Não era para o vereador Velocino Uez (PTB) ter disputado a reeleição. O plano inicial era que o sobrinho João Uez concorresse, em vez dele. Mas como João assumiu a Secretaria Municipal de Urbanismo de Caxias do Sul, o planejamento precisou mudar e Velocino se colocou à disposição mais uma vez. Fez expressivos 3.753 votos, o que lhe deu o título de quarto mais votado. Na última eleição, fez a oitava melhor votação.
Os 608 votos a mais do que em 2016 surpreenderam Velocino, de certa forma. Ele chegou a temer reduzir a votação em Galópolis, seu reduto eleitoral, por não estar tão presente como gostaria, mas não. Fez até mais votos do que o esperado.
— Fez diferença a qualidade de quem multiplicava o voto ao meu redor — diz.
O trabalho e a dedicação foram, claro, fundamentais na visão de Velocino para a reeleição. Aprovação de projetos como o que possibilita o transporte para alunos da zona rural residentes a menos de um quilômetro da escola é uma das tantas realizações das quais ele se orgulha. A proposta, promulgada pelo Legislativo em 2018, acrescentou um artigo na lei 7.749/2014. A medida depende da disponibilidade de vagas no veículo.
— Me doía ver as crianças caminhando na rua e a van passando, com lugar sobrando.
Para os próximos quatro anos, o vereador quer continuar se dedicando ao setor agrícola. Uma das metas é buscar, junto à prefeitura, ampliar o Programa de Máquinas Pesadas para agricultores que queiram investir na produção de orgânicos.
— Tem o subsídio de 50%, mas é muito pouco. Para quem for na linha dos orgânicos, talvez subsidiar 100%. Os agrotóxicos são prejudiciais — explica.
Além disso, Velocino tem um projeto que precisará contar com a parceria do poder público e de entidades: a construção de uma espécie de creche para idosos na zona rural. A intenção é que o espaço abrigue agricultores de mais idade que não têm com quem ficar.
— A população está envelhecendo e nunca se pensou nessas pessoas que vivem no interior — diz, revelando que já conversa com possíveis parceiros.
TROCA DE SIGLA
A aproximação com a política partidária começou no final dos anos 1990. Ele tinha um restaurante no bairro São Pelegrino (montou o negócio quando mudou-se para a zona urbana em busca de estudo para os filhos), e um dos clientes frequentes era o amigo e então secretário de Agricultura Nestor Pistorello.
O forte envolvimento comunitário de Velocino chamou a atenção e, em 2011, foi convidado a filiar-se no PDT e, no ano seguinte, a concorrer a vereador. Sem se eleger, recebeu o convite do ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) para assumir a subprefeitura de Galópolis.
Neste ano, trocou o PDT pelo PTB. O motivo foi a aproximação com Adiló — que construiu sua vida política no PTB, mas acabou ingressando no PSDB.
— Sem mágoas com o PDT. Troquei pela incerteza de um diálogo do PDT com o Adiló — explica.
Quem é
Perfil: 58 anos, agricultor. Tem o Ensino Fundamental completo e já foi comerciante. Teve um restaurante em São Pelegrino entre 1999 e 2009.
Trajetória: começou a atuação política na Associação de Moradores de São João da 4ª Légua, entidade que ajudou a fundar. Foi subprefeito de Galópolis durante o governo de Alceu Barbosa Velho e terceiro suplente na eleição de 2012. Elegeu-se pelo PDT em 2016 e ingressou no PTB neste ano.
Referências: Mansueto Serafini Filho, José Ivo Sartori, Alceu Barbosa Velho e Adiló Didomenico.
Pessoal: é casado com Fátima, 52 anos, e tem dois filhos, Gabriel, 25, e Priscila, 30. Gosta de ficar na colônia com a esposa, jantar com os amigos e de jogar quatrilho.
Segundo mandato será o último, para ficar com a família
Embora recém tenha sido eleito para o segundo mandato, Velocino garante que os próximos quatro anos serão os últimos como vereador. Ele não pretende mais concorrer. Um AVC, sofrido em 12 de setembro de 2018, reforçou o desejo de se afastar da vida pública e ficar mais próximo da família.
— Quando tu toma um AVC, tu começa a repensar se vale a pena. Eu trabalho muito, é muito desgastante. E a família, como fica? Quando estive no hospital, minha mulher não me largou um minuto, e tu começa a pensar quem é a tua verdadeira família. Para aquele que quer trabalhar, como eu, é desgastante. Não sobra tempo para a família, e está errado isso — reflete.
O vereador, que gosta de estar com os familiares, não vê a filha Priscila, estudante de Medicina em Passo Fundo, desde janeiro. A sogra Leonora, uma segunda mãe para Velocino, cobra a ausência mesmo quando ele está em casa, porque sempre está ao telefone resolvendo demandas.
— Sinto que estou em dívida com a minha família. Tem gente sonhando que eu vá a deputado. Mas será que a minha saúde vai deixar? — acrescenta.
Mas como Velocino tem muito comprometimento com os produtores rurais, ele quer encontrar alguém que tenha as mesmas bandeiras e possa ser seu sucessor.
— Quem será o meu substituto? Tu acha que não me pergunto todo dia? — diz.
Algumas das iniciativas que Velocino pretende destacar em seu mandato
Agricultura
- Ampliação do Programa de Máquinas Pesadas para agricultores que queiram investir na produção de orgânicos. Atualmente, a administração oferece equipamentos para melhorar a infraestrutura das propriedades rurais, sendo o programa subsidiado pelo poder público, com 50% do custo pago pelo município até 20 horas/máquina e os outros 50%, pelo produtor rural.
- Alterações na legislação para que sejam possíveis melhorias nas estradas que passam por dentro das propriedades para escoamento da produção.
- Criação de casa para idosos na zona rural. A intenção é que o espaço abrigue agricultores de mais idade que não têm com quem ficar durante a semana. A escolha pelo interior do município será para manter o ambiente onde produtores rurais viveram a vida inteira.
Espaços públicos
- Se não for aprovado ainda neste ano, Velocino quer voltar a apresentar o projeto de lei Adote um Terreno Público. A proposta prevê o apadrinhamento de áreas públicas, por meio de parcerias entre o poder público e pessoas físicas e jurídicas, para a urbanização e a conservação de ruas da cidade. Com isso, cidadãos poderão fazer a manutenção de espaço públicos, se desejarem.