O tema de convocação para a palestra do prefeito Adiló Didomenico (PSDB) na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) nesta segunda-feira (29) era "Desburocratizações como um caminho para o desenvolvimento de Caxias do Sul". O evento, no entanto, serviu para tentar apaziguar os ânimos acirrados da relação entre poder público e empresários nas últimas semanas em razão do abre e fecha da economia na região. A palestra ocorre na semana seguinte após registro de protestos contra prefeituras na Serra.
Apesar do início de apresentação com resultados do primeiro ano de governo e projeções para 2021, predominou no evento discursos do prefeito em defesa à reabertura da economia. A CIC serviu de intermédio para o apelo de Adiló:
— Não espere de mim discurso para a torcida, temos de ter responsabilidade, esse momento é muito sério, precisamos nos ajudar, precisamos ter respeito à ordem, à disciplina, às leis. Se perdermos isso tudo estará perdido. Cabe a nós, líderes empresariais e políticos, pés no chão. Muita tranquilidade, serenidade, para que possamos conduzir o destino desta cidade de forma pacífica, ordeira — afirmou o prefeito.
Apesar de resistência e oposição declaradas de muitos segmentos, Adiló alegou que os empresários têm "estendido à mão" ao poder público. Ainda assim, ressaltou visível desconforto com movimentos opositores de redes sociais.
— Não faremos nada sem esgotar as formas de construção coletiva. (...) Aliás, faço apelo para que a sociedade nos ajude, não adianta postar vídeo, falas nas redes sociais criticando o prefeito, criticando isso, aquilo, sobre tratamento isso, aquilo — pontuou Adiló.
Em defesa franca do prefeito, o presidente da CIC, Ivanir Gasparin, direcionou a empresários a declaração de que "o prefeito não tem poder de passar por cima de lei estadual", em referência a posições contrárias às restrições impostas pelo modelo de distanciamento controlado do Estado.
DO TEMA
Sobre o tema da palestra, Adiló apresentou os resultados econômicos do último ano e a perspectiva de déficit de R$ 160 milhões para 2021. Também adiantou o estado avançado das novas leis de parcelamento do solo, regularização fundiária, novo código de edificações e a lei de liberdade econômica, que será votada pela Câmara hoje. Também ressaltou a prioridade em aprimorar parcerias público-privadas em diversas áreas.
Falas controversas
Adiló buscou um tom apaziguador a assuntos polêmicos, Sobre o uso do controverso 'kit covid', ressaltou não ter especialidade para opinar sobre o assunto:
— Nós, como poder público, vamos disponibilizar medicação para que o médico, na sua autonomia, ministre, o prefeito é economista, não posso me meter em receitar médico ou defender teoria a ou b. Esse é assunto para os médicos e nós, como poder público, o máximo que podemos fazer é disponibilizar essas medicações.
Porém, logo depois, ele fez apelo a empresários para que doassem ivermectina para o poder público.
— Pedimos auxílio aos sindicatos empresariais para que nos façam doação da ivermectina, já que há orientação contrária do Tribunal de Contas à compra desses medicamentos. Então fizemos apelo aos empresários, sindicatos patronais, para que doem essa medicação, deixaremos disponível para a rede pública e o médico, dentro da sua autonomia, vai saber o que deve ministrar.
Em outro momento, Adiló reiterou ser contra as restrições econômicas do governador Eduardo Leite, seu colega de partido, porém, elogiando em seguida as medidas:
— Não mudamos nosso discurso, não mudamos pensamento. Como vereador, fui o primeiro vereador, com 15 dias de pandemia, a defender a eabertura gradual da pandemia. Alguns segmentos da economia vêm pagando muito caro por esse momento, mas também respeito a iniciativa que governador teve quatro semanas atrás, que talvez não tivesse tomado aquela providencia imediatamente, não teríamos tido condições de socorrer todas as pessoas que buscavam leitos de UTI.
Adiló ressaltou entender que, quando decretou bandeira preta, "Eduardo Leite tomou as medidas cabíveis", indicando que acredita na contenção da contaminação como efeito das medidas restritivas. Etretanto, imediatamente lembrou que, por meio da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), pleiteia a reabertura econômica.
DESTAQUES
"Veja como é difícil a posição do prefeito. Na semana passada, no mesmo instante, tínhamos na frente da prefeitura um grupo pedindo lockdown e outro grupo de garçons pedindo abertura total para voltar a trabalhar. Nem um extremo e nem outro é bom, mas precisamos voltar ao trabalho com cuidado, com prudência, essa é a melhor solução, não é o lockdown, não é o fechamento. Vamos provocar uma quebradeira irremediável ali adiante se insistirmos em lockdown. Precisamos é ter leis mais duras que temos com relação a essas festas clandestinas e aglomerações."
"Empresários neste momento difícil têm estendido a mão ao poder público, com todos os sacrifícios impostos às empresas, com todas as dificuldades que o momento reserva. Apesar de tudo isso, os empresários têm sido extremamente prestativos, parceiros. E muitas das ações que colocamos em prática, minimizando efeitos da pandemia, devemos à colaboração da sociedade caxiense, mas especialmente do mundo empresarial."
"Caxias, junto com o Cisga (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha), foi o primeiro consórcio de municípios a se inscrever para fazer a compra das vacinas. Nós não estamos perdendo tempo, o que precisamos é apoio dos nossos deputados federais e da Assembleia, precisamos que se faça um trabalho de conscientização junto à Anvisa, porque não é possível essa lentidão da Anvisa na liberação de vacinas. Não consigo me convencer com isso. Temos União Química, pronta para produzir vacinas, a terceira fase para liberação da Sputnik faz 60 dias, toda semana pedem mais documentos. É isso que estamos clamando, no momento que estamos numa guerra, perdendo mais de 3 mil brasileiros por dia, quem sabe a Anvisa deixe de lado outros procedimento e dê prioridade à liberação das vacinas."
"Indústria tem protocolo diferente do comércio em função de ser um público específico, trabalhando com distanciamento. Sempre fui contra o fechamento do comércio, não vejo como uma medida que resolveu o problema, mas também não critico e respeito a decisão do governador porque, naquele momento, a velocidade com que explodiram casos de covid, talvez ele tenha pensado em tomar medidas mais duras, de fechamento maior, porque foi uma semana que apavorou todos nós. Saíamos de uma bandeira laranja para uma preta, mas uma preta agravada."