Caxias do Sul beira meio milhão de habitantes. Conforme estimativa de 2015 do IGBE, são 474.853 pessoas, 39.289 a mais que em 2010, no último censo. É como se a cidade tivesse ganho, nesses últimos seis anos, 6.548 moradores por ano. Não há dados oficiais, mas a prefeitura estima que cheguem, por dia, aproximadamente 30 pessoas a Caxias. A maioria, em busca de novas oportunidades: de trabalho, de estudo, de vida.
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Nascido em Caxias ou “filho adotivo” da cidade, não importa: todos querem o melhor para a aniversariante do dia. Mas o que é esse “o melhor”? O que é uma cidade boa para se viver? O que ela precisa ter? O que ela precisa ser? Para saber, é necessário ouvir as pessoas que nela vivem. O Estatuto da Cidade recomenda que se façam planos diretores participativos, para que a população possa opinar.
– A cidade que queremos é uma cidade que tem de ouvir todas as partes e ela tem de tentar encontrar um comum acordo. A vivência em uma cidade é regrada por um pacto social. Todo os atores sociais têm de conhecer esse pacto e participar dessa construção. A cidade que queremos nada mais é que do que efetivar esse pacto social, possibilitar essa participação e construir nesse sentido – entende o arquiteto e urbanista Pablo Cesar Uez, vice-presidente da Associação de Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Químicos e Geólogos de Caxias do Sul (Seaaq).
Além de ouvir os moradores, o poder público precisa fomentar a valorização dos espaços públicos. Nos últimos tempos, surgiram em Caxias pontos de convivência urbana como a Praça do Trem, em São Pelegrino, e o parque para animais de estimação, no loteamento Vinhedos. Há, ainda, previsão de instalação de minipraças, conhecidas como parklets, em vagas de estacionamento.
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No entanto, ainda falta em Caxias, na visão de estudiosos, como o ex-secretário de Urbanismo, Fábio Vanin, autor do livro Direito e Política Urbana: Gestão Municipal para a Sustentabilidade, a cultura de “gostar da rua” – o que inclui gostar de calçadas, parques e praças.
– Gostar da rua é gostar da cidade. O avanço nesse aspecto de comportamento não acontece de uma hora para outra, mas é um passo indispensável para que possamos valorizar o espaço público. A consequência desta situação é que cada vez mais haverá ações da comunidade incentivando que parte do investimento público se dê neste sentido, de melhoria dos espaços públicos e não há boa cidade no mundo que não tenha bons espaços públicos – defende Vanin, atualmente coordenador do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG).
A Caxias do Sul, de orçamento de R$ 1,6 bilhão, PIB de mais de R$ 21,5 bilhões e arrecadação de R$ 1,1 bilhão, também precisa pensar em espaços públicos vinculados à cultura, em descentralização dos serviços e na valorização de seu patrimônio.
Para a coordenadora de Arquitetura e Urbanismo da FSG, Giovana Santini, Caxias peca ao depreciar o que é antigo, mas que tem grande valor histórico, cultural, social e arquitetônico. Ela entende que Caxias precisa planejar melhor o crescimento, para que não seja desordenado.
– As cidades têm um planejamento de crescimento de uma população de baixa renda aos extremos da cidade, o que dificulta a acessibilidade, esse contato com a própria cidade. As questões de mobilidade urbana não se resolvem com um sistema de transporte como foi feito em Caxias, se resolvem com planejamento urbano. Isso tem de ser pensado: o planejamento de crescimento da cidade, as alterações no Plano Diretor. O plano de Caxias precisa ser revisto, no sentido de melhorá-lo e não sobrecarregar certas regiões com especulação imobiliária – sugere Giovana.
Cidade tem de ser mais democrática e descentralizada
Ex-secretário de Urbanismo, Fabio Vanin também defende a criação de novos centros de serviços, para que a população não dependa exclusivamente do Centro. Uma cidade policêntrica é fundamental, pois, segundo ele, diminui o custo para as pessoas e o gasto público em infraestrutura de transporte, por exemplo.
Em 2017, quando o Plano Diretor de Caxias será revisto, a comunidade terá a oportunidade de discutir a cidade que queremos. Não que esse debate não possa começar agora, em ano eleitoral. A discussão sobre tornar Caxias um lugar melhor para ser viver deve ser diária. E não só para as futuras gerações, mas para nós mesmos.
– Caxias tem de versar mais sobre a questão do ambiente urbano, melhorar a interface entre o ambiente construído e o ambiente natural. Isso vai propiciar mais espaços verdes dentro da cidade, uma melhora da qualidade de vida para todo mundo. Vai ser uma cidade mais democrática – resume Pablo Cesar Uez.
Raio X de Caxias
População: 474.853 habitantes (estimativa 2015 do IBGE).
Quantas pessoas chegam a Caxias por dia: cerca de 30 pessoas, em média
Ritmo do crescimento populacional: 6.548 pessoas por ano nos últimos seis anos.
Orçamento: R$ 1,6 bilhão (2016). O de 2017 deve ser igual ou inferior.
PIB: mais de R$ 21,5 bilhões.
Arrecadação de impostos: R$ 1,1 bilhão.
Número de bairros: 65.
Fontes: prefeitura e IBGE