De reconhecida trajetória comunitária, José Dambrós (PSB) ingressou em primeiro mandato na Câmara de Caxias com prioridades claras. A mais evidente delas é concretizar conquistas em demandas da Zona Norte, onde sempre atuou como comunitarista. Ao Pioneiro, Dambrós falou sobre o início de legislatura, percepções do governo e suas principais bandeiras. Confira trechos da entrevista:
Esse início de mandato está dentro da sua expectativa?
Vem dentro das expectativas. Sou mais das questões simples, locais. Acho que sou um dos vereadores que mais encaminhou indicações, fiz pedidos de informações, criei frente parlamentar. Se eu mostrar meu celular tu vai se apavorar, é muita demanda. E uma bandeira muito grande do meu mandato é a defesa pela Codeca. Acho que tem saída (a situação financeira da empresa). A Codeca está com este governo há um ano e cinco meses, porque Adiló foi governo no ano passado. Deu prejuízo de R$ 6 milhões? Bom, mas não viram que tinha de fazer modificações?
A direção da Codeca sempre reiterou que apesar das contenções de custos os serviços não devem ser comprometidos. Mas se observa uma série de problemas, como a própria coleta, com as associações de reciclagens. Qual sua opinião sobre a condução da empresa?
Quando a gente percebe que a Codeca está comprometida com praticamente tudo que entra de recursos para pagar a folha e não sobra nada para investir e deve para fornecedores, chega a dar medo. Mas tenho tido entendimento que essa diretora (Helen Machado) está se empenhando e merece seguir nesta linha. Agora, o que falta é um "conselhão", que as secretarias afins saibam que a Codeca existe e veio para fazer serviços da cidade. Não é possível o primo rico, o Samae, não ampliar contratos com a Codeca, Secretaria de Obras, Trânsito, Meio Ambiente, Planejamento.
O governo já anunciou que não vai ter Orçamento Participativo/Comunitário, essa articulação entre bairros e poder público vai ocorrer por meio da Assessoria Comunitária e Regional. Como o senhor vê essa remodelação?
Eu coordenei quatro anos o Orçamento Comunitário no Governo Alceu (Barbosa Velho/PDT, ex-prefeito). Fazíamos 250 reuniões por ano, tinha em torno de R$ 12 milhões para gastar. Eu penso que se não tem dinheiro, vai fazer o quê? Alimentar a esperança de prometer? O que eu penso é só que não se pode perder o papel de ter esse elo entre o poder público e as lideranças comunitárias.
E sobre o posicionamento do PSB na Câmara. Está mais para oposição ou apoiador do governo?
Tudo aquilo que for bom vamos votar a favor. O que achamos que não é bom para a sociedade vamos votar contra. Não é oposição ou situação. Não estou preocupado com daqui a quatro anos, estou preocupado que o governo funcione. Acho que o problema todo é a pandemia. Acho que o Adiló tem boas intenções, está bem cercado, os secretários nos atendem muito bem. Agora, não vou concordar se achar que algo não está bem.
O que pensa sobre os debates ideológicos na Câmara? Acha relevante diante desse contexto que o senhor comentou sobre a alta quantidade de demandas?
Jamais vou entrar numa discussão ideológica. Isso não me interessa, não é meu perfil. Eu quero saber por que não começamos ainda a Capela Mortuária no Vila Ipê. Quero saber por que não foi feito fechamento da quadra da Escola Tancredo Neves, que já foi assinado início da obra. Meu trabalho é comunitário, é melhorar a vida das pessoas nas coisas mais simples. Não adianta a gente pensar em Brasília e esquecer o vizinho, o nosso redor. Mas cada vereador tem seu perfil, seu eleitorado. Não adianta eu querer falar em CIC, não sei o quê, não é meu perfil, meu perfil é o movimento comunitário. Tenho demanda de toda a cidade, faço o possível. Me envolvo com muita coisa, mas não preciso estar descrevendo quem a gente ajuda.
O Marcon, por exemplo, tem projeto de doação de salário e promove a divulgação de forma recorrente. Disse na época que poderia ser uma forma de dar exemplo. O que pensa?
Eu dou os parabéns que ele tem as condições de fazer isso. Mas ele faz do jeito dele e eu faço do meu. Às vezes ele ajuda duas entidades por mês e eu ajudo 20, cada um tem seu jeito de trabalhar, não sou contra o dele, mas tenho o meu. Prefiro trabalhar a questão social que eu sempre trabalhei.
O senhor é bastante presente nas comunidades. Como sente a percepção dos bairros sobre o Governo Adiló?
A sociedade está compreendendo o momento. Agora, foi prometido bastante coisa. Acho que no segundo ano se não tiver recursos no município tem de sair buscar. Qualquer subsídio que vier no futuro para a Visate eu vou votar contra. Subsídio tem de dar para o trabalhador. Fiz indicação que a FAS comprasse passagens e desse como ajuda às famílias que mais precisam. Vai procurar emprego? Passa na FAS e ganha passagens. Vai almoçar no restaurante Comunitário? Ganha passagem, vai levar filho ao médico... Ou seja, ampliar a quantidade de passagens, não dando para a Visate, dando para quem mais precisa. Nós já ajudamos demais a Visate, agora já deu. Daqui a pouco tu está incentivando as pessoas a andar de aplicativo e não andar de ônibus. Eu sugeri que houvesse um estudo por distanciamento. Vai usar transporte para longa distância? Tudo bem, vai ter de pagar R$ 4,75. Agora, vai usar ônibus para poucas paradas? Paga menos. Ainda tenho esperança de que o prefeito Adiló vai achar saída para, em algumas circunstâncias, chegar aos R$ 3,50.
Vemos a UAB apoiando bastante o governo, sempre exalta que melhorou o diálogo. Mas na sua visão, a entidade atualmente cobra o suficiente ou atua mais em compreensão ao poder público?
Atenção eles estão tendo, mas só atenção não adianta, tem de resolver os problemas. O problema é que a prefeitura não tem estrutura neste momento. Tem previsão de vir novos equipamentos para a Secretaria de Obras, que bom. A UAB está tendo dificuldades para fazer reuniões, estão meio dispersos, mas os presidentes de bairros cobram.
Que nota daria para esse início de Governo Adiló?
Seis.
É um pouco baixa, não? Por quê?
Só seis meses. Se for analisar, até agora só votamos incentivo para a Visate. Tem coisas andando, mas é muito cedo ainda. Tenho expectativa de que vai melhorar muito. No geral, a maioria dos secretários têm muito empenho, mas não têm as armas que precisam. Tem de passar a pandemia.