Desde o início da pandemia, o grande desafio de governantes é conseguir controlar a disseminação do vírus. Na falha de tornar as medidas preventivas aceitas integralmente, a vacina tornou-se a única solução possível, e o que era uma meta de médio prazo precisou concentrar todos os esforços de especialistas da área epidemiológica e química do mundo todo para conseguir viabilizar uma imunização em tempo recorde.
Quando opções com resultados válidos começaram a surgir no ano passado, tudo indicava uma condução singular de governos no apoio às vacinas e na dedicação em viabilizá-las à população. Isso aconteceu em dezenas de países, que já executam seus planos vacinais, o mesmo não se pode dizer efetivamente do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acabou tornando a imunização assunto de controvérsia ao questionar a eficácia das alternativas hoje disponíveis, reiterar defesa ao tratamento precoce com uso de medicamentos sem comprovação científica e adiantar que a imunização não seria obrigatória no país.
Apesar do início da vacinação estar agora pré-encaminhada, podendo ocorrer até mesmo na próxima semana, o assunto que seria, em teoria, voltado à saúde pública ganhou ares políticos e, mais uma vez, pretexto para discussão ideológica. Para saber a opinião dos parlamentares de Caxias, o Pioneiro fez a mesma pergunta para os 23 vereadores: o que está achando da atuação de Jair Bolsonaro na questão da vacina? Confira abaixo os posicionamentos.
Omissões no PSDB
Os únicos que não responderam ao questionamento do Pioneiro e se omitiram de posicionamento foram os vereadores do PSDB Olmir Cadore e Marisol Santos. Cadore disse que preferia não falar sobre o assunto, enquanto Marisol disse não ter tempo para responder a reportagem. A única do partido a se posicionar foi Tatiane Frizzo.
A POSIÇÃO DE CADA VEREADOR
O que está achando da atuação do presidente Jair Bolsonaro na questão da vacina?
DEFENDEM BOLSONARO - 5 VEREADORES
"Quanto à atuação do presidente Bolsonaro na questão da vacina, tem dito que, assim que tiver a aprovação da Anvisa, irá disponibilizar para a população, de forma não obrigatória. Bem como o Ministro da Saúde tem afirmado que a estratégia da logística está pronta. Penso que está correto. Destaco e concordo também com o tratamento precoce do covid-19." Ricardo Daneluz (PDT)
"O governo federal vem se esforçando para começar a vacinação o mais rápido possível, infelizmente a tradicional burocracia brasileira acabou retardando o processo. De todo o modo, a vacinação em larga escala começa no próximo dia 20, e torço para que o resultado da vacina seja positivo." Mauricio Marcon (Novo)
"Acredito que o governo federal vem atuando, de forma prudente, em relação a esta questão. Apesar de estarmos no ápice da necessidade de uma solução, devemos vencer todas as etapas, a fim de iniciarmos a vacinação e diminuirmos ao máximo qualquer tipo risco à saúde da população." Adriano Bressan (PTB)
"O governo federal está tomando as providências, pois além do monitoramento por parte do Ministério da Saúde em 2020, ao final do ano passado este mesmo órgão criou um comitê específico para acompanhar as ações das vacinas. Resultado: temos milhões de doses adquiridas e um plano nacional de vacinação com projeção de início nos próximos dias. Estes são os fatos." Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP)
"O presidente não é uma pessoa perfeita, mas tem muito mais responsabilidade do que muita gente pensa. Ele não quer que as pessoas façam uma vacina por simplesmente fazer, para que alguém, ou alguma entidade, ganhe dinheiro. A vontade dele é que as pessoas se vacinem, mas com uma vacina que realmente resolva o problema. Uma vacina de 50%, se tu é casado e não quer ter filhos, por exemplo, você aceitaria que sua mulher tomasse um anticoncepcional que tivesse 50% de chance de funcionar? Você não iria arriscar, né? Até porque a gente acredita em Deus e não queremos fazer aborto. E é isso que o presidente não quer." Sandro Fantinel (Patriota)
CRÍTICOS A BOLSONARO - 7 VEREADORES
"Infelizmente, a pandemia e seus efeitos, desde o princípio, foram subestimados pelo governo federal. Além do número amargo de mortes, o país dá somente agora os primeiros passos para a vacinação, mesmo possuindo em solo nacional um instituto de pesquisa e um sistema público de saúde que são referências mundiais. A vida do povo brasileiro precisa se tornar prioridade." Lucas Caregnato (PT)
"Nossa opinião sobre a atuação do presidente é a pior possível. Não há compromisso em fazer com que ande. Não há prioridade e não há responsabilidade ao falar no assunto. A postura que permanece é a do negacionismo, deboche e da irresponsabilidade. Temo muito pelos brasileiros e brasileiras, pois me parece que, no que depender do presidente, ainda muitos morrerão." Estela Balardin (PT)
"Infelizmente, temos um desgoverno que age deliberadamente pra sabotar, criar insegurança sobre a vacina e atrasar o início da imunização. Cinquenta países já começaram a vacinação, e o desgoverno Bolsonaro segue sem compromisso com a vida humana, mesmo diante dos mais de 200 mil mortos. O Ministério da Saúde levou três meses para responder à oferta de 40 milhões de seringas feita pela Organização Pan-Americana de Saúde. E, quando respondeu, optou pelo frete de navio, muito mais demorado." Denise Pessôa (PT)
"Acho que desde o início começou errado. Quando eu trabalhava com o Setor de Epidemiologia, para o Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde pela 5ª Coordenadoria de Saúde. Faz tempo, mas... funcionava muito bem. Acho que, quando esta vacina chegar às Coordenadorias de Saúde, após ser distribuída a seus municípios, devem dar início, após programação de calendário, na mesma data, por quê? Evita o deslocamento de pessoas de outros municípios para onde está sendo realizada a vacina." Gilfredo de Camillis (PSB)
"A população está aguardando para "ontem" a vacina. O Brasil está vivendo um tempo de tristeza, com milhares de mortes pelo coronavírus. O presidente Bolsonaro deveria ter adotado estratégias de governo mais rápidas e objetivas em relação à vacinação. A negação do chefe da nação à covid-19 deu razão ao atraso do processo de vacinação e de ataque à doença. Muito triste!" Velocino Uez (PTB)
"Entendo que o país está atrasado neste tema. Mais de 40 países já iniciaram a vacinação. A vacina, além de salvar vidas, dará um impulso necessário à economia, tão prejudicada por todo esse cenário. Até o momento, infelizmente, não sabemos muitas informações sobre quando e nem quantos brasileiros serão imunizados. Isso gera insegurança para toda a sociedade. Nossa solidariedade às mais de 200 mil famílias brasileiras que perderam alguém para a covid." Tatiane Frizzo (PSDB)
"O Bolsonaro, especificamente, não tem atuado adequadamente nas questões científicas desde o começo da pandemia. Espero que, a partir dos últimos resultados das vacinas, ele tenha um diálogo mais comprometido com os governadores, com os prefeitos e com a ciência." Renato Oliveira (PCdoB)
SUBIRAM NO MURO - 4 VEREADORES
"A atuação do presidente até o momento é de cautela. Não podemos fazer um grande investimento em algo que depois se mostre ineficaz, precisamos dar um tiro certeiro. Acompanhamos a compra das vacinas, agora vou fiscalizar a distribuição e a metodologia de aplicação no povo, que são os mais interessados." Juliano Valim (PSD)
"Eu estou acompanhando o posicionamento do governo federal. Sou à favor da vacinação desde que esteja aprovada pelos órgãos competentes. É importante que a prefeitura municipal, o governo estadual e o governo federal trabalhem juntos para que a vacinação possa ser feita o mais rápido possível. Espero que o governo federal trabalhe pra que seja feita o mais rápido possível. Torço que aconteça logo, e com certeza eu vou me vacinar." Maurício Scalco (Novo)
"Neste momento, eu não teria opinião fechada sobre a atuação do presidente, mas a verdade é uma só e todo mundo já conhece: tem coisas que o presidente faz com excelência, mas algumas falas dele extrapolam muitas questões e algumas atitudes podem complicá-lo. A gente é a favor da vida, entendendo que não pode ser uma coisa impositiva, pois não existe isso de obrigação." Elisandro Fiuza (Republicanos)
"Eu acredito que a saúde pública não deva ser politizada, precisamos sim que a nossa saúde seja tratada da forma mais técnica possível. A vacina deve estar acima de qualquer disputa política porque temos mais de 200 mil mortes e o país precisa urgente voltar a vida normal. Entra governo e sai governo, o SUS permanece desempenhando seu papel importante. Política de vacinação não é política partidária." Zé Dambrós (PSB)
MORDE E ASSOPRA - 4 VEREADORES
"O que esperar de um lunático? Que orientou a população tomar remédio para vermes, que zombou dos mortos e dos acamados nas UTIs... Mas o que se vê são alguns governadores mais preocupados com interesses políticos, gerando conflitos, e quem sai perdendo é o povo. O presidente tem razão sobre a preocupação frente a tantas vacinas e a eficácia. Por isso é necessário informar corretamente a população." Rafael Bueno (PDT)
"Em relação a isso, concordo que a vacinação não seja obrigatória, ou compulsória. Porém, acho que a questão da vacina deveria estar sendo tratada com mais urgência e responsabilidade por parte do Ministério da Saúde e da esfera federal." Clovis Xuxa (PTB)
"O processo da vacinação no Brasil poderia ter sido antecipado. Perdemos tempo. O acerto está em exigir todos os cuidados possíveis para liberar vacinas seguras e garantidas à população. Porém, sou contra politização do tema. Governantes e sociedade precisam de união nesse momento." Felipe Gremelmaier (MDB)
"No sentido de que não vai obrigar, ele está certo, é livre-arbítrio, porém, cada um sabe o que poderá ocasionar para o próximo se não se cuidar, não tomar a vacina. Eu sou muito favorável à vacina, se a vacina é no mínimo 50% eficaz para que não haja morte e internação, ela já está sendo benéfica para a população. Eu acho que o Bolsonaro poderia falar de outra forma, ser mais cuidadoso com as palavras dele e posicionamentos, ele deixa a população à vontade, mas cada um é responsável não só por si, mas pelos outros." Gladis Frizzo (MDB)
DESVIOU DA PERGUNTA - 1 VEREADOR
"Estamos em um momento bem delicado, porém previsto por tudo que vem acontecendo. Nossos governantes estão usando a pandemia como palanque eleitoral (todos). Precisamos da vacina o quanto antes, comecem vacinando grupos de riscos, idosos e agentes de saúde, depois quem quiser. Precisamos a volta urgente de todas atividades e horários integrais." Wagner Petrini (PSB)
NÃO QUISERAM RESPONDER - 2 VEREADORES
Marisol Santos (PSDB) e Olmir Cadore (PSDB).
Na balança
- 11 dos 21 vereadores respondentes ou criticaram o presidente Jair Bolsonaro ou fizeram ressalvas a sua atuação nos aspectos referentes à vacinação contra a covid-19.
- Quatro desses 11 fizeram ressalvas em apoio a alguns posicionamentos de Bolsonaro ou questionando a politização do tema.
- Cinco vereadores foram favoráveis à condução dos assuntos relacionados à vacina do presidente.