Nome que deve assumir a prefeitura de Caxias do Sul a partir da próxima quinta-feira, 9 de janeiro, ao lado do vereador Elói Frizzo (PSB) para vice, Flavio Cassina (PTB) falou ao Pioneiro sobre as expectativas frente ao cargo, caso se confirme a escolha pelos vereadores na eleição indireta desta semana.
Cassina fala sobre a transição pós-impeachment do ex-prefeito Daniel Guerra (Republicanos), como pretende conduzir o governo, como será a condução de assuntos prioritários pendentes, como a licitação do transporte coletivo e a gestão da UPA Zona Norte, e sobre as primeiras polêmicas do novo comando da prefeitura.
Confira:
O senhor ficou à frente da prefeitura por 12 dias. O que pode avaliar da experiência, mesmo que breve?
Nesses 12 dias, tivemos quatro pontos facultativos e mais os finais de semana. Então de tempo de trabalho foi pouquíssima coisa.
Mas já deu para sentir a pressão e a responsabilidade do cargo?
Como a prefeitura é extremamente dinâmica, não pode parar, temos de dar continuidade aos serviços, fazer as nomeações de pessoas para determinados setores e essas pessoas imediatamente tomarem as medidas necessárias. Não se podem perder prazos, caso contrário, o prejuízo é grande para o município. Nesses poucos dias, se tivéssemos ficado sem tomar medidas previstas, teríamos perdido alguns milhões de recursos, contrato federais e prazos para manutenção de serviços.
Houve o impeachment. Um momento impactante para qualquer governo. Que leitura pode ser feito desse fato?
Tivemos oito pedidos de impeachment, um foi retirado pelo autor um pouco antes. Quando acontece isso, obviamente uma coisa não está bem, está errada. Por não gostar de um gestor, alguém ir fazer um pedido de impeachment de graça, não existe isso. Tem de ter um motivo, nem sempre de entendimento do povo, mas tem de ter motivo, não pode ser de graça.
Defensores de Daniel Guerra classificam como golpe...
Foi tudo dentro da lei. Tomamos todos os cuidados possíveis para que não se ferissem os dispositivos legais.
E essa chapa com (Edio Elói) Frizzo (do PSB), qual sua relação com ele e por que houve a escolha dele para compor a chapa?
Foi uma situação que se criou de forma natural. Por reiteradas vezes eu disse que não teria dificuldade em compor (chapa) com nenhum vereador, até porque tenho trânsito bom como todo mundo. Evidentemente que não estou tratando de assuntos ideológicos, pois se fosse, com o Frizzo ou outros, não iríamos chegar a lugar nenhum. Apenas tratamos aquilo que é interesse da comunidade, do Executivo e do Legislativo. Nesse ponto, eu tenho capacidade de compor com qualquer um.
E por que o Frizzo?
Foi o que surgiu ao natural.
Ele é conhecido como um dos articuladores do impeachment...
Ele é uma pessoa que paga tributo por ser espontâneo e ter um lado. Evidente que todas as pessoas que têm posição e sabem o que querem e se pronunciam pagam um preço por isso. A coisa mais fácil que tem é ficar em cima do muro. Evidentemente que vai ter oposição.
Caso seja eleito, qual perspectiva de um governo de apenas um ano? Qual o plano de governo?
Esse é um problema sério, como eu disse, a prefeitura é dinâmica, não pode parar e nós não temos tempo de planejar. Temos que tomar ações emergenciais o dia todo, dia a dia, não tem outra saída agora. Caso se concretize a nossa eleição, teremos de escolher um grupo de trabalho que saiba trabalhar e "amanhã" comece a trabalhar. Não temos tempo para aprender.
Vereador Alberto Meneguzzi questionou uma fala do secretário interino Valmir Susin (da Agricultura) que teria antecipado a equipe, dizendo ser permanente, e não interina. Podem ser mantidos de fato alguns nomes interinos?
Pode, tem gente muita qualificada nos ajudando neste momento, mas todos sabem que são transitórios.
Nenhum tem garantia de permanência então?
Nenhum.
Apesar de o senhor dizer que tem bom trânsito com os vereadores, a própria contestação do vereador Meneguzzi pode indicar que nem tudo é harmonia entre os poderes desde já?
Não acredito. Não perco tempo com coisas sem importância.
Qual o clima dessa gestão assumir? Tem como amenizar o cenário de rivalidade política que se instaurou na cidade?
A nossa vivência, não só na vida política, nos induz a pensar que o clima está muito bom ao nosso favor. Há turbulência política, é natural quando há interesses contrariados, mas pela minha percepção de homem velho vejo que o astral para o nosso lado está muito bom, e o apoio popular também, está muito bom.
Questões pendentes, como Financiarte, Carnaval: (o novo comando) pretende revisar esses temas?
A gente reconhece a importância do esporte, da cultura, e vamos revisar sim, vamos adotar procedimentos para que sejam resgatados pontos em que houve certo descuido do administrador.
O edital referente à concessão do transporte público. Frizzo, por exemplo, manifesta contrariedade à proposta de dividir a cidade em duas bacias. Também pretendem rever o edital?
Estamos aguardando uma posição da nossa Procuradoria (Geral do Município). Tudo pode mudar, mas em princípio a ideia é não cancelar o edital, mas fazer a suspensão para alguns aprimoramentos.
UPA Zona Norte. A empresa sai (deixa a gestão) dia 29. Não há licitação e tem toda a crítica do modelo de gestão compartilhada. Pretendem revisar também?
Também. Estamos em contato com nossa secretária transitória (da Saúde) e Procuradoria, buscando alternativas para talvez achar uma forma possível de prorrogar o contrato para que se busque uma solução mais definitiva.
Aeroporto da Serra Gaúcha, o município abrirá mão da outorga para o Estado?
O aeroporto é de vital importância para o desenvolvimento de Caxias. Quanto ao pagamento das indenizações, existe um projeto que autoriza o município a contratar empréstimo de R$ 30 milhões para pagamento dos proprietários. Entretanto, o governo (estadual) fez contato dizendo que pretende ser parceiro nesta empreitada. De que forma não sei, pois tem muita coisa a ser feita. Não basta apenas contrair empréstimo para indenizações, temos que duplicar estrada, asfaltamento, tudo isso poderíamos utilizar parte do recurso se o governo estadual nos ajudar em alguma coisa. Tudo é prematuro, a ideia do governador é ser parceiro, mas sem interferir na seara da prefeitura. Tudo será em comum acordo.
Região das Hortênsias, pretende mudar o vínculo de Caxias de alguma forma?
Acredito que por enquanto não há o que fazer. Mas na próxima oportunidade que houver esse recadastramento (junto ao Mapa do Turismo Brasileiro, em 2021) temos que voltar para a nossa origem. Mas acredito que isso não atrapalhe em nada a nossa vocação.
"Quem dará o norte serão os vereadores"
Gilberto Meletti (presidente do PTB caxiense) admitiu que havia unanimidade por uma chapa única. O senhor não acredita que isso dá subsídios para críticos que insinuavam conluio entre os partidos para o impeachment?
Isso é tudo especulação. Onde há interesse contrário surgem especulações, colocações despropositadas, como ocorre em redes sociais. Temos de saber administrar isso. Foi uma chapa que surgiu natural e com apoio da maioria expressiva dos vereadores.
Adiló Didomenico é pré-candidato do PTB à prefeitura. Pretende colocar ele na administração?
Não. Estamos tentando fazer uma administração mais isenta possível. Tanto é que temos a intenção de trabalhar com os vereadores, e não com os partidos. Quem dará o norte para o nosso trabalho serão os vereadores, com eles tem de haver interação 24 horas por dia.
Apesar da abertura de diálogo, isso não compromete o trabalho por essência do Legislativo em ser fiscalizador do Executivo?
O que eu não gostaria agora é tratar com partidos políticos. Aí sim viria a atrapalhar. Os partidos têm de defender seus candidatos mais para a frente quando se aproximarem as eleições. Por enquanto, quero trabalhar com os vereadores.
Ainda assim, temos uma proximidade grande dos partidos, como o PDT, que foi a legenda que perdeu as eleições, não foi a escolha dos eleitores. Acredita que essa proximidade não prejudica a imagem da chapa?
Não atrapalha nada, temos no nosso governo provisório e vamos manter gente de todas as agremiações, sem distinção. A porta está aberta para todo mundo.
A questão envolvendo Cezira Hockele (deixou presidência do Instituto de Previdência e Assistência Municipal, o Ipam) após divulgação de que movia um processo contra o próprio Instituto...
Isso era com o prefeito interino Ricardo Daneluz.
Mas o senhor que indicou ela para o cargo...
Não, foi o grupo. Particularmente, indicação minha mesmo não teve nenhuma diretamente.
Que grupo?
Grupo que se reuniu para dar governabilidade ao município.
Nada de partidos?
Nada de partidos.
Mas qual visão o senhor tem do caso? Não prejudica a imagem? Se isso acontecesse no governo de Daniel Guerra, por exemplo, certamente seria alvo de crítica dos vereadores...
Olha, não posso responder pelos outros, então vamos deixar como está o assunto.
Outra questão que polemiza é o seu vínculo com a Maçonaria...
Quer que eu confirme se faço parte ou não?
Não, não, essa relação, gostaria de saber se pode interferir no seu governo, considerando que havia conhecida rivalidade na gestão de Daniel Guerra...
É, sem motivo nenhum, né? A Maçonaria é uma entidade que está aí para ajudar seus semelhantes, seus homens da comunidade. Somos uma entidade não-religiosa que busca aperfeiçoamento moral e intelectual do homem. É uma sociedade que tenho muito orgulho de fazer parte desde 1973. Evoluí muito na vida devido aos ensinamentos da Maçonaria.
Não influenciaria em nada então na gestão?
Nada. A Maçonaria cuida do templo interior, não se mete com assuntos da comunidade. Evidente que às vezes somos chamados a desempenhar um cargo ou outro ou dar um palpite, mas a Maçonaria é uma escola da moral que busca ajudar o semelhante o tempo todo.
A questão da retomada de diálogo. Na troca de prefeito interino, quando era citada, a plateia ovacionava. Ainda assim, o diálogo aberto é uma postura normal de um poder público. A gestão vai se limitar só a essa proposta?
Na verdade, o que vamos fazer agora é esquecer o passado, vamos olhar para a frente. Acabou o revanchismo, não existe perseguição. Vamos tratar todas as pessoas independente do seu credo ou ideologia política, vamos tratar todos com igualdade. Vamos olhar para a frente, a não ser que o passado sirva de exemplo para alguma coisa que não devemos fazer.
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