A votação que vai eleger a composição da Mesa Diretora da Câmara de Caxias para o próximo ano ocorre nesta quarta, mesmo que o resultado já esteja construído nos bastidores. Há uma tendência, de eleição de Denise Pessôa (PT) como presidente. Os nomes da chapa que irão compor com a petista ainda não foram revelados e devem ser guardados até instantes antes da votação, prazo para inscrição de chapas. A eleição está marcada para o final da pauta, que se alongará pela necessidade de duas sessões extraordinárias convocadas para apreciação de quatro projetos de autoria do Executivo.
A chapa concorrente, encabeçada por Gladis Frizzo (MDB), já anunciou sua composição. Além da emedebista, foram inscritos Ricardo Daneluz/PDT (primeiro vice-presidente), Maurício Scalco/Novo (segundo vice), Mauricio Marcon/Podemos (primeiro secretário) e Sandro Fantinel/Patriota (segundo secretário). O mentor intelectual do grupo, essencialmente formado pela chamada frente anti-PT, é Marcon, que na terça (14) adiantava cenário de derrota.
— Vamos perder, de 8 a 15. O governo preferiu o PT. A verdade é, a base fez sua escolha, e por óbvio escolhas geram consequências — admitiu o vereador.
A própria candidata reconhece a probabilidade de resultado negativo:
— Estamos sentindo nos bastidores (a derrota), mas perder faz parte, acho que a maior lição da gente é colocar nome à disposição, não ficar em cima do muro, a gente não faz acordo, trabalha com transparência — diz Gladis.
Nas legislaturas anteriores recentes, a eleição da Mesa era um ato pragmático, pois respeitava acordo informal de representatividade, em que prevê rotação de presidentes e funções na Mesa com base nas maiores bancadas do Legislativo. No entanto, no final do ano passado, Marcon incitou provocação manifestando aversão à provável presidência do Partidos dos Trabalhadores. Com isso, a eleição da Mesa deste ano acabou ganhando maior relevância política, inflamada também pelos embates travados por Marcon e sua frente anti-PT contra a bancada do PT, o que torna a disputa da presidência a derradeira entre as alas no primeiro ano da legislatura.
Caso a presidência do PT se confirme, a vigência do acordo informal continuará preservada, tendo sido iniciada pelo PTB (com Velocino Uez este ano) e restando as últimas presidências ao PSDB (provavelmente com Marisol Santos) e PSB (com tendência a Zé Dambrós).
Articulação política sobrepõe a ideológica
A aposta de Marcon e seu grupo foi de apelar para a discussão ideológica. A barganha da chapa, antes mesmo de inscrita, sempre foi a de que corroborar com o acordo seria "votar no PT". Embora o argumento tenha valor eleitoral, as articulações políticas, ao que tudo indica, acabaram se sobrepondo à discussão ideológica.
A começar pela inscrição tardia da chapa de Denise. Estratégica, acaba não revelando previamente quem irá compor com o PT para evitar a exposição antes do momento necessário, o da votação.
A votação em si é uma decisão prévia consumada, pois dentro do acordo informal também vigoram "possibilidades informais" que permitem negociação de termos, como a distribuição de comissões legislativas (representativas e permanentes). Portanto, para angariar apoio, é preciso ceder em alguns aspectos, como entregar presidências dessas comissões a aliados políticos. Se por um lado, pode haver desgaste eleitoral no campo ideológico, dependendo do posicionamento de cada vereador, por outro, assumir uma comissão significa estar mais próximo de bandeiras com maior visibilidade eleitoral ou de maior proximidade com nichos dos eleitores de cada vereador. O que acaba pesando no final é a conclusão da reflexão: será que a mera votação na presidência ressoará mais forte ao meu eleitor do que a proatividade em alguma comissão?
Situação delicada para a base
Se a perda de capital político acaba sendo inevitável para uma parte dos vereadores, independentemente da posição na votação, para a base governista a situação é mais complexa. Considerada primordial para o resultado da eleição da presidência, a bancada do PSDB não adianta o voto, mas a tendência é de deliberarem pelo acordo, isto é, com voto em Denise. Com isso, garantem a estabilidade planejada (não trazendo riscos futuros com abertura de precedentes e a eventual presidência de Marisol), preservam lugar privilegiado na Mesa Diretora e uma relação mais amistosa com a oposição (que em promessa 'informal' garante não travar a pauta governista). Eleitoralmente, Tatiane Frizzo também acaba não apoiando a presidência de Gladis e a eventual visibilidade que a função traria a sua principal concorrente eleitoral na zona oeste da cidade. O mais prejudicado acaba sendo Olmir Cadore (PSDB), parlamentar bolsonarista e integrante "informal" da frente anti-PT, que também deve ficar sem a Comissão de Saúde da Câmara neste próximo ano, seu principal pleito.
Já em relação aos riscos, caso confirme posicionamento favorável à eleição de Denise, o PSDB lidará com possível oposição de parte dos parlamentares anti-PT (principalmente Marcon e possivelmente Daneluz) em votações, além da dependência de pautar projetos do Executivo por parte da presidência.
O QUE ESTÁ EM JOGO
- Definição de novo xadrez no Legislativo: se Gladis for eleita, PT deve intensificar oposição; se Denise for eleita, Marcon deve se tornar mais opositor ao governo e usar resultado contra bancada governista e demais vereadores que votaram a favor de Denise.
- Visibilidade política: vereadores de direita que devem votar para Denise podem perder capital político por apoiar PT, no entanto, devem ser recompensados com comando de comissões, lugar na Mesa Diretora e manutenção do acordo. A vereadora que ficar com o comando da Mesa também garante visibilidade naturalmente.
- Andamento da pauta: frente anti-PT argumenta que presidência da oposição atrasaria votação de projetos do governo, como reformas da previdência e administrativa.
DENISE X GLADIS
Quem disputa: Denise Pessôa (PT) e Gladis Frizzo (MDB)
As chapas: Gladis Frizzo/MDB (presidente), Ricardo Daneluz/PDT (primeiro vice-presidente), Maurício Scalco/Novo (segundo vice), Mauricio Marcon/Podemos (primeiro secretário) e Sandro Fantinel/Patriota (segundo secretário); Denise Pessôa/PT ainda não inscreveu e nem anunciou quem vai compor a chapa
Tendência: 15 votos favoráveis a Denise contra 8 favoráveis a Gladis.
Quem deve votar em Denise: Adriano Bressan (PTB), Clovis Xuxa (PTB), Denise Pessôa (PT), Estela Balardin (PT), Gilfredo de Camillis (PSB), Juliano Valim (PSD), Lucas Caregnato (PT), Marisol Santos (PSDB), Olmir Cadore (PSDB), Rafael Bueno (PDT), Renato Oliveira (PCdoB), Tatiane Frizzo (PSDB), Velocino Uez (PTB), Wagner Petrini (PSB), Zé Dambrós (PSB)
Quem deve votar em Gladis: Alexandre Bortoluz (PP), Elisandro Fiuza (Republicanos), Felipe Gremelmaier (MDB), Gladis Frizzo (MDB), Mauricio Marcon (Podemos), Maurício Scalco (Novo), Ricardo Daneluz (PDT), Sandro Fantinel (Patriota)
DENISE PESSÔA (PT)
Metas de gestão
"A gente tá passando por um período da questão da pandemia, estamos ainda retomando economia, eventos e entendo que a casa legislativa precisa retomar questão da participação social. A finalidade de uma casa legislativa é representar a população e a melhor forma para isso é estar em contato com o povo. Entendo que a nossa gestão vai conseguir pensar formas e diálogo com o povo, tivemos várias ações ao longo da história que dialogaram com a população e entendo ser necessário retomar, como Câmara Vai aos Bairros, e outras formas mais modernas de participação".
Conduta
"Se analisarmos, dos projetos que vieram do Executivo, de 80 apenas sete a bancada do PT realmente votou contrário. Isso demonstra que a nossa posição como bancada, mesmo sendo oposição temos responsabilidade e não vamos ser contra por ser contra, não vamos ficar trancando pauta por birra, temos responsabilidade com a cidade, entendemos que temos de ter diálogo com todos os partidos, inclusive Executivo. Tenho praticamente 13 anos de vida pública e nunca tive uma atuação irresponsável, acho que isso dá segurança aos vereadores".
Disputa ideológica
"É um discurso que ainda quer fazer um terceiro turno na eleição. Para a casa legislativa é muito ruim, pois a casa legislativa tem de respeitar as diferenças. Ser contra um partido é negar o caráter democrático da Câmara".
GLADIS FRIZZO (MDB)
Metas de gestão
"Temos algumas reformas estruturais para fazer, inclusive no acesso à internet, a nossa internet é ruim e tenho que primeiro ver se vou ganhar, se ganhar vou me inteirar de mais assuntos, não sei quais são os problemas internos da casa, mas isso a gente vai aprendendo".
Conduta
"A única diferença que eu vejo, não falo a Denise, que é uma pessoa ótima, maravilhosa, mas vejo o PT como oposição ao governo, uma vez que quem disputou as eleições municipais foram o PT e o PSDB".
Disputa ideológica
"Coloquei meu nome à disposição para que haja mais democracia. Não precisamos fazer acordos, fizemos levantamento na Câmara e teve só um ano que foi respeitada a proporcionalidade. Esse discurso de proporcionalidade não procede. Então acho que precisamos democraticamente ter uma segunda opção, mas quem vai definir isso são os vereadores, bem tranquilo. Não sei se eles estão votando no PT, mas estão votando no acordo que fizeram. Se eles votarem no PT é uma escolha deles, se achar que isso não prejudicará o governo fica a interpretação deles, mas na verdade acho que não é só isso, é um acordo que fizeram para cargos".