A mulher que pode ter sido a última pessoa a ter tido contato com o caminhoneiro Luciano Boeira Melos, 27 anos, antes do desaparecimento dele, em Bom Jesus, decidiu relatar sua versão à reportagem. O companheiro também falou sobre o caso.
A mulher, de 25 anos, reitera que não tem qualquer envolvimento no sumiço do homem. Confirmou que mantinha um caso extraconjugal com Luciano, mas que pretendia terminar esse relacionamento Por esse motivo, marcou um encontro com ele às pressas, na noite de 26 de julho, em sua própria residência.
Contudo, o marido dela retornou para casa antes do previsto naquela noite, o que forçou que o encontro entre Luciano e a mulher ocorresse próximo a um pomar, na localidade de Caraúno, interior de Bom Jesus. Depois desse contato, o caminhoneiro não foi mais visto. Nesta sexta-feira, os bombeiros suspenderam as buscas.
A mulher vive com o companheiro há 10 anos. O casal vive em uma casa na região de Caraúno — eles têm dois filhos, de 2 meses e quatro anos. Segundo a mulher, a reviravolta no relacionamento entre ela e Luciano aconteceu na terça-feira, dia 25 de julho. O marido dela descobriu a relação entre os dois ao ver uma conversa no WhatsApp. Momentos depois, o casal foi até a casa dos pais dela, também no interior do município, informar que iria se separar. O pai da mulher demonstrou indignação e afirmou que aceitaria que ela ficasse com qualquer pessoa, menos com Luciano.
No retorno para casa naquela noite, o casal conversou e decidiu tentar recomeçar a vida. Foi a partir daí que a mulher disse ter decidido terminar a relação com Luciano.
— Eu mandei uma mensagem para ele falando para nos encontrarmos, porque o meu marido ia na casa do meu sogro. Mas, nesse meio tempo, meu marido saiu e acabou voltando antes. Quando voltou, eu peguei o carro e falei que ia lá no meu pai, porque se não ia dar errado e ele (Luciano) daria de cara com o meu marido. Peguei o carro e fui. Nos encontramos no meio do caminho, numa parada aqui na estrada do Caraúno. Eu falei que tinha decidido ficar com a minha família. Ele (Luciano) não queria que a gente terminasse, mas eu não ia abrir mão dos meus filhos, não ia abrir mão de um casamento de 1o anos para ficar com ele — diz a mulher.
Conforme ela, diante do pedido de término o caminhoneiro teria ficado incomodado e disse que não aceitaria a separação.
— Disse que não ia aceitar (o término) porque ele gostava muito de mim, que eu tinha mudado muito a vida dele. E aí ele disse que ia embora. Eu perguntei para onde ele ia e ele disse que não me interessava mais e que a única coisa era que ele ia fazer uma coisa que eu jamais iria esquecer — conta ela.
A mulher afirma não ter ideia do que pode ter acontecido com o caminhoneiro a partir desse último contato, mas não descarta a possibilidade de que ele tenha ido embora ou que alguém possa ter feito algo contra ele.
A relação
Conforme a mulher, a relação entre os dois começou há cerca de três meses, mas antes disso, Luciano era amigo do marido dela. Os dois costumavam se encontrar na cidade e trocavam mensagens pelo WhatsApp, que eram rotineiramente apagadas por ela para não ter registros.
— A gente se dava super bem, sendo bem sincera. No começo pensei em me separar, mas depois eu vi que não teria futuro. Ele tinha esperança de talvez nós ficarmos juntos, mas eu nunca dei tanta esperança assim e deixei bem claro de que para lá (a casa dele) eu não iria, porque se eu fosse me separar eu não iria morar com outro imediatamente — lembra ela.
A rotina após as suspeitas
Ela relatou à reportagem que só tomou conhecimento do desaparecimento de Luciano após uma irmã dele questioná-la na manhã seguinte ao encontro, dia 27 de julho. Naquele dia, a mulher e o companheiro estavam em um posto de saúde. Até aquele momento, a família de Luciano acreditava que ele tivesse fugido com a mulher.
— Eu falei que não sabia aonde ele estava e que nós tínhamos terminado.
Conforme a mulher, desde que o desaparecimento de Luciano se tornou assunto na cidade, o casal é visto "com olhos tortos" pelos moradores. Ela espera que o caminhoneiro seja encontrado para que fique provado que nada aconteceu com ele após o encontro.
— Eu jamais iria matá-lo. Está sendo um transtorno, estão nos acusando do que não fizemos. Vamos ter que tentar uma vida nova porque não vão mais nos deixar em paz. Que Deus queira que ele apareça em algum lugar e prove que nós não temos nada a ver com isso. Para ver, a moto apareceu até longe daqui. Vamos erguer a cabeça e provar que não temos nada a ver com isso — diz ela.
Na quinta-feira (3), a mulher acompanhou a Polícia Civil para refazer o trajeto percorrido por ela no dia em que Luciano foi visto pela última vez. Conforme a polícia, a mulher e o companheiro têm contribuído desde o início das investigações e não são tratados como suspeitos.
O que diz o homem
O marido da mulher que teve um encontro com o caminhoneiro também decidiu falar sobre o caso à reportagem. O homem, de 29 anos, informou que descobriu o relacionamento da esposa com Luciano um dia antes de o caminhoneiro ter deixado de manter contato com a família.
— Descobri na terça-feira (dia 25 de julho) o caso. Eu fui ver a hora no celular quando surgiu a notificação. Vi a conversa. Perguntei o que era aquilo ali porque até um tempo atrás ele era meu amigo. Ela falou que eles estavam conversando e que estavam juntos há algumas semanas. Fomos para a casa dos pais dela e ela disse que era até bom eu ter descoberto para que nós nos separássemos. Então, fui até lá porque nos acertamos de nos separar. Vindo à noite embora, conversamos bastante e pensamos na nossa família — lembra ele.
As investigações
Nesta sexta, a Polícia Civil de Bom Jesus afirmou à reportagem que as investigações continuam e que, novamente, diferentes pessoas foram ouvidas. Em nota, afirma que "novas diligências investigativas estão em andamento. Estas permanecerão em sigilo até o integral cumprimento".
A Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em três endereços relacionados ao caso do desaparecimento. As diligências aconteceram na noite desta sexta-feira (4). Foram apreendidos oito telefones celulares e uma arma de fogo registrada. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) periciou os três endereços e quatro veículos. Os materiais colhidos serão encaminhados para laboratório.
No início da tarde desta sexta-feira, o Corpo de Bombeiros Militar suspendeu totalmente as buscas por Luciano. A parada dos trabalhos, conforme nota divulgada pela corporação, se dá pela falta de vestígios do caminhoneiro. A procura foi realizada em matas e rio, com embarcação e equipe de mergulhadores, além do uso de cães de busca, em pontos apontados pela investigação da Polícia Civil. A operação incluiu o Rio dos Touros, onde a moto do caminhoneiro foi encontrada no último dia 31, e um açude na propriedade da mulher com quem Luciano se relacionava.
Quem é Luciano
Luciano é conhecido em Bom Jesus como Bigode e trabalha como caminhoneiro. No dia 30 de julho, quando já estava desparecido, ele completou 27 anos. Segundo a família, Luciano havia reservado um bolo para a comemoração, que teria a presença de pessoas de diferentes locais da cidade. Ele gostava de estar em contato com a natureza, caçar javalis e laçar. A família vive um momento delicado pouco mais de um ano depois de uma perda. Ano passado, um irmão de Luciano morreu em um acidente de moto, aos 21 anos.
O jovem era apelidado de "Nenê", e a perda causou um choque em todos os familiares. O acidente aconteceu em Caraúno, mesma localidade onde Luciano encontrou a mulher no dia 26 de julho antes de desaparecer.
Antes do desaparecimento
No último dia em que foi visto pela família, Luciano, que mora sozinho próximo à casa da mãe, teria feito uma faxina no quintal e dentro da própria residência.
Um comerciante que costuma atender a família revelou que Luciano havia feito um pedido para ser entregue na quarta-feira e insistiu pelo cumprimento da data de entrega. Eram dois travesseiros e um edredom novos.
Entre as últimas conversas que teve com a família, Luciano parecia animado e dizia que ficaria junto com a mulher. Durante o trajeto, Luciano enviou uma mensagem em áudio para outro irmão.
— Estou avisando só tu. Eu estou indo na casa dela lá, ela disse que saiu de casa, que foi para o pai dela. Qualquer coisa você sabe onde eu estou — diz um trecho do áudio a que a reportagem teve acesso.
A mãe
A mãe de Luciano, Elizete Boeira, 45 anos, contou que ele saiu de casa no dia do desaparecimento deixando a televisão ligada e carregador de celular na tomada, demonstrando intenção de voltar em breve.
— Ele tomou banho, disse que era para eu fazer a janta, que ele vinha comer aqui. Ele guardou a moto, porque não tinha ideia de sair, eu fui dobrar umas roupas e escutei o barulho da moto. Pensei para onde ele ia e vim na porta. Na mesma hora senti um aperto no peito, mas a moto já estava passando. Comecei a mandar mensagem e ligar para saber aonde ele ia. Lá pelas tantas ele respondeu que ia na cidade — lembra a mãe.
Depois disso, Elizete acordou às 4h da manhã e percebeu que a moto não estava no pátio da casa.
— Fui lá e desliguei a TV, achei que ele tivesse dormido lá na casa do irmão de criação dele. Eu pensei que de repente ele tivesse fugido com ela. Eu ligava, ligava e ele não atendia e não respondia — conta Elizete.
O desaparecimento
Luciano sumiu no dia 26 de julho após sair de casa para encontrar uma mulher. Ele saiu de moto da região de Hortêncio Dutra, interior do município, depois de receber uma mensagem da mulher pedindo para que os dois se encontrassem.
Como ele não retornou para casa, a família acreditou que os dois tivessem fugido. No dia seguinte, quinta-feira (27), familiares viram a mulher e o companheiro em um posto de saúde e começaram a se mobilizar para procurar por Luciano.