Em continuidade à série de entrevistas com deputados estaduais da região com enfoque na pandemia, o Pioneiro conversou com Fran Somensi (Republicanos). Confira trechos da entrevista:
Qual sua linha de atuação na pandemia?
Atuamos em várias frentes desde o ano passado, agora temos a Frente Parlamentar de Combate à Covid, com a qual tentamos mostrar um ponto de equilíbrio de ter o comércio, serviços e indústria trabalhando de forma equilibrada com as nossas casas de saúde. Tentamos mostrar mediante audiências públicas com vários profissionais médicos da importância do tratamento no início dos sintomas. Gosto de falar disso, pois, sendo farmacêutica, sei o quanto as pessoas têm por hábito tomar medicações, mas chegamos num momento em que tomar cinco dias de antibiótico é um problema. Essa demora de início de tratamento, essa conduta de alguns médicos de que não dão porque não tem ciência que prove isso, é algo que nos incomodou muito como profissional técnica. E fez com que trabalhássemos muito em cima disso. Colhemos evidências em vários municípios e outros Estados de que os números se tornam diferentes e tentamos desconstruir isso, e não é desqualificar o profissional médico que não acredita em nada para o covid, mas mostrar e dar segurança que os medicamentos estão sendo usados com segurança. Falo isso porque meu esposo é médico (Claiton Gonçalves, esposo de Fran e ex-prefeito de Farroupilha, é obstetra). Mostramos que pode ser diferente, provocamos o Estado a fazer uma normatização Também trouxemos vários exemplos de setores econômicos mostrando que não é ali que é o foco da contaminação. Tivemos a empresa Randon que mostrou, que dentro dela, os profissionais estão mais seguros do que se estivessem em casa sem ter o que fazer.
Você faz esse trabalho com setores econômicos, mas também tem a bandeira do segmento das atividades físicas. É a favor da liberação geral dessas atividades?
Temos nosso projeto que hoje é uma lei do Estado que reconhece atividade física e educação como essenciais. Atividade física pra mim está totalmente relacionada à qualidade de vida das pessoas. Hoje, quando comentamos que um familiar pegou covid e outro não, nos perguntamos por que e, às vezes, quem pegou é porque é obeso, fumante, tem várias coisas que se explicam. Mas vemos vidas perdidas de jovens onde a declaração dos familiares é de que essas pessoas não têm comorbidade. O que aconteceu? O sistema imunológico dessa pessoa estava comprometido ou ineficiente. Como melhora? Com a prevenção, mas posso trabalhar de uma forma que meu sistema esteja melhor respondendo, e uma das melhores coisas para se fazer isso é a atividade física. Profissionais de educação física podem fazer diferença na qualidade de vida das pessoas, pois sabemos que a gordura é a comidinha do vírus. As pessoas que vão para a UTI, o que acontece? Reação inflamatória crônica, quanto mais gordura eu tenho, mais fácil de eu ter essa inflamação, tanto é que não vemos usuários de cocaína com vírus, se parar para olharmos os números, não enxergamos essa população contaminada.
Como avalia a atuação do governo no Estado no enfrentamento à pandemia?
A criação do Comitê de Crise, a ampliação dos leitos, todo esse remanejamento de equipamentos, tudo isso foi positivo. O que eu acho é que chegou o momento que teríamos de avançar nas bandeiras, elas são o norte, regulam o tipo de funcionamento. A minha luta é por um ponto de equilíbrio entre o econômico e a saúde. O maior relaxamento, ou talvez quem não fez o dever de casa. foram os municípios, pois tiveram oportunidade de colocar fiscalização eficiente. Bom, o comércio está trabalhando direitinho...Tem álcool gel, tapetinho com água sanitária na frente, não pode ter tantos funcionários... onde é que contaminou? Não foi no comércio, mas algo estava acontecendo que gerou essa contaminação, e onde estavam as fiscalizações? Deixo muito esse peso em cima dos gestores, hoje os prefeitos estão podendo novamente apresentar plano de fiscalização, inclusive de buscar verba no Estado para aumentar a fiscalização e ser mais eficiente. Onde acho que o governo do Estado pecou foi no 'fechar de novo', não foi isso que resolveu.
E o governo federal, o que acha da atuação?
O Governo Bolsonaro, quanto menos ele falar... Essa dificuldade de tratamento inicial vem de uma briga política com o governo federal, e isso é muito ruim. Quando a gente ouve de um profissional que não tem nada a ver com a saúde falar de um medicamento, quem tem propriedade para falar? Quem conhece. Isso acaba dando um descrédito com a fala, e pior, a politização. Então, o governo federal errou muito, sim, mais em palavras, errou muito nesse sentido, e também foi lento na questão de vacinas. Hoje, temos o Uruguai que vacinou 22% do seu país e começou no início de março. O Brasil começou em fevereiro e temos 11% da população vacinada, ou seja, houve lentidão nisso, atrapalhos, tropeços, e talvez o maior erro é usar o status onde estou para querer achar algo que vai salvar a pátria. Não é um medicamento, não é uma atitude, não é uma ampliação, é uma união de esforços para passarmos por isso melhor. Aí vem a minha responsabilidade em todos os atos que faço.
Você citou o caso da Randon, mas a indústria tem uma realidade diferente, equipe sem rotatividade, diferente do comércio, por exemplo, em que há muita circulação. A gente passa por estabelecimentos cuja medida de segurança é colocar um frasco de álcool gel em cima de um banquinho na entrada. Acha que um segmento tão amplo como o comércio é 'controlável'?
Nós temos de nos unirmos como cidadãos. Se entrarmos em locais que não estão adequados, o que fazemos? Orientamos o cara que tava errado? Diz para ele: 'Pô, é isso que você chama de proteção?'. Por isso acredito que poderíamos ter o nosso comércio aberto, mas seguindo restrições sim, menos número de funcionários na lojas, evitando aglomeração, por isso a fiscalização aconteceria. Dentro da indústria, é mais fácil, pois trabalha com rotina de trabalho, o comércio é diferente, porque não sei quem chega ali. Acredito que poderia, sim, desde que nos uníssemos como sociedade, o poder municipal fizesse sua parte de fiscalização, autuação, fechar o comércio mesmo, pois quando vejo que o vizinho foi fechado, eu mudo meu jeito de ser. Assim como temos visto famílias perdendo vidas e que não acreditavam que poderia acontecer, o próprio vizinho mudou totalmente o jeito de viver, pois, infelizmente, aprendeu na dor. E comércio poderia ser assim, melhorar a fiscalização, mas não aquele de apadrinhamento político, tem de ser feita de forma correta, leal, tenho que vestir o fiscal com uma missão, e isso não foi feito nos municípios.
Você tem identificação maior com Farroupilha, como avalia a gestão atual?
Não acompanhamos tão de perto quanto gostaríamos, mas fizemos visita ao prefeito, colocamos nosso trabalho à disposição. Quando nos elegemos, não trabalhamos para um partido, mas para todos. Todas as demandas que chegam até nós são atendidas. Acho que a nossa relação poderia ser mais profícua, poderíamos produzir mais, mas estou aberta ao diálogo.
O Republicanos perdeu um pouco da representatividade da região com o impeachment e a saída da legenda do ex-prefeito Daniel Guerra. Como você acha que está a articulação do partido hoje em nível regional?
Vamos começar a trabalhar melhor o partido na região. É um compromisso meu com o nosso presidente, deputado federal Carlos Gomes. É um partido novo, mas as pessoas que convido e irei convidar tenho a tranquilidade de dizer que é sério, respeita opiniões, dá espaço para as mulheres, a gente não é cota aqui, e sou prova disso. Antes, era liderado pelo Daniel Guerra, enfim, a família Guerra, mas para ter uma ideia, eu era deputada e nunca consegui ser recebida por ele. Tentei uma, duas, três vezes e cansei: espera aí, eu também não preciso me ajoelhar por um prefeito que coincidentemente é do meu partido. Eu vejo como muito positiva a saída da família Guerra do Republicanos, pois assim como ela atraiu algumas pessoas, dava medo de agregar muitas outras. Então, hoje estamos abertos a filiações, e tenho certeza que vamos crescer na Serra a partir de agora.
Claro que o partido apoiava o Daniel Guerra na época que ele era filiado, até pela vinculação, mas como o partido via ele durante a gestão, especialmente esse aspecto que você comentou da dificuldade. O partido tinha dificuldade de acessar o prefeito?
Tinha, inclusive nosso presidente. Todos tinham dificuldade, era uma blindagem que não entendíamos por quê. Que triste, pois ele perdeu uma oportunidade única de governar Caxias do Sul, dar exemplo de um governo que poderia ser técnico, mas que tivesse senso da importância da política, pois não adianta ser técnico e não ter a capacidade de conversar, construir e dialogar. Eu fico só na técnica e nada acontece. Infelizmente, perdeu uma oportunidade realmente, e talvez hoje tivéssemos uma outra visibilidade na Serra Gaúcha.