A primeira audiência de instrução do caso de Luciano Boeira Melos, 27 anos, começou às 9h desta terça-feira (23), na Vara Judicial da Comarca de Bom Jesus. Os réus Fabiana Ramos Saraiva, 25, Felipe Silveira Noronha, 29, Flávio Silveira Noronha, 33, e José Balduíno Saraiva, 62, participam de maneira online, do Presídio Estadual de Vacaria, onde estão presos desde o dia 17 de agosto do ano passado. Os quatro réus respondem por homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual no caso do desaparecimento do caminhoneiro, ocorrido no dia 26 de julho.
As primeiras testemunhas, ouvidas logo pela manhã, foram os policiais que participaram das investigações e o delegado Gustavo Costa do Amaral, responsável pelo caso. O depoimento dele durou cerca de duas horas. No período da tarde, a audiência começou com depoimentos de outras testemunhas da acusação. Ao todo, 32 testemunhas receberam o ofício para participar da audiência, entre elas a mãe do caminhoneiro, Elisete Boeira, 45, e outros familiares, bombeiros que participaram das buscas, testemunhas, policiais e o delegado.
Ao longo da audiência, todas as pessoas que serão ouvidas apresentarão provas relacionadas ao caso. Depois disso, o processo deve seguir para a decisão final do juiz, que decidirá se o caso vai a júri popular, caso fique entendido que as provas e os fatos cumprem os requisitos para julgamento por júri.
Entre as provas solicitadas e que estão previstas para serem apresentadas durante a audiência estão os conteúdos recuperados dos aparelhos telefônicos dos réus durante a investigação da Polícia Civil, que foram apagados depois do crime. Quando o inquérito foi concluído, a investigação apontou que os réus tinham apagado mensagens dos próprios celulares, enviadas por WhatsApp e Facebook, além de apagar também mensagens dos celulares de testemunhas do caso.
Familiares se mobilizam em frente à Comarca de Bom Jesus
Pouco antes da audiência começar, familiares e amigos do caminhoneiro se reuniram em frente à Comarca de Bom Jesus com camisetas e cartazes pedindo justiça por Bigode, como Melos era conhecido na cidade. Em um dos cartazes é possível ler a mensagem "Judas beijou e abraçou Jesus, assim fizeram com você".
Segundo uma das irmãs de Melos, que prefere não se identificar, a mobilização deve ocorrer até o final da audiência.
— Estamos apreensivos e indignados porque eles chamaram amigos do Luciano para defender eles (os réus), mas Deus é maior. Não vamos sair daqui, a audiência pode ir até hoje à noite ou até amanhã. Vamos continuar aqui na frente — conta a irmã.
Relembre o caso
No dia 26 de julho de 2023, Luciano Boeira Melos teria arrumado a casa onde mora. A residência mista, de concreto e madeira, fica ao lado da casa da mãe, Elisete Boeira. Com a faxina, que fez tanto dentro, quanto fora do local, o caminhoneiro parecia estar esperando alguém. Conforme a família, um comerciante revelou que, naquele mesmo dia, ele teria comprado edredom e dois travesseiros e feito questão de que os itens fossem entregues naquela quarta.
No fim do dia, o caminhoneiro teria pedido para a mãe preparar o jantar e já havia guardado a moto na garagem. Enquanto Elisete dobrava roupas e aguardava o jantar ficar pronto, ouviu o filho saindo de moto, sem dizer para onde ia. A mãe diz ter sentido um aperto no peito na mesma hora e começado a enviar mensagens e fazer ligações para o filho, pedindo que ele voltasse para casa.
Segundo Elisete, que recebeu a reportagem do Pioneiro no dia 4 de agosto, ele "saiu para ir ali e já voltar, não saiu com a intenção de não dormir em casa, deixou tudo ligado". Às 19h40min o caminhoneiro enviou uma mensagem para a mãe dizendo que tinha ido na cidade. Para o irmão Lucas Silva, Luciano revelou ter ido encontrar com a mulher. Esses foram os últimos contatos feitos com a família. Desde então, ele nunca mais foi visto.
Segundo a investigação da Polícia Civil e a denúncia do Ministério Público, a morte do caminhoneiro teria sido previamente combinada em 25 de julho, um dia antes do desaparecimento. Após descobrirem o relacionamento extraconjugal com Luciano, Felipe e José Balduíno, respectivamente pai e marido de Fabiana, teriam combinado com a mulher que ela seria perdoada, desde que o caminhoneiro fosse morto.
No dia 26, Fabiana, que teria concordado com o plano, teria enviado uma mensagem para Luciano marcando o encontro para resolver o futuro do relacionamento. No local, ela estaria acompanhada de Felipe, Flávio e José. Conforme a denúncia, Luciano teria sido morto por motivo torpe (a traição) e sem poder se defender.