O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 19 pessoas nesta terça-feira (10) por envolvimento no assalto a carro-forte no aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul. O crime aconteceu em 19 de junho e resultou na morte de um policial militar e de dois envolvidos do grupo.
Em nota, o MPF afirmou que os envolvidos foram denunciados por latrocínio, que é o crime de roubo seguido de morte, e por formação de organização criminosa com uso de arma de fogo. Há outros crimes na denúncia, que não foram divulgados.
Dos envolvidos, 13 estão presos preventivamente. Quatro pessoas estão em liberdade. Segundo o delegado responsável pela investigação, Márcio Teixeira, os quatro continuam sendo monitorados e sob medidas restritivas. Em razão da complexidade do crime, há possibilidade de novos desdobramentos relacionados à operação.
Atuação conjunta entre PCC e Bala na Cara
Conforme a denúncia do MPF, que foi encaminhada à Justiça Federal, integrantes de duas facções criminosas, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Bala na Cara, do Rio Grande do Sul, atuaram em conjunto para executar o assalto. A denúncia aponta que foi uma das maiores operações criminosas cometidas no Estado gaúcho.
Para os procuradores da República que assinam a denúncia do MPF, o plano dos criminosos "consistia em adentrar o aeroporto com veículos disfarçados de viaturas da Polícia Federal e, mediante uso de armas de fogo de padrão militar, forçar o rendimento da equipe de segurança antes que os valores fossem alocados no carro-forte".
Entretanto, durante o assalto, policiais militares e seguranças do carro-forte reagiram. Na troca de tiros, o policial Fabiano Oliveira, 47 anos, foi morto após ser atingido por um tiro de fuzil. O agente integrava o 12º Batalhão de Polícia Militar. Outro segurança que atuava no desembarque do dinheiro foi baleado na perna, mas sobreviveu.
Ao todo, foram R$ 30 milhões que chegaram no aeroporto na noite do dia 19 de junho. O valor foi transportado de avião e saiu do Paraná. Em razão da ação, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que, no contexto de roubo com disparos de arma de fogo com a intenção de matar as vítimas, o grupo cometeu o crime de latrocínio.
Para o MPF, o crime é caracterizado não somente em razão da morte do policial militar, mas também pelo risco de morte causado a todos os 13 funcionários das empresas de segurança e oito policiais militares que estiveram na cena do crime e não morreram.
No caso da denúncia por organização criminosa, o MPF informou que integrantes do PCC e do Bala na Cara começaram a organizar o assalto pelo menos dez dias antes do crime. Os membros das duas facções deslocaram pessoas e equipamentos para a região da Serra, adquiriram bens e escolheram locais que foram usados como esconderijo.
A denúncia aponta ainda que cinco imóveis foram disponibilizados para os criminosos, onde cada um foi cuidadosamente escolhido e preparado pelo grupo para desempenhar um papel específico na operação. A intenção era evitar que os denunciados ficassem por longos períodos no mesmo local.
Além disso, o grupo utilizou diversos veículos, que tiveram as placas trocadas durante os trajetos percorridos. Tanto os imóveis, quanto os veículos, estavam em nomes de pessoas laranjas, para dificultar ainda mais o rastreamento das atividades cometidas.
A denúncia do MPF resulta da Operação Elísios, desenvolvida em conjunto com a Polícia Federal. Atuaram no caso, pelo MPF, os cinco procuradores da República que fazem parte do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no Rio Grande do Sul, por designação do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet.