Como se ensaiava, o Sete de Setembro deste ano foi de muita movimentação política no país. A data simbólica, tradicionalmente marcada por desfiles e outras atividades alusivas à independência do Brasil, foi símbolo, desta vez, da divergência política. Atos tomaram ruas da maioria das cidades brasileiras, em mobilizações de um lado favoráveis ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e contra os demais poderes instituídos, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, enquanto também houve atos em contraponto, como o Grito dos Excluídos. Em Caxias, apenas apoiadores do presidente promoveram manifestações, com o chamado tratoraço e concentração na Praça Dante Alighieri.
Pelo fato de muitos manifestantes pedirem intervenções no STF, discute-se, em nível nacional, se os protestos foram atos-antidemocráticos, o que traria riscos ao Governo Bolsonaro e agravaria a crise na relação entre os poderes. Em Caxias, Sandro Fantinel (Patriota), um dos organizadores da manifestação, Ricardo Daneluz (PDT), Adriano Bressan (PTB) e Alexandre Bortoluz (PP) fizeram questão de divulgar participação no movimento.
Para saber a posição dos demais vereadores, o Pioneiro pediu aos 23 parlamentares como avaliam os atos ocorridos em Caxias. Apenas a vereadora Gladis Frizzo (MDB) não respondeu à reportagem. Dos demais, além das naturais manifestações de apoio dos bolsonaristas na Câmara (já mencionados, com o acréscimo de Mauricio Marcon) e da oposição declarada dos partidos de esquerda (PT e PCdoB), os demais se posicionaram de forma ponderada, alguns evitaram a avaliação e outros enfatizaram que as manifestações deixaram de lado pautas importantes, como custo de vida e desemprego dos brasileiros.
NA FOTO, MAS NÃO NO ATO
O prefeito Adiló Didomenico (PSDB) também surgiu em foto com Fantinel e parte da organização do ato, mas disse que esteve na Praça Dante Alighieri, pela manhã, para acompanhar atividades de órgãos e programas da prefeitura (veja o que disse o prefeito na coluna Mirante). Questionado, se disse desconfortável em avaliar os atos presidenciais e não entrou no mérito do próprio ato em si.
O que os vereadores disseram
"No meu entendimento, foi uma manifestação democrática, baseada no descontentamento de uma grande parcela da sociedade com a atuação do Supremo Tribunal Federal, principalmente no que tange às liberdades individuais." Adriano Bressan (PTB)
"Com respaldo na ordem jurídica, foram atos legítimos vinculados à liberdade de expressão e à democracia, em prol das instituições políticas, da soberania popular, da ordem pública e do Brasil. Nada mais do que isso." Alexandre Bortoluz (PP)
"Cumprimento quem organizou o tratoraço e para quem foi para a praça. Nada contra, mas meu manifesto é diferente, é pela gasolina, é pelo preço da carne, pelo custo do açúcar, do arroz, do azeite, leite, a luz. O meu manifesto é em prol das pessoas que passam essas necessidades. O meu manifesto é que o trabalhador tenha condições ao trabalho, a colocar gasolina e passear com sua família, comprar tênis e roupas para seus filhos." Clovis Xuxa (PTB)
"Atos contra a democracia que atacam e pedem o fechamento de instituições como o STF e o Congresso Nacional são atos antidemocráticos e devem ser repudiados. As pessoas que foram às ruas manifestar descontentamento com a situação política e econômica no Brasil entendo ser legítimo." Denise Pessôa (PT)
"A população era um gigante que estava adormecido, e agora está lado a lado com seus representantes pleiteando suas demandas. Feliz a Nação cujo Senhor é Deus. Salmos 33:12." Elisandro Fiuza (Republicanos)
"Não consigo entender uma manifestação favorável ao governo no Brasil atual. Não há o que comemorar no Brasil de Bolsonaro. O Brasil que eu vejo atualmente é o Brasil da falta de esperança para a juventude e para o povo pobre. O Brasil com a volta da fome, do elevado custo de vida, do gás, da luz, da gasolina e da cesta básica, caríssimos. Portanto, no Brasil hoje não há outro movimento senão o de total desagravo ao governo corrupto e incompetente de Bolsonaro." Estela Balardin (PT)
"Cada vez que vejo atos como esses, valorizo ainda mais a importância de Ulysses Guimarães para a redemocratização do país, que permite a livre expressão sempre em defesa da democracia. Não podemos recuar nada no sistema democrático." Felipe Gremelmaier (MDB)
"Respeito as manifestações. A separação entre os poderes, os símbolos nacionais e a nossa Constituição. Devemos lembrar que em Sete de Setembro comemoramos a Independência do Brasil. Desta forma, somos todos brasileiros." Gilfredo de Camillis (PSB)
"Toda manifestação é legítima, pois transmite a vontade de uma parcela da população. Acompanhei manifestações pacíficas, como a que ocorreu em Caxias do Sul, mas também houve episódios de confronto com a polícia, o que não deveria ocorrer. Lamento que muitas pessoas não estavam de máscara e isso expõe muita gente ao vírus. Referente às declarações do presidente, acho que em alguns momentos ele fez ataques que não deveria fazer como chefe máximo do nosso país. Espero que essa fase que vivemos passe logo e o país volte a ter paz e desenvolvimento." Juliano Valim (PSD)
"Os atos e protestos fazem parte da organização social, entretanto usá-los para aviltar o estado democrático de direito, que é justamente o que garante a livre expressão, é no mínimo antidemocrático e flerta com o autoritarismo dos dias mais tenebrosos que já vivemos no país. O Brasil possui uma árdua tarefa de reconstrução, de garantia de dignidade ao povo e de enfrentamento à crise sustentada pelo governo federal." Lucas Caregnato (PT)
"Respeito a livre manifestação (algo que é inerente à democracia), desde que ela seja feita com responsabilidade e dentro dos preceitos da Constituição Brasileira. É muito importante a mobilização da comunidade por um país melhor, mais justo para todos. O que não podemos é incitar a violência aos que pensam diferente ou o desrespeito aos poderes constituídos, o que acaba deixando de lado pautas que deveriam estar no centro das discussões no país, como saúde, educação, emprego e renda." Marisol Santos (PSDB)
"Penso que foram grandes e bonitos e principalmente ordeiros, ao contrário do que boa parte da mídia pregava, mostrando a força e o patriotismo do povo brasileiro. Uma pena que a esquerda não fez o protesto que tinham organizado, até para que houvesse o comparativo e medição de forças. Pelo que eu soube, a chuva atrapalhou os planos deles." Mauricio Marcon (sem partido)
"Sete de Setembro é dia de se celebrar a liberdade. Eu respeito a Constituição, o voto popular, e penso que o STF se mostra muito autoritário. A democracia pede diálogo, e não confronto." Mauricio Scalco (Novo)
"Dentro do viés da liberdade de expressão, preciso respeitar toda a manifestação popular pela democracia. Sendo qual for a origem." Olmir Cadore (PSDB)
"A gente tem que botar na mesa algumas pautas, porque no Brasil, hoje, a renda das pessoas é mínima. As pessoas saíram da pobreza para ir para a miséria no nosso Brasil, milhões de pessoas. (...) 15 milhões de desempregados no nosso país, nunca na história do Brasil se teve uma marca como esta. Parabéns aos brasileiros que foram às ruas ontem (terça-feira), e continuarão indo cada vez mais pedir respeito à democracia e ajuda àquelas pessoas que realmente precisam e que não têm um grão de alimento para se alimentar, um pão e um leite." Rafael Bueno (PDT)
"Os atos foram pró-presidente, mas foi um ato de desrespeito ao STF, tem de respeitar essa instituição. Pensei que a pauta seria a questão do desemprego, o preço da alimentação, da luz, essa crise hídrica. Pensei que o presidente fosse falar dessa situação, temos quase 15 milhões de desempregos e em nenhum momento foi falado disso no ato. Voto impresso é pauta vencida. (Foi) Antidemocrático, com certeza. Alguns momentos poderiam ser mais em favor da população. Além disso, quantas pessoas morreram no país? Poderia ter manifestado solidariedade com as famílias." Renato Oliveira (PCdoB)
"Um ato de patriotismo, do povo celebrando o dia da independência, o orgulho de ser brasileiro, a esperança de dias melhores." Ricardo Daneluz (PDT)
"A direita mostrou que é a maioria no Brasil. A Marcha dos Excluídos, desistiram porque iam se molhar, estava chovendo. Aí você vê os agricultores fazerem 50 quilômetros de trator sem uma cabine, embaixo de chuva. A direita é a maioria, apoia o presidente Jair Bolsonaro. Os movimentos foram um sinal dado ao STF, para o Congresso, o povo mandou um sinal de com quem ele está. Eu só espero, não é o que eu quero, mas espero que o presidente não dê ordem para esse mesmo povo se manifestar de outra maneira, pois se ele der essa ordem a gente vai se manifestar de outra maneira. (...) Está na mão dele decidir o que é bom e o que é ruim para nós e o que ele decidir nós vamos apoiar." Sandro Fantinel (Patriota)
"Acredito que toda e qualquer manifestação deve ser respeitada, desde que ocorra de forma democrática, pacífica e ordeira." Tatiane Frizzo (PSDB)
"Vivemos em um país democrático. As pessoas podem e devem se expressar. A liberdade de expressão deve ser seguida, mas com responsabilidade, ética e compromisso. Crescemos no debate utilizando o diálogo e o contraponto. Sempre fui e serei um defensor da democracia com direitos e deveres iguais para todos os milhões de brasileiros." Velocino Uez (PTB)
"Nossa cidade presenciou uma grande manifestação que deve ser respeitada. Isso só foi possível, pois vivemos em uma democracia. Sigamos assim." Wagner Petrini (PSB)
"Sim, respeitamos as manifestações, mas antes meu respeito à Constituição e todas as esferas de poder." Zé Dambrós (PSB)