O prazo da janela partidária, período de transferência de legendas entre políticos, iniciado no dia 5 de março, se encerra na próxima quinta-feira (3). Na reta final, no entanto, o coronavírus surge como empecilho a partidos que deixaram para a última hora para fechar negociação ou promover atos de divulgação dos novos filiados. As movimentações, contudo, precisam continuar, porém, de forma mais discreta.
Em Caxias do Sul, a possibilidade é de que quatro vereadores mudem de sigla. Um deles, Rodrigo Beltrão, confirmou ontem a desfiliação do PT, partido pelo qual militava há 24 anos, e a inscrição ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). A filiação ocorreu de maneira online.
— Articulei junto à direção do partido, com os vereadores, enfim, eu já vinha conversando com o PSB desde 2016, quando cogitava sair do PT. Foi uma construção que se deu ao natural. A direção indicou que vai ser uma construção coletiva, sem haver condicionamento a pessoas, e eu me sinto bem acolhido — comenta Beltrão.
Nos últimos meses, entretanto, o ex-petista ensaiava filiar-se ao PDT. Apesar de não ter se consumado, o flerte permitiu abertura com o partido do ex-prefeito de Caxias, Alceu Barbosa Velho, cuja relação Beltrão afirma esperar consolidar atuando no PSB.
— Facilitou. Sempre estive próximo com o PDT ideologicamente. Houve distanciamento quando o PDT coligou com o MDB. Mas o Governo Alceu não foi governo do PDT, foi daquela coligação — avalia.
Sobre atritos que teve tanto com Elói Frizzo (PSB) quando o socialista era diretor do Samae quanto com Alceu, de cujo governo Beltrão foi um dos principais opositores, ele diz que qualquer mágoa foram circunstâncias políticas já superadas:
— Essas divergências estão superadas, faz parte do terreno da política. Tanto que fui um dos opositores do Governo Alceu e estava alinhavando com PDT, com o próprio Alceu, bem tranquilo. Isso não é problema na política. Mas minha ida ao PSB é para o partido.
Já sobre a saída do PT, alfineta:
— Estive 24 anos no Partido dos Trabalhadores e sempre defendi projeto coletivo dentro do PT. Mas nos últimos tempos o projeto do PT se transformou em personalista, seja o lulopetismo no Brasil ou o pepismo em Caxias. E eu creio que precisamos ter uma pauta que amplie a luta popular em torno de um projeto, não em torno de pessoas.
Mesmo com as mudanças restritivas deliberadas para enfrentamento do coronavírus, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu manter o prazo da janela partidária, para a troca de partidos por parte de vereadores que pretendem concorrer na próxima eleição, uma vez que o procedimento não precisa ser realizado presencialmente no cartório. Basta que o partido registre a filiação no sistema Filia, disponibilizado pelo TSE para os partidos, e faça envio da lista na janela da primeira quinzena de abril.
Tatiane, Edson e Uez devem trocar na última semana
Além de Beltrão, nos últimos meses outros seis parlamentares ventilaram a possibilidade de mudança partidária: Alberto Meneguzzi (PSB), Edson da Rosa (MDB), Gustavo Toigo (PDT), Ricardo Daneluz (PDT), Tatiane Frizzo (Solidariedade) e Velocino Uez (PDT). Desses, Edson da Rosa confirmou o encaminhamento da desfiliação do MDB, mas não revelou para qual partido deverá ir. A tendência é de que se filie ao PP. Já Tatiane e Uez confirmaram que analisam os convites, mas não têm ainda uma decisão efetiva.
Segundo Tatiane, a possibilidade de deixar o Solidariedade não surge de atritos com o partido, mas sim em razão do contexto eleitoral.
— É uma possibilidade real (a mudança de partido), temos de nos adaptar às regras do jogo. Na última eleição havia possibilidade de os partidos coligarem na proporcional. Hoje não é mais permitido. Então é importante que os candidatos estudem bem as nominatas que os partidos oferecerem para ver em quais deles têm real chance de se eleger. Se não tiver nominata consistente, não adianta eu fazer três mil votos e não me eleger por não atingir o coeficiente necessário — afirma Tatiane, que recebeu propostas de PSDB, MDB, PSD e PL. A cogitação mais forte é de que vá para o PSDB.
Já Uez diz que ainda estuda as possibilidades. A prioridade, segundo ele, é avaliar qual dos partidos terá o candidato mais forte para prefeito:
— Se eu trocar de partido, a prioridade é tentar ser vereador da base de um governo. A gente consegue fazer mais para a população desse jeito. Qual é a chance que o PDT tem de ser governo? Eu não estou vendo. Queria tentar acertar com um partido que pelo menos fosse competitivo para a majoritária — comenta o pedetista, que disse ter recebido convite de "quase todos os partidos".
Sobre em qual sigla parece se enquadrar mais no seu critério, Uez avalia:
— Hoje eu entendo que o Neri, o Carteiro (Solidariedade), tem muito voto na cidade na maneira que faz política e eu me espelho muito nele. Hoje, quem puxar o Neri e formar coligação com dois ou três partidos no máximo, esse candidato, que seja ele ou outra pessoa, já vai para o segundo turno certo.
Alberto Meneguzzi (PSB), Gustavo Toigo e Ricardo Daneluz, ambos do PDT, confirmam permanência nas suas respectivas legendas.
O QUE MUDA
Rodrigo Beltrão
Sai do PT
Vai para PSB
Edson da Rosa
Sai do MDB
Não revelou em qual partido vai se filiar. A tendência é o PP.
POSSIBILIDADES
Tatiane Frizzo
Pode deixar Solidariedade
Possibilidades: PSDB, MDB, PSD e PL. Bastidores indicam que PSDB é tendência.
Velocino Uez
Pode deixar PDT
Possibilidades: Sinaliza tendência a aceitar quem indicar coligação com Solidariedade na majoritária.
QUEM DECIDIU NÃO TROCAR
Alberto Meneguzzi (PSB)
Gustavo Toigo (PDT)
Ricardo Daneluz (PDT)