com relação ao Pompéia, a gente vem mantendo o diálogo, buscando alguma alternativa. O hospital não atende apenas a prefeitura, é referência SUS para 49 municípios, então alteração contratual passa pela anuência do Estado e o Estado não concorda com mudança dessa cláusula (de gestão) de 60% dos leitos. A gente vai ter de encontrar alguma forma de ajudar o Pompéia, não estamos negando. Desde ano passado estivemos com governador pedindo reforço no repasse para ajudar o hospital, que veio num bom valor, buscando emendas parlamentares, manter repasse do município em dia. Agora temos de buscar outra forma, quem sabe os municípios beneficiados pelo Pompéia passem a participar com algum valor, porque hoje isso cabe basicamente ao Estado, Caxias e o SUS de um modo geral.