O pré-candidato ao governo do Estado, Beto Albuquerque (PSB), participou de uma sessão de autógrafos de seu livro Liberdade, Igualdade, Humanidade: são também nossas façanhas? na Feira do Livro de Caxias nesta quarta-feira (1º). A ocasião, em teoria, teve o propósito de divulgar a obra do ex-deputado, que propõe reflexão dos termos do lema da bandeira do Rio Grande do Sul. Na prática, serviu também para confraternização e aproximação política. Vereadores de Caxias, lideranças partidárias, o deputado estadual Carlos Búrigo (MDB), o ex-governador José Ivo Sartori (MDB), o ex-vice-prefeito Elói Frizzo (PSB), entre outros representantes políticos da região, prestigiaram o evento.
Ao Pioneiro, Albuquerque falou sobre sua candidatura "irreversível" e as alianças políticas que se ensaiam para as eleições, incluindo a relação com o ex-governador Sartori, que sempre se destacou pelo apoio mútuo nas últimas eleições, e a aproximação do PSB com o PT, tanto em nível estadual e nacional. Confira trechos da entrevista:
Lançamento de livro que não deixa de ser uma agenda política.
Não deixa de ser uma agenda política. Durante a pandemia, decidi escrever um livro e achei que a melhor reflexão, a mais oportuna que poderíamos fazer junto aos gaúchos, era atualizar os conceitos a tempo de hoje da nossa bandeira: a liberdade, a igualdade e a humanidade. Hoje temas muito discutidos no mundo, alguns deles distorcidos e muitos completamente contrariados. Então, mais do que nunca é preciso se discutir a tempo presente as condições desses conceitos e ao mesmo tempo revisitá-los. Abordo também assuntos que dizem respeito aos interesses da minha convicção no Rio Grande do Sul. Priorizo muito o debate sobre a questão da educação, que há muitos anos vem sendo invisibilizada. A realidade das nossas escolas, dos nossos professores, tudo demonstra que parece que o Rio Grande do Sul não quer acreditar que a educação é o caminho de prosperidade, oportunidade, desenvolvimento e crescimento econômico. Nossas escolas metade não tem sequer uma quadra coberta, tem zero de tecnologia, laboratórios.
De encontros políticos, alguma coisa articulada?
Fiquei honrado de receber vereadores do PT, PTB, de outros partidos, além do PSB. Nenhuma reunião em específico, o ato é mais voltado ao lançamento do livro. Mas sempre bom recebermos essa representação, inclusive autografei livro para o (José Ivo) Sartori (MDB) e o (Carlos) Búrigo, que vieram e deixaram mensagens. Sempre bom vir a Caxias, nosso partido é forte, bem organizado e estruturado. E estamos juntos nessa caminhada, nessa pré-candidatura a governador.
O senhor sempre foi bastante próximo de Sartori. Como ficará essa relação na próxima eleição?
Não sei ainda quais serão os destinos do MDB, que adiou as suas decisões, mas tenho carinho e muitas relações dentro do MDB. O Sartori é a maior expressão disso tudo. A gente acabou fazendo uma disputa superimportante em 2018, quando fui candidato a senador e fiz mais de um milhão de votos com muito apoio do MDB, então tenho carinho grande pelo MDB. Acho que a eleição de primeiro turno é de afirmação política, de convicções. Minha candidatura a governador é irreversível. Estou com 58 anos, já fui oito anos deputado estadual, 16 anos federal, duas vezes secretário de Estado, concorri a vice-presidente, Senado, chegou a hora do protagonismo próprio, mas claro, conversando com outros partidos. Um dos primeiros foi o MDB, só não sabemos quando e qual será a decisão do MDB, mas é um partido muito importante para se governar o Rio Grande do Sul. E temos falado com campo progressista, de centro-esquerda, de esquerda.
E a aproximação com o PT?
Ela é possível, primeiro porque no cenário nacional há ambiente de diálogo muito grande em torno da candidatura do Lula. O PSB é um partido que tem no Nordeste muita força, representação, a começar por Pernambuco, São Paulo também. Agora colocamos na conta de diálogo com PT e Lula a prioridade que queremos, ou reciprocidade que queremos, do PT, aqui no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, Espírito Santo, Acre e São Paulo, que são nossos projetos estaduais de governo, e acreditamos que a política é uma via de duas mãos, há que se conquistar apoio e ter reciprocidade de apoio. Esse diálogo tem sido feito nacionalmente e no Rio Grande do Sul de forma franca e clara. Tenho conversado com as direções nacional e estadual do PT, conversamos com PCdoB, PDT, Solidariedade, Rede já está conosco, Cidadania, PROS, Avante. São partidos que temos mantido diálogo bastante horizontal, pois março está perto e até março é limite plausível para que tomemos decisões sobre qual será o nosso palanque.
E qual sua posição sobre o Governo Bolsonaro?
O presidente Bolsonaro perdeu oportunidade de fazer história, ganhou uma eleição, mas preferiu viver da intriga, do passado, olhar mais para o retrovisor do que o para-brisa, negou a gravidade da pandemia, até hoje nega eficiência e necessidade de se acreditar na ciência e com isso se foram mais de 600 mil mortos no país. E o prestígio, tanto na imagem internacional, quanto comercial e diplomática, que o Brasil tinha e sempre teve, hoje foi praticamente perdido. É lamentável todos esses retrocessos. E vemos que o "Posto Ipiranga" (ministro da Economia Paulo Guedes) perdeu o controle da economia, não sabe para que caminho ir, preço de combustíveis, gás de cozinha, alimentos, energia, tudo nas alturas. Um momento muito difícil para os mais pobres, desemprego batendo recordes. Um governo ganha não para discutir, gerar intrigas, dividir, discutir só ideologia, um governo ganha para governar, para melhorar a vida das pessoas, resolver problemas. E quando você perde muito tempo na internet para reafirmar as tuas convicções ou falsas convicções políticas, deixa de ser governo. Quem ganha governa, quem não governa perde a sua continuidade.
E o governador Eduardo Leite?
É um jovem que me surpreendeu bastante positivamente. É um rapaz que tem experiência administrativa, como prefeito e agora governador. Muitas das realizações na infraestrutura têm origem ainda no Governo Sartori, projetos e recursos. Algumas reformas começaram no Sartori e continuaram agora. Gosto muito do diálogo e da franqueza do governador. O que precisamos agora é de um upgrade em termos de gestão no Rio Grande do Sul. Precisamos estancar período de cortes em que se viu servidor como vilão, dos ajustes, arrochos fiscais. Agora chegou a hora do Estado fazer esforço e devolver para a sociedade gaúcha políticas públicas completas. A educação no Rio Grande do Sul precisa ser reerguida, somos o primeiro Estado em repetência e evasão, 12º no Ideb e último em oferta de ensino integral. E obviamente estamos há quase oito anos sem repor sequer a inflação aos nossos professores e isso precisa ser discutido. O que está em jogo daqui para frente não são mais cortes e nem mais arrochos, o que nunca concordei, que servidor seja vilão do processo, o que está em jogo agora é dinamizar nossa economia, apostar na economia da inovação, no cooperativismo e melhorar as finanças do Estado, que não é só cortando, temos de trazer para cá um mundo empresarial que está esperando o Rio Grande do Sul ser mais fácil de chegar e mais barato.
Muito se falou que Governo Leite foi continuidade do Sartori. Acha que é momento de virar a chave e mudar discurso do enxugamento?
Acho que o que tinha que fazer de enxugamento, até exageradamente já passou. Há conjunto de privatizações em curso, discordo da privatização da Corsan, é um grande erro abrir mão.
Está percorrendo o Estado?
Até dezembro passo pelas 25 maiores cidades lançando o meu livro, que é uma forma de as pessoas me conhecerem mais e de as pessoas saberem o que penso e acredito, até porque o livro é uma forma de eternizar as convicções.