Os movimentos sociais, que nos últimos três anos organizaram os grandes protestos nas ruas contra a corrupção no governo federal e que pediram o impeachment da ex-presidente da República Dilma Rousseff, estão desmobilizados em Caxias do Sul. Um dos motivos para o fim do Movimento Brasil Livre (MBL) e o enfraquecimento do Avança Brasil é o envolvimento de alguns representantes desses grupos com a política partidária.
Leia mais
Ciro Fabres: semana curta com temas explosivos em Caxias do Sul
Permanência no governo Sartori não é consenso no PDT de Caxias do Sul
Moradores de Farroupilha reclamam do reajuste do IPTU e da taxa de lixo
Pelo menos dois nomes que ganharam exposição com as manifestações concorreram a uma cadeira na Câmara de Vereadores: Rodrigo Ramos e Adalberto (Beto) Maurer. Os dois disputaram a eleição do ano passado filiados ao PR e DEM, respectivamente, mas não se elegeram. Atualmente, Rodrigo é cargo de comissão (CC) do prefeito Daniel Guerra (PRB), lotado no Departamento de Arte e Cultura Popular, na Secretaria Municipal de Cultura. Ele ocupa um CC6 com salário de R$ 3.402,73.
Maurer, que deixou o MBL no ano passado, dedica-se exclusivamente a sua empresa. Ele conta que o ativismo por dois anos quase quebrou sua gráfica online.– Como a gente não é renumerado, deu um prejuízo no bolso. Me atrapalhou bastante financeiramente – diz Maurer.
O ex-MBL sustenta a importância de participar da política por meio de eleição. Maurer diz que, sem um cargo eletivo, a população consegue fazer alguma coisa, mas com cargo consegue auxiliar ainda mais a população. Ele lamenta não ter sido eleito.
Um dos coordenadores do movimento Avança Brasil em Caxias do Sul, Alexandre Moroso de Lima, também filiou-se a uma sigla partidária. Ele é o articulador da formação do Partido Novo na cidade.Para um dos membros fundadores do MBL em Caxias, Aldonei Machado, houve um descrédito da população depois que muitos líderes dos movimentos filiaram-se a partidos políticos. Segundo ele, a decisão dessas lideranças de ingressar em siglas políticas desgastou e tirou o foco do MBL em Caxias.
– A política sobe para a cabeça das pessoas e acaba desvirtuando a luta. Quando o MBL começou, no início de 2014, não tinha vinculo político partidário nenhum. Era um movimento de jovens, mas depois começou a se perder – critica.
Aldonei evitou comentar sobre a filiação dos ex-companheiros do MBL Rodrigo e Adalberto.
– Foi uma escolha deles e eu prefiro não comentar.Na tentativa de continuar com as manifestações populares, Aldonei e o amigo Ivan de Stefani criaram um grupo sem vínculo partidário chamado Por uma Caxias Melhor. No final do ano passado, eles organizaram a primeira a manifestação contrária às propostas das 10 medidas contra a corrupção e a favor da Operação Lava-Jato e do fim do foro privilegiado para políticos.
No dia 26 de março, o grupo organiza um novo protesto de apoio à Lava-Jato, à Polícia Federal e ao fim do foro privilegiado. Um evento criado no Facebook convidou 1,7 mil pessoas, mas, até ontem, menos de 100 haviam confirmado presença. Para Aldonei, os números comprovam a acomodação da população.
– A gente sabe que não é um parâmetro (os números do Facebook), mas a população está bem calma e acomodada. Passou a euforia e parece que as pessoas se acostumaram com a corrupção e desistiram de lutar.
Segundo Aldonei, a lista de reivindicações deve aumentar. Ele compara a nomeação do ministro Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Michel Temer com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
– O presidente Temer está fazendo a mesma coisa que a Dilma fez na época da nomeação do Lula. Agora o Temer tentou nomear o ministro para o livrar da Lava-Jato.
‘Oportunidade para o novo governo’
Um dos coordenadores do movimento Avança Brasil, Alexandre Moroso de Lima, reconhece que houve uma desmobilização dos movimentos no combate à corrupção após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, os movimentos deram uma oportunidade para o novo governo trabalhar, considerando a dificuldade econômica que o Brasil vive.
– Ficamos um pouco na expectativa das ações desse novo governo, que vinha prometendo dar apoio total à Lava-Jato e trabalhar contra a corrupção. Hoje a gente vê que esse governo não quer que a Lava-Jato continue, não está apoiando as medidas contra a corrupção e está fazendo um esforço enorme para desarticular tudo.
Alexandre diz que, ao perceber as ações do governo Temer, os movimentos estão começando a se articular para protestar nas ruas.
– Existia uma revolta muito grande por todas as questões de corrupção que o governo anterior liderava, ou pelo menos era o que parecia. A indignação segue dentro das pessoas e vamos voltar para as ruas.
Vem pra rua
Movimentos sociais de Caxias do Sul estão desmobilizados
Filiações de algumas lideranças em partidos políticos enfraqueceu os grupos
André Tajes
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project