Depois de 30 anos, Bento Gonçalves voltou a ter representante na Câmara dos Deputados. Paulo Caleffi (PSD), que atua no ramo do transporte em Bento Gonçalves, assumiu a vaga do deputado Danrlei de Deus (PSD), que tomou posse como secretário estadual de Esporte e Lazer do Governo Eduardo Leite (PSDB). Ativo em entidades relacionadas ao segmento, Caleffi é um administrador de carreira, que tem agora a sua primeira experiência na política. Caleffi ficou como primeiro suplente do PSD na eleição de 2018, quando totalizou 31.487 votos. No ano passado, ficou em segundo lugar na eleição à prefeitura de Bento. Ao Pioneiro, ele falou sobre como é exercer pela primeira vez um cargo político e representar a Serra em tempos conturbados. Confira trechos da entrevista:
Como é assumir a responsabilidade de representar a região, desamparada até então nessa legislatura?
Se um deputado luta pelo seu Estado, pela sua região, ele está lutando pelo Brasil. Por isso, a grande responsabilidade é com o povo da minha região. Não conheço todas as reivindicações, mas conheço bastante da área do transporte, sei que a BR-116, perto de Caxias, sentido São Marcos, tem duas curvas que impossibilitam passagem dos veículos fabricados tanto pela Marcopolo, quanto pela Randon. Preciso me envolver com isso, o aeroporto, precisamos que ele aconteça rápido, tenho que me dedicar a isso. E vou trabalhar junto com a bancada gaúcha para que todos pensemos iguais, não sou dono de um espaço, sou meramente o ocupante desse espaço. Por isso, a responsabilidade de um deputado não é com um partido, uma parte, uma ideologia, é com os interesses da região e do Estado que ele representa.
Apesar de representar a região, o quanto é importante representar Bento Gonçalves, que há 30 anos não contava com um deputado federal?
Foi uma surpresa para a nossa cidade. Tive a oportunidade de, no dia seguinte à posse, me encontrar com o (ex) deputado Mauro (Pereira/MDB). Nos cumprimentamos e ele me disse que, uma vez deputado, sempre deputado. Então, fazia 30 anos que não tínhamos representação direta, mas tínhamos representantes de outras cidades que lutavam pelos interesses de Bento. Agora tem um representante da casa, mas ele precisará dividir seu tempo com os municípios vizinhos. Não existe a possibilidade de um município pensar somente nele. Deve ser a política da floresta, somos árvores. A estrada que liga Caxias, Farroupilha, Bento Gonçalves faz parte dos ramos dessa árvore. Então um deputado não pode pensar só na sua cidade, mas numa região, no seu Estado, no povo como um todo, e não só numa determinada parte do povo.
Em tese, o senhor tem mais de um ano, mas se o deputado Danrlei decidir concorrer à reeleição, ele irá voltar em abril, o que daria ao senhor menos de um ano de mandato. Como otimizar esse tempo?
Tenho no máximo um ano. Em dois dias de votação, já fiz muita coisa, então precisamos acompanhar o que acontece, nos unir às pessoas boas e votar. Mas, independente disso, o que eu deixar semeado quando o deputado (Danrlei) voltar, ele vai dar continuidade e eu serei candidato a uma reeleição também. Então, estamos semeando o futuro. Esses dois mil votos que tive em Caxias, por exemplo, se eu pudesse, abraçaria cada um deles e diria que não foi em vão. Quando a gente vota com a esperança de melhorar, estamos fazendo uma excelente parte da democracia. E eu quero dar incentivo a todos aqueles que nunca foram políticos, como eu, para que entrem na política. Vamos precisar ocupar espaços, só assim para melhorar o país.
O senhor nunca teve experiência prévia com cargo político eletivo?
Não, nunca tive, não sou político, não pretendo seguir carreira e vou trabalhar como se fosse executivo da minha empresa. A empresa que eu sempre trabalhei, digo que ela é minha, mas é de outro proprietário, mas eu me envolvi com ela como se minha fosse. Farei o mesmo pela política, tenho que me interessar pelo meu país, meu Estado, pela minha região. Se for necessário concorrer de novo, eu vou concorrer, e se tiver um melhor que eu, vou apoiar.
Tem relação com algum prefeito da região?
Nenhuma. Estou conhecendo os prefeitos agora. Na região, eu conhecia o prefeito Flávio Cassina (PTB).
O Diogo Siqueira se ateve à disputa eleitoral?
É, o Diogo é prefeito de Bento Gonçalves, tenho todo respeito e vou atender ele como todos os prefeitos que aparecem com causa honesta, justa. Todos merecem e terão a mesma atenção, independente da ideologia. Se for por uma causa justa e perfeita, eu vou dar a mão, com certeza. Se não for, eu só vou dar um sorriso.
E sobre a pandemia, qual será sua atuação?
A dignidade das pessoas deve ser pela vida, que é o melhor presente que Deus nos deu, e pelos recursos que fazem essa vida ser melhor: saúde e trabalho. Não dá para nós pensarmos que sem trabalho vamos ter saúde. Vamos adoecer até de nostalgia. Penso que a pandemia não deve ser motivo para que as famílias passem privações e não deve ser motivo para que as famílias percam os seus entes queridos. Vacinem-se, cuidem-se, porém, tenham condições de trabalhar. Essa é a minha filosofia para a pandemia ser enfrentada.
Como avalia o Governo Eduardo Leite na pandemia?
É muito difícil a situação do governador nesse cenário inusitado, ninguém imaginaria que chegaria a esse ponto. Avaliar um deputado, senador, governador sem estar na situação dele é difícil. Não caberia a mim fazer essa avaliação. Mas disse ao governador que tudo aquilo que eu pudesse fazer ao Estado para superar esse momento eu faria. Não posso avaliá-lo, devo ajudá-lo a superar esse difícil momento para o povo gaúcho.
Estando no Congresso, é preciso ter um posicionamento mais enfático político. Como o senhor se posiciona idelogicamente?
O meu partido (PSD) é forte, tem 32 deputados e 11 senadores, é coeso, de centro. Nas votações, ele nos dá aconselhamento, mas nos deixa livre. Normalmente, tem apoiado as decisões de governo, mas somos um partido de centro, e sou contra a política de "nós e eles", não é por aí, sempre tem uma razão justa para a gente se aliar a uma boa causa, então não importa o partido. Só gostaria que meu partido concorresse na próxima eleição com candidato próprio, se não ir para o segundo turno, gostaria que se aliasse à direita. Não me considero uma pessoa de esquerda, essa é minha posição.
E sobre o governo Bolsonaro, como avalia a atuação na pandemia?
É difícil avaliar as pessoas sem estar na situação delas. Até mesmo porque uma maior parte das pessoas ainda hoje, mas a maior parte na época que ela surgiu, não acreditavam que a pandemia teria efeito tão nefasto. Fui um dos primeiros a ter covid-19, tive em fevereiro do ano passado, antes mesmo de se tornar oficial. Quase morri, tive uma doença que nunca tive na minha vida, uma semana terrível. Mas o comportamento do presidente me satisfaz, é difícil agradar a todos, mas me satisfaz. Todos têm direito de errar, falar um pouco demais, o que não devia, mas elegemos uma pessoa para presidente e precisamos que esse país dê certo.
O senhor ficou em segundo na eleição à prefeitura de Bento e quase assumiu a suplência (como deputado) em outras ocasiões. Bateu na trave algumas vezes e acabou assumindo nesse momento difícil. O que pensa da oportunidade surgir nesse momento?
Deus é grande, por linhas tortas ele traça o nosso caminho. Fiquei feliz com essa oportunidade de ser deputado, mas eu entrei para brigar pelas causas boas fazendo política e não quero ser político daquela forma conhecida e tão rejeitada. Quero ser bom exemplo para que outras pessoas entrem na política. Agora, sendo deputado, tenho condições de abrir novo caminho na política.