A não convocação para participar de sessão extraordinária no dia 2 de janeiro foi o motivo que faltava para o ex-deputado estadual Vinicius Ribeiro deixar o PDT. Descontente já há algum tempo com a sigla, ele decidiu não apenas se afastar da executiva e do diretório, como anunciou em sua página no Facebook e já noticiado pelo Pioneiro, como encaminhar a desfiliação.
Insatisfeito com os rumos do PDT e com o a falta de espaço para seus projetos políticos _ ele não é explícito, mas dá a entender que em 18 anos não conseguiu realizar o sonho de, ao menos, concorrer a prefeito _ Vinicius pretende ficar "independente" neste ano até decidir em qual legenda irá ingressar.
Confira a entrevista:
Pioneiro: O seu afastamento do PDT é definitivo?
Vinicius Ribeiro: É muito difícil eu voltar atrás. Eu afirmei isso em outra oportunidade para os veículos de comunicação e para dentro do partido. Me lembro de uma frase do Dalai Lama que diz: "Não estrague o seu presente por um passado que não tem futuro". O PDT ou qualquer partido deve existir com os olhos da rua e deve se manter com o sentimento do povo. A minha briga dentro do partido era justamente para que o mesmo se aproximasse da população, se atualizasse, se inovasse e ajudasse a comunidade a se transformar. E eu não tenho visto isso nos últimos anos. Muitas disputas partidárias, embates ideológicos dominaram muito as discussões internas. As pessoas só vinham falar comigo de cargo, de espaço político e eu não via as pessoas querendo resolver os problemas das pessoas que os elegeram. De modo geral, muitos perderam a sensibilidade em relação ao cidadão comum.
Seu afastamento vai refletir na saída do PDT?
É muito difícil eu voltar atrás, muito difícil mesmo. Mas é para frente que se anda. O meu pensamento é enxergar muito mais as pessoas e as necessidades e menos os eleitores e os votos. Em 2019, o Vinicius é independente. Vou estar muito mais ligado aos movimentos sociais, à minha profissão. Tive convites para permanecer na política, de quatro partidos. Tive convites para trabalhar em Porto Alegre, tanto na Assembleia quanto no governo do Estado, mas o meu foco agora é ajudar no meu principal projeto, que é minha família, meu filho. Quanto mais eu cuido do meu filho, mais eu vou estar ajudando Caxias, mais vou estar ajudando o Estado.
Que convites foram esses?
Foram convites políticos para permanecer trabalhando na política, tanto na AL quanto no governo.
Mas onde no governo? Em alguma área específica?
Prefiro não avançar até porque já houve negativa. Eu não fechei essa porta, mas eu priorizei dar foco para outras ações.
O senhor continua filiado ao PDT ou já se desfiliou?
Eu encaminhei o meu pedido de afastamento do partido tanto da executiva quanto do diretório em nível estadual e nacional.
É só um afastamento das instâncias de direção ou uma desfiliação?
Como o partido interpretou isso, eu não sei. Mas acredito que eles estão cientes dessa minha ação.
Da sua saída do partido?
Isso mesmo.
E quais os seus planos na política? Tem projeto de se filiar a um novo partido?
Nós constatamos após a campanha que o nosso percentual de rejeição é muito baixo, que o percentual de densidade eleitoral é alto, que só não foi maior em função de vínculos que meu nome teve com as decisões partidárias e equívocos políticos mais recentes. Há uma imagem positiva a ser mantida. Eu pretendo não sair da política. Meu foco vai ser mais para Caxias do Sul e vou continuar trabalhando nela. Acredito que Caxias precisa ser mais transformada para ajudar a transformar as pessoas. Estudo e trabalho para que a nossa cidade construa essas condições, para que Caxias seja mais alegre, mais inclusiva, mais inovadora, mais sustentável, mais inteligente e é necessário nesse momento a gente se voltar para isso.
Já está avaliando algum partido para ingressar?
Já recebi vários convites, mas nesse momento, a minha cautela é fundamental. Respeitar os processos, respeitar os convites, respeitar as pessoas. Enfim, tudo ao seu tempo.
Tem algum partido que lhe agrada mais, que se aproxima daquilo que o senhor pensa e defende?
As pessoas não querem mais discutir ideologia, elas cobram eficiência do Estado. O que está valendo na cabeça das pessoas não é ser um partido de direita ou de esquerda, é ser um Estado necessário, que aja de forma eficiente, com maior qualidade e menos tempo e com maior retorno. Um partido precisa ter esse nível de sensibilidade para poder agir. O que prende nesse momento, o que me acorda não é a ideologia partidária, mas a função que um homem público deve ter junto a sua área de atuação.
O senhor falava do descontentamento com o PDT. A não convocação para assumir na Assembleia não foi o único motivo, então, para sua saída?
Eu disse na minha carta e fui muito objetivo que a gente foi relevando diversas atitudes que foram acontecendo e entendendo e eu ainda acreditava que era possível mudar. Mas, entre quebrar os meus valores e ficar com o partido, eu preferi permanecer com meus valores. E o episódio mais recente que aconteceu na Assembleia foi o coroamento da minha decisão.
Tem algum descontentamento com a eleição de 2016?
Em absoluto. Eu fui um grande colaborador da campanha de 2016. Eu não coordenei campanha de 2016. E eu estou dizendo o que houve e não o que a imprensa ouve.
O senhor acha que a imprensa não deixou algumas coisas claras?
Pela primeira vez estou tendo a oportunidade de falar sobre isso. Para mim não houve descontentamento nenhum. Eu fui um grande colaborador da campanha, eu não coordenei ela. Estou dizendo o que houve e não o que a imprensa ouve.
Passados dois anos dessa eleição, qual sua avaliação? Onde o partido errou, se errou, ou foi o momento que levou Daniel Guerra à prefeitura?
O atual prefeito tem os seus méritos. Ele ganhou a eleição. Nós precisamos respeitá-lo, diferente de muitos. Ele luta pelo aquilo que acredita, mas se esquece do básico. Deve lutar pela cooperação e não pela competição. Nós todos, de modo geral, tanto o partido nesse período quanto as administrações, precisamos ter mais humildade. Administrar não só com a sabedoria do técnico, mas com a sabedoria popular e fazer com que a cidade seja menos dividida. Todos nós temos que aprender um com o outro e respeitar mais as pessoas.
O senhor estará na próxima eleição, em 2020?
Quem vai dizer isso vão ser as pessoas nas ruas. Eu nunca escondi o meu sonho. O meu sonho um dia é ser prefeito de Caxias. Talvez isso possa acontecer. Isso vai depender não só de mim. Vai depender, principalmente, da manifestação popular. Mas não sou eu que condiciono a situação. Eu posso levantar a bandeira e trabalhar em cima dos meus objetivos, mas eles jamais devem ser sozinhos.
O senhor tem uma história no PDT. Sair e ingressar em uma nova sigla é um recomeço. Como é ter de começar de novo?
Estratégia sem ação é sonho. Ação sem estratégia é frustração. Cada dia é um novo dia. Todo dia é um recomeçar. O ciclo não se dá num dia, numa semana, num ano. O ciclo não é temporal. O ciclo é de acordo com a tua expectativa, com o teu sonho e com as tuas necessidades. Isso eu aprendi com cada trabalhador, com cada família caxiense e com cada pessoa que ajuda todo dia a cidade a ser aquilo que ela é.
O senhor acha que no PDT não conseguiria alcançar o sonho de ser prefeito?
Dezoito anos eu fiquei no partido.
E não conseguiu o espaço que imaginava?
Quem está respondendo é tu (risos).
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