
Os órgãos de segurança pública e a direção do Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, estão alinhando as estratégias para reforçar a segurança nas operações de transporte de valores pelo terminal. Reuniões para debater o assunto já estão em andamento.
A revisão dos procedimentos ocorre após o assalto ocorrido na noite do dia 19 de junho, durante a transferência de malotes de um avião para dois carros-fortes no pátio auxiliar do aeroporto. Os vigilantes foram surpreendidos por criminosos disfarçados de policiais federais e armados com fuzis. A Brigada Militar (BM) foi acionada e o confronto com os bandidos resultou na morte do segundo-sargento Fabiano Oliveira, 47 anos, e de um dos criminosos. Os bandidos roubaram R$ 30 milhões, mas a polícia encontrou metade do valor com o criminoso que foi morto em confronto.
Na última semana, a Secretaria de Trânsito já havia anunciado que adotaria, por iniciativa própria, novos procedimentos em operações do tipo no aeroporto. O objetivo é que os órgãos de segurança sejam avisados sempre que houver embarque ou desembarque de valores.
Nos últimos dias, a BM solicitou uma reunião com a direção do aeroporto para debater uma estratégia conjunta. O encontro já ocorreu e outros órgãos de segurança também participaram.
— Todos (os órgãos) serão procurados — garante o secretário de Trânsito de Caxias, Alfonso Willenbring Júnior, que responde pelo aeroporto.
Plano de segurança
O Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) determina que todos os aeroportos do país tenham um Plano de Segurança de Transporte Aéreo de Valores (Pstav). De acordo com as normas, o documento deve ser construído pelo operador do aeródromo com participação de órgãos de segurança pública, operadores aéreos e empresas de transporte especializadas. O conteúdo do plano deve ser sigiloso.
Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o aeroporto de Caxias conta com um Pstav em vigor. Isso porque a existência do documento é "condição obrigatória para que qualquer aeródromo civil possa operar voos comerciais, sejam regulares ou charter (fretados)".
As principais forças de segurança da cidade, contudo, admitem não ter participado, ao menos nos últimos dois anos, de conversas para tratar especificamente do assunto.
No entanto, de acordo com o tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), independentemente do modal de transporte, essa é uma atividade essencialmente privada e nem sempre a BM é envolvida.
— Entendo que a empresa de valores não se comunicou porque ela se sentiu segura. Se soubéssemos que haveria essa operação, independentemente de qualquer evento (havia jogo no Estádio Alfredo Jaconi no momento do assalto), teríamos prestado apoio. Precisamos no mínimo fazer as coisas de forma diferente. Não podemos ter um tipo de surpresa dessas. Seria interessante que anualmente o plano fosse revisto com participação dos órgãos de segurança — observa Vargas.
A Polícia Federal (PF) participa de forma recorrente de discussões sobre a segurança do terminal, segundo o chefe da delegacia de Caxias, Claudino Sebaldo Alves de Oliveira. No entanto, de acordo com ele, o transporte de valores nunca foi abordado, inclusive por ser uma atividade privada.
— Se existe algum plano, desconheço — afirma.
O delegado regional de Polícia Civil de Caxias do Sul, Augusto Cavalheiro Neto, segue na mesma linha e afirma não ter participado de discussões sobre o assunto. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) também nunca debateu o tema.
Conforme o secretário Alfonso Willenbring Júnior, a versão mais recente do plano foi elaborada em 2020. A data é anterior ao início da gestão da maioria dos atuais comandantes da segurança pública e até mesmo da gestão municipal à frente do aeroporto, que começou há um ano. A revisão em andamento ocorre por conta do assalto, mas o secretário concorda que o assunto deve ser debatido de forma constante.
— A segurança do plano (atual) já está sendo praticada. Permanentemente ele deve ser revisado — diz o secretário.
O Departamento Aeroportuário do Estado (DAP), gestor anterior do aeroporto, disse por meio de nota que "enquanto o aeroporto estava sob administração do governo do Estado, o Programa de Segurança Aeroportuária estava em dia e aprovado pela Anac".