Fechando cinco meses de mandato, Mauricio Marcon (Novo) se destaca como um dos mais polêmicos vereadores da nova legislatura na Câmara de Caxias. Idealizador da informal "frente anti-PT", ele promove a maior parte dos embates ideológicos no legislativo caxiense. Ao Pioneiro, ele fez uma autoavaliação do início de mandato e falou sobre os momentos polêmicos que já se envolveu nesse período. Confira trechos da entrevista:
Como avalia o início de mandato? Dentro da expectativa?
Sim, está dentro da minha expectativa. Como o mandato em si já tivemos algumas ações relevantes. Teve a questão da contribuição confederativa, que ia ser cobrada de forma errada pelo sindicato, calculei mais de R$ 6 milhões que o Ministério Público do Trabalho conseguiu barrar dessa cobrança junto aos metalúrgicos e outras categorias também, temos cinco denúncias junto ao MPT contra sindicatos por cobranças indevidas. Ao longo do mandato estamos com essa frente na questão do serviço funerário, que é um problema que vem de muitos anos, identificamos um serviço que é prestado sem contrato junto ao poder público, sem controle de preço e pior, o monopólio. Vamos abrir uma CPI, Caxias depois de 20 anos vai ter uma CPI.
E no plenário? Pretende manter a mesma linha?
Sou bastante combativo, tento me informar de várias fontes e abordar muita coisa que passava despercebida no plenário. A linha que sigo é um complemento da do Scalco, que é mais de projeto, mais técnica, a minha é mais ideológica, de plenário mesmo. Acabamos nos complementando e atacando as duas frentes que são essenciais.
O senhor não apresentou nenhum projeto ainda. Tem algo em vista?
Temos, um em linha inclusive com o Trump, que a cada nova regulação que for criada, duas têm de ser retiradas. Temos sim alguma coisa de projeto. A gente acompanha com Scalco, alguns construímos juntos. Antigamente se tinha essa vaidade para ver quem apoiava mais projetos e passamos a ter Dia do Tricô, Dia do Vizinho, projetos inconstitucionais aos montes. Particularmente vou me focar mais em fiscalizar, tanto no Legislativo quanto na comunidade. Projetos vamos apresentar ao longo do tempo, as demandas vão surgindo e a gente vai aprendendo.
E o projeto de doação de salário, quantas entidades foram ajudadas até o momento?
Fizemos o quinto sorteio neste domingo. Já foram ajudadas oito entidades, desde escolas municipais, defesa de animais, alimentos para comunidades carentes... É interessante porque logo que comecei a divulgar tiveram ex-vereadores e ex-vice-prefeito questionando quanto tempo ia durar, pois bem, já está durando cinco meses e é um relacionamento muito sério meu com dormir de noite, então prometi e não vou descumprir, lá no final dos quatro anos vamos ver o que o pessoal que criticava vai dizer sobre isso.
Muita gente acusou o senhor de demagogo e até nas próprias manifestações em plenários dizem que "joga para a torcida". Como vê essas críticas?
Eu vejo que árvore que não dá fruto não recebe pedrada. Quanto tenta mudar um sistema já enraizado, muitas vezes até pela esquerda que tem essa visão assistencialista, mas com dinheiro dos outros, ficam incomodados. Quem critica é porque não consegue fazer o mesmo ou se sente incomodado de não querer fazer o mesmo e alguém está fazendo e acaba sendo cobrado pelos seus eleitores. Não tenho culpa.
Essa postura mais combativa lembra um pouco o estilo do Daniel Guerra quando vereador. Ele é uma referência para o senhor?
É uma postura minha. Qualquer coisa que faz na vida acaba sendo comparado a alguém, ainda mais se tem relevância. Acho que o Daniel Guerra tinha posições burras, depois que estamos lá dentro (da Câmara) descobrimos de pareceres que já tinham sido lidos e ele pedia que lessem de novo, coisas que não agregam nada à cidade. Se tem uma postura combativa tentando defender o certo deveria servir de exemplo e não servir para comparações pejorativas. Não pretendo concorrer ao Executivo em 2024. Sigo tendo minhas convicções imutáveis, se for comparado com alguém, paciência, mas daqui a pouco estou criando novo estilo, de fazer uma oposição inteligente de coisas erradas e se possível ser copiado pelos próximos.
O debate ideológico pode ser considerado picuinha em muitos casos. Não trava o andamento dos trabalhos e acirra os ânimos num cenário de política já hostil?
Acho exatamente o contrário, tudo que temos no nosso país vem de uma consturção ideológica. Eu acho que é importante começarmos a ter um contraponto, porque o modelo que nos trouxe aqui não funcionou, o Brasil hoje é um país pobre e é por questão ideológica. Pegamos o método de ensino, ele não funciona, pois foi plantado sistema de educação baseado numa ideologia. Se não formos discutir ideologia, particularmente não preciso estar na Câmara. Acho que muitas das leis aprovadas são ideológicas. Se não tivermos essa discussão, talvez meu papel seja irrelevante na Câmara. Quem fala que é irrelevante não entende a profundidade que se tem uma questão ideológica.
Um dos pontos chamativos do seu início de mandato foi a formação da frente anti-PT. Está satisfeito com esse grupo?
Essa palavra que eu usei no início ficou bem evidente e é bem explorada pela imprensa. O PT na verdade é um partido que representa tudo o que esses vereadores não acreditam. Automaticamente quando temos mais convergências do que divergências acabamos nos unindo com objetivo de bem maior. E a gente acredita que o PT foi muito danoso e as ideias da esquerda em geral são muito danosas. Temos esse grupo de whatsapp então que conversamos sobre as pautas, votações, às vezes votamos de forma separada, mas é uma visão de mundo bem semelhante. Mas eu estava há pouco conversando com a vereadora Estela Balardin (PT), que vai propor uma moção e veio pedir meu apoio. Então às vezes a gente tem convergência até com moções da esquerda, mas em âmbito geral temos mais afinidade com esses vereadores.
O termo anti-PT acaba tornando a iniciativa, em tese, não propositiva por essência, por ser contra algo. Pretendem ser mais propositivos?
O que tem atrás de uma frente anti-PT? Não aceito que o PT seja presidente da Câmara em 2022. Esse era o ponto que prometi lutar contra e estou lutando, para que possamos construir uma alternativa para que Denise Pessôa (PT) não seja presidente da Câmara em 2022. Não posso conceber que uma ideologia comande uma cidade de 500 mil habitantes e que rejeitou esse projeto de poder. Fui eleito com objetivo de combater ideias de esquerda. Quais são ideias de esquerda? De mais estatistmo, serviço público maior, mais caro, mais direitos e menos deveres. Não compactuo com as ideias deles, não tenho nada contra as pessoas deles. Vou lutar para que Denise Pessôa não seja presidente da Câmara em 2022, mas sempre de forma republicana, da forma correta, do diálogo. Daqui a pouco a nomenclatura usada não foi propositiva, mas o objetivo era propositivo.
E sua posição diante do governo... Tanto a frente, quanto o Novo, parecem apoiar bastante o governo, desde aquela primeira votação de corte de benefícios a professores na passagem de ônibus e isenção tributária da Visate. Vocês se consideram mais próximos do serem aliados do governo ou oposição?
Nem um, nem outro. Seguimos sendo independentes. Continuo achando que uma empresa que presta serviço como a Visate, que é para pessoas mais carentes, tem de ter sim isenção de impostos, senão a passagem ao invés de R$ 4,75 estaria R$ 5. Gratuidade alguém paga. Então, quando forem propostas que vão de encontro a valores e princípios do partido votarei favorável, quando forem contrárias votarei contra. Até agora não teve nenhum projeto que considere que tenha votado errado. Estou satisfeito comigo mesmo.
Com relação à liberação das aulas presenciais. Tivemos a situação de surtos, o senhor sempre defendeu a volta das aulas. Acha que foi movimento equivocado? E a não-priorização dos professores na vacinação, como vê isso?
De maneira nenhuma equivocada, acho que foi muito tarde. Teve um pai que veio na minha loja que confessou que o filho de 9 anos desaprendeu a interpretar um problema, não consegue mais ler e entender, porque aulas online não funcionam. Surtos nós temos em escolas, empresas, restaurantes. Isso é normal, não é porque a escola abriu que teve surtos. Quando discutimos vacinação de professores, acho que temos de seguir o que foi preestabelecido. Não posso conceber que uma pessoa de 25 anos saudável possa ser vacinada antes de uma pessoa de 55 com comorbidade simplesmente pela área de atuação. Não podemos separar as pessoas com classes, diferente com as pessoas da saúde, que aí sim estavam ligadas diretamente à covid. Mas esse assunto dos professores é mais político do que racional.
Como avalia os primeiros meses do Adiló?
Se fosse dar uma nota seria 7,5. Acho que tem uma visão muito mais estatista do que eu tenho. Já sugerimos várias vezes, por exemplo, que a Codeca seja privatizada. O momento de pandemia também é complexo, ninguém queria estar na pele dele, pois acaba jogando com empregos e vidas, pressão de todos os lados. Por mais que estejamos completando o cinco mês ainda é cedo para fazermos uma avaliação mais profunda, mas acho que poderia melhorar, mas não está ruim.
Tradicionalmente pessoas acusam o Novo de ser o PSDB numa nova embalagem, mas hoje surgem alguns comentários dizendo ser um partido de esquerda disfarçado. Afinal, na prática, o que é o partido Novo? E, na sua visão, ele está conseguindo provar seu ponto?
A gente, tanto em nível federal, estadual e municipal, tem cumprido o que propomos, de sermos uma fiscalização austera dos gastos públicos, leis propositivas e que tirem a burocracia. Estamos indo no caminho correto, claro que sempre teremos divisões, mas natural. Se comparado aos outros partidos, o Novo é o melhor partido que tem. Perfeito não existe, então temos de tentar chegar o mais próximo do ideal.
Sabemos que tem contrariedade com a gestão do Eduardo Leite. E o Governo Bolsonaro?
Temos pontos positivos e negativos como qualquer governo. A pasta do ministro Tarcísio, por exemplo, acho positiva, não tivemos denúncias de corrupção nos últimos dois anos e meio em obras e empreiteiras, aparentemente isso deu uma estancada, tivemos avançamos significativos. Mas temos pontos negativos, contesto muito a indicação do Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF), acho que muitas vezes ele (Bolsonaro) ter colocado em dúvida a questão da seriedade da pandemia eu não concordo. Não que eu não seja contra o lockdown, sou contra, mas acho que a gente deveria ter levado isso de forma mais séria. Mas num âmbito geral considero um governo de razoável para bom. Se um dia eu for presidente vou ter pontos positivos e negativos. Por exemplo, o Governo Lula, que teve 95% de pontos negativos, mas criou o ProUni, que nada mais é que o sistema de vouchers na educação que eu tanto defendo. Então, apesar de ter roubado o país sistematicamente e feito tudo que fez, tivemos um ou dois programas positivos.