O primeiro ano da atual legislatura se aproxima do fim e com isso se avizinha também o confronto da primeira polêmica surgida ainda antes da atual legislatura assumir na Câmara caxiense: a possibilidade de Denise Pessôa (PT) assumir a presidência da Casa. A eleição da Mesa ocorre na última sessão ordinária, no dia 15 de dezembro.
Instantes após ser diplomado, Mauricio Marcon (sem partido) prometeu tentar evitar que o Partido dos Trabalhadores comandasse a Câmara. O movimento iria contra um acordo informal que destina a função em rodízio para as maiores bancadas em uma legislatura. No caso da atual, as bancadas do PTB, PT, PSB e PSDB. A bandeira levantada por Marcon gerou controvérsia.
Nos bastidores, entretanto, a tendência é de que Denise já tenha maioria do plenário em apoio à sua condução à presidência. Ainda assim, o assunto é tratado com cautela, tanto por parte da petista, que se reserva não informar quantos votos já teria "conquistado" informalmente, quanto de Marcon, principal opositor, que reconhece o rumor de tendência de Denise ser eleita, mas, ainda assim, defende que muita coisa pode acontecer até o dia da votação.
— Se diz realmente que ela está na frente, fico chateado, pois mais uma vez a vontade da população não vai ser respeitada. Foi criado pseudoacordo de representatividade, mas aí é uma questão de como se colocam os números, pois ficou claro nas urnas que não era isso que as pessoas queriam. Tanto é que o Adiló teve só 15% dos votos no primeiro turno, então o que venceu no segundo turno na verdade foi a não escolha do PT — acredita Marcon.
Para Denise, além de representar um avanço na abertura de diálogo com o governo, se a situação se confirmar também se configura como um recado ao próprio opositor.
— É um recado da democracia, de que tem de respeitar os outros partidos. Nunca se teve oposição para se definir presidente por causa do partido que se pertence, afinal o vínculo partidário é inerente de todo parlamentar — ressalta a parlamentar.
Única possível candidata de chapa alternativa cogitada, a vereadora Gladis Frizzo (MDB) disse ao Pioneiro não ter "muito interesse" em concorrer e que seu nome foi especulado pela chamada frente anti-PT, o que admite ter lhe lisonjeado na ocasião, mas que atualmente não lhe atrai como possibilidade.
"VAI TER OUTRA CHAPA"
Questionado se a tendência era mesmo se opor à presidência de Denise, o vereador Ricardo Daneluz (PDT) disse que vai esperar a apresentação de chapas concorrentes. Segundo ele, pelo menos uma segunda opção se apresentará:
— Estou aguardando as opções da eleição da Mesa. Não terá chapa única. Eu não (se colocaria à disposição), mas terá outra chapa sim. Não se tem esse nome ainda, mas certamente terá.
Coerência relativa
Na visão de Denise, a sua eleição represetaria o cumprimento de um acordo prévio e, portanto, coerência no critério de representatividade que precede a atual legislatura:
— Entendo que a maior parte terá coerência em respeitar a representatividade dos partidos. Isso significa a construção de uma das maiores aberturas de diálogo. Não vejo uma justificativa convincente para tentarem mudar o acordo.
Já Marcon avalia como incoerente o aval favorável da condução de Denise por parte de vereadores de direita ou que se classificam como anti-petistas.
— Não adianta dizer nas urnas que vai contra as ideias da esquerda e chegar aqui e na primeira oportunidade vender a alma para ter uma comissão. Não é minha postura. Se outros vereadores pensam nisso, então eles têm de responder para os eleitores deles. Vereadores que se elegeram com postura contra o PT e aí vão fazer aliança com o PT é falta de coerência completa — dispara.
Únicos votos contrários prováveis, além de Marcon, são dos vereadores Maurício Scalco (Novo), Alexandre Bortoluz (PP), Ricardo Daneluz (PDT), Sandro Fantinel (Patriota) e Elisandro Fiuza (Republicanos).
Depende da base governista
Entre não-confirmados e indecisos, sabe-se que o posicionamento da base governista terá relevância para definir a eleição da Mesa Diretora. Os três vereadores da bancada do PSDB afirmam que ainda não há decisão concreta e frisam ainda as semanas que restam antes da votação como uma possibilidade de novas situações surgirem. Ainda assim, tanto Tatiane Frizzo quanto Marisol Santos sinalizam pela possibilidade de os tucanos votarem favoráveis ao acordo.
— Não tem nada definido, mas a possibilidade é de que seja mantido— ressalta Tatiane.
Já Marisol salienta que a incógnita não envolve o partido ou o nome de Denise, mas o que o comando da oposição representaria aos trabalhos:
— Muita coisa pode acontecer ainda nesses próximos dias, mas eu considero o argumento da representatividade. Objetivamente, a questão principal é: o que representa a presidência? Não o fato de ser a Denise ou o partido dela, não é esse o argumento. Nossa dúvida é saber se a presidência representaria problemas para a comunidade — questiona.
Em outras ocasiões, Denise garantiu que respeitaria posição "republicana" e não pretende obstruir pautas governistas ou dificultar os trabalhos se fosse eleita presidente.
Marcon pressiona
Para Mauricio Marcon, a responsabilidade de articular impedimento do PT frente ao Legislativo seria da base do governo.
— Quem deveria estar correndo atrás dos nossos votos é o governo, não nós tentando resolver um problema que eles mesmos vão criar pra eles. Todo mundo sabe que depois das eleições a postura de paz e amor do PT não vai mais existir. Seria como o Bolsonaro colocar a Maria do Rosário na presidência da Câmara dos Deputados e fazer força para que ela seja eleita. Estamos abertos à apresentação de uma chapa que venha do governo, se não vier fica caracterizado que querem apoiar o PT— comenta.
E ameaça.
— Ali na frente o governo pode perder apoio que teria nosso, pois se ele sinaliza que o que ele pensa não é o que a gente pensa estamos desalinhados.
Na visão dos governistas, a situação é oposta:
— Ele que é o maior interessado e que deveria então fazer essas articulações — dispara Tatiane Frizzo.