O "day after" (dia após) o bombástico comunicado de renúncia a partir de 1º de abril foi de trabalho normal para o vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu (PRB). Nesta terça-feira pela manhã, ele acompanhou a sessão da Câmara de Vereadores pela televisão em casa e, como era de se esperar, recebeu inúmeras ligações e mensagens de celular. À tarde, cumpriu expediente na prefeitura.
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Fabris também dirigiu-se ao Legislativo para uma visita ao vereador Paulo Périco (PMDB). Foi no gabinete do parlamentar que ele conversou com a reportagem do Pioneiro, que pôde acompanhar o final da conversa entre os dois. O vice levou a Périco os resultados de sua viagem ao estado americano de Indiana, onde foi conhecer o sistema de segurança de Clamer, cidade vizinha à capital Indianápolis, e pediu ao vereador que dê sequência ao seu trabalho.
Périco comprometeu-se em encampar a bandeira de Fabris, mas destacou como seria importante a administração municipal estar envolvida. O vice emendou:
– Mas como não é possível, vou fazer como cidadão. Isso (segurança) é mais grande, é maior que a prefeitura.
Foi a deixa para expor os motivos que o levaram a sair da prefeitura. Fabris, que na segunda-feira, após a notícia da renúncia, preferiu falar em tom ameno, não poupou o prefeito Daniel Guerra (PRB). Segundo o vice, havia um acordo de que, se a chapa fosse eleita para conduzir a prefeitura, Fabris teria atribuições na área da segurança. Foi essa promessa, inclusive, que o motivou a concorrer.
– Não entendo essa mudança do Daniel depois da eleição. Não foi isso que foi tratado, senão não teria concorrido – disse.
A situação, conforme Fabris, só foi piorando com o passar do tempo. Ele não participou da transição e não era informado das ações do governo:
– Fui deixado de lado no dia após a eleição. Fico sabendo o que acontece pelo Pioneiro. É insuportável essa situação. Realmente não tenho função.
O vice-prefeito, que abriu mão de carro oficial e motorista, diz que sequer tem uma vaga reservada no estacionamento do Centro Administrativo.
– Não tenho vaga para estacionar meu carro.
Sem chance de voltar atrás
Apesar dos apelos feitos por vereadores na sessão desta terça-feira, Fabris não considera voltar atrás. Além do mal-estar, ele não concorda com a postura do prefeito. No episódio dos médicos, o vice reprova a atitude de Guerra ter ligado para um profissional para dar um “pito” e, depois, divulgar as imagens no Facebook.
– Não que eu concorde com a greve, mas a atitude do prefeito não agrega nada à solução, inflama o problema.
Sobre o processo da área da Família Magnabosco, ele acredita que está sendo tratado com "desdém", assim como o impasse com a Visate. Fabris entende que a prefeitura deve receber a empresa para conversar.
– Não gosto dessa expressão "Lava-Jato". As planilhas são da secretaria, são públicas. Lava-Jato passa a ideia de que a Visate compra as pessoas, os políticos.
Nem bola
Fabris comunicou ao prefeito que renunciaria há cerca de 30 dias e, segundo ele, Guerra "não deu a mínima bola". Na segunda-feira, quando comunicou formalmente a renúncia para o dia 31, Guerra, segundo Fabris, tinha um documento pronto para que ele renunciasse imediatamente.