Para um estranho no ninho, o cenário é intimidador à primeira vista. Câmara, Congresso, Palácio do Planalto... Por mais que seja um privilégio vivenciar a história brasileira ser escrita tão de perto, é uma realidade diferente, desde o primeiro momento.
Logo na chegada, após uma peregrinação da equipe do Pioneiro para obter o credenciamento solicitado para ingressar no Congresso, foi possível circular pela Casa.
Ainda era final da manhã da quarta-feira, dia da leitura do relatório do relator da comissão especial que analisa o impeachment da presidente Dilma Rousseff, deputado Jovair Arantes. E a movimentação tanto de políticos, assessores ou profissionais de imprensa começava a se intensificar. Em um período tão importante, de tramitação do processo de impeachment, ninguém quer deixar escapar qualquer informação e todos estão atentos a conversas de bastidores, telefonemas e mesmo aos cochichos mais discretos.
Nos muitos corredores, conluios, tentativas de conciliações, busca por apoios e votos. Além de alguns protestos.
Quando o assunto é impeachment e o futuro da política brasileira, a proporção é monstruosamente amplificada. Em uma sala apertada para a reunião da comissão, a placa na entrada fala em capacidade para 150 parlamentares. Porém, este momento político se confunde com a cobertura de final de Copa do Mundo.
Mais de 300 jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos de todo o país chegam duas ou três horas antes do início da sessão para guardar lugar. Quem chega depois, se aperta onde consegue, sentado no chão ou mesmo espremido sem mesmo conseguir enxergar a sessão. Com notebooks, tablets, celulares e câmeras, tentam passar a informação antes do outro para as redações e redes sociais.
Do lado fora, torcidas organizadas dos dois lados. Uns gritando "contra o golpe". Os outros pedindo o impeachment. Do lado de dentro, é confusão. E é assim a cada dia, especialmente em debates que contrapõem situação e oposição. Na quarta-feira, teve de tudo: empurrões, dedo na cara, confusão na fila de deputados que queriam se inscrever para pronunciamento na sessão, distribuição de enfeites, bonecos infláveis e cartazes para comprovar quem é desse ou daquele lado.
O deputado caxiense Pepe Vargas (PT) integra a comissão e participou da sessão de leitura do relatório do relator. Já o outro deputado caxiense, Mauro Pereira (PMDB), que não é membro da comissão nem suplente, também não deixou de comparecer e até tirou foto ao lado de Jovair.
É iniciada a sessão, e o que se ouve são mais gritos, bate-boca e discussões que transcendem a política. É uma disputa pelo poder. Simples assim. E, claro, tem o atraso de uma hora, aquele jeitinho brasileiro de tentar ludibriar o outro. Uma questão de ordem vira apenas mais um trecho de discurso. Aqueles que deveriam ser exemplos para a nação, trocam ofensas mesmo quando a palavra está com outro deputado lá à frente. Premissa básica, o respeito é ignorado. O poder e a necessidade de se posicionar falam mais alto.
Ao final da experiência de cinco horas, o almoço foi bem simples, mas saboroso. Um salgado de presunto e queijo, um pão de queijo, um refrigerante e uma água na lancheria da Câmara dos Deputados custaram apenas R$ 9,68. Quem diria, não é mesmo?
No coração do poder
Pioneiro conferiu movimentação em Brasília no dia de votação na comissão do impeachment
Jornalistas de Caxias estavam na Capital Federal no dia na análise do relatório
Maurício Reolon
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