No quarto período que atua como vereador (dois mandatos e duas suplências), Flavio Cassina (PTB) afirma que não pretende concorrer nas próximas eleições. No entanto, próximo de encerrar a sua trajetória política, o empresário vivencia um cenário hipotético inusitado: por ser presidente do Legislativo, ele pode assumir a prefeitura de Caxias, caso o impeachment do prefeito Daniel Guerra (Republicanos) avance e seja aprovado na Câmara de Vereadores ainda este ano. Ao Pioneiro, o petebista falou sobre a possibilidade e avaliou a relação dos vereadores com o Poder Executivo. Confira:
Pioneiro: Que avaliação faz deste novo período que completa como presidente da Câmara?
Flavio Cassina: Estivemos na presidência da Casa em 2015 e foi um período relativamente tranquilo. Uma convivência boa com o Executivo, pouca burocracia, fazíamos contato direto com secretários, não precisávamos tanto valer do procedimento “convocação”. Quando fomos convidados a assumir de novo em 2019, aceitamos de bom grado. Só que o momento é bastante diferente. Sempre tivemos relação cordial com o Executivo e hoje é o contrário. O trabalho se torna desgastante, improdutivo, temos de adotar procedimentos que em condições normais jamais teríamos. Temos de protocolar tudo, ser formal, perder tempo, para falar com cada secretário é um parto. Isso implica uma barbaridade de requerimentos porque as informações não são fornecidas em condições normais.
Uma relação mais truncada então?
Muito mais trucada. Temos dificuldade de conversação com toda a equipe de governo, mas tudo isso em função do gestor. Os secretários são reflexos do gestor, fazem o que o homem determina e acabou. Ninguém pode ter iniciativa própria, pois a todo o momento é castrado.
O senhor tinha desavenças com o então vereador Daniel Guerra na época em que foram colegas de Legislativo. Isso foi fator para dificultar uma melhor relação agora que ele é prefeito?
Não. De nossa parte, não teve problema nenhum. Conhecíamos sua maneira de trabalhar e não concordávamos em absolutamente nada, mas isso não atrapalhou uma possível relação nova, especialmente entre os poderes. Pessoalmente, não temos problemas nenhum, sabemos contemporizar as situações. Do ponto de vista institucional, houve zero abertura por parte do Executivo.
E como avalia a atual relação com a comunidade?
O vereador é o anteparo da comunidade, em que se deposita todas as esperanças da comunidade. Se ele (contribuinte) não é ouvido no Executivo, é aqui que ele vem desabafar. Em razão disso, também há muitas críticas ao Legislativo, que leva culpa de tudo, dizem que não fazemos nada, que não deixamos o homem trabalhar, mas na realidade é o contrário. Nós estamos tentando deixar ele trabalhar, mas é um trabalho infrutífero.
São críticas injustas, então, na opinião do senhor?
Sim, sim.
Mas ao que o senhor atribui (as críticas injustas), à falta de conhecimento ou a população é induzida a esse pensamento?
O principal é falta de conhecimento. O povo, com raríssimas exceções, não está ligado na política. Daí tem gente que trabalha bem as redes sociais, aí alguém divulgou alguma coisa, passa a ser verdade, porque ninguém investiga. Dizem que só votamos homenagem e nome de rua, mas eles não vêm aqui para ver a nossa atividade no dia a dia. O vereador é vereador 24 horas por dia. Ligam à meia-noite, quatro da madrugada, tudo cai nas costas do vereador porque não há respaldo do Executivo. Para quem eles pedem socorro?
O senhor acha que o fato de os vereadores se dedicarem ao trabalho de oposição toma muito tempo?
Sim, sim. Se tornam improdutivas as nossas reuniões. Às vezes perdemos tempo discutindo coisas sem necessidade porque não há contrapartida do outro lado. É difícil trabalhar assim, se perde tempo. As sessões se tornaram por vezes enfadonhas, discutindo coisas estéreis, e não precisaria se houvesse uma relação melhor.
Qual sua opinião sobre esse alto número de pedidos de impeachment?
Se o gestor estivesse trabalhando normalmente, não teria (tantos pedidos de impeachment). Se tem oito pedidos, um foi retirado antes de ser analisado, mas são oito, na realidade mostra que alguma coisa está errada, não está batendo bem.
O senhor votará caso o processo (de impeachment) tenha prosseguimento e volte a plenário?
Não. Se houvesse vice-prefeito empossado, poderíamos votar, porque é votação qualificada. Mas como não há vice, nesse caso fico impedido. Caso a votação fique para o ano que vem, quando for outro presidente (na Câmara), aí eu poderei votar.
Caso fique para o ano que vem, como tende a votar?
Como eu não voto, não estou preocupado. Por que vou me preocupar por algo que não vou exercer?
Caso aprovado, o senhor assumiria como prefeito. Como avalia essa possibilidade?
Não trabalho com hipóteses.
Mas o senhor estaria preparado?
Não, ninguém está preparado. Quando oficialmente eleito, o prefeito tem geralmente 90 dias para se preparar, tem toda a transição, preparo de equipe, e mesmo assim já é difícil. Imagina alguém que é tirado de um lugar e colocado ali. Ninguém está preparado. Mas a vida é feita de desafios. Não vamos nos preocupar antes do tempo.
O senhor pretende concorrer novamente?
Não. A gente chega numa certa idade que tem de abrir espaço para a juventude. Claro que depende muito do partido, pessoal do PTB não quer me deixar (não concorrer), mas a minha vontade própria é não concorrer.
Está cansado?
Eu entrei muito tarde na política. Em 2004 quando assumi pela primeira vez como vereador, eu tinha 58 anos. Foi a vez que eu concorri por gosto. 2008, 2012 e 2016, eu fui na marra.
Nota para Governo Daniel Guerra?
Nota não é eu que vou dar. É a população, e o que ela decidir vou bater palma.
Ainda assim, o senhor sugeriu que algo está errado na administração...
Está implícito que alguma coisa está errada.
E a situação envolvendo à maçonaria (reintegração de área onde ficava estacionamento da loja maçônica). O que acha da decisão dele?
Se formos enfileirar conflitos, temos perto de 250 conflitos que foram criados na comunidade, de graça. Maçonaria se enquadra nessa linha.