Uma equipe do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), de Bento Gonçalves, passou e colou na porta de entrada da Pensão dos Trabalhadores, na Rua Fortunato João Rizardi, bairro Borgo, em Bento Gonçalves, na manhã desta sexta-feira (3), um documento informando a interdição do local. A pousada era o local onde foram encontrados 180 trabalhadores baianos em situação análoga a escravidão, na semana passada. O documento está assinado pela diretora do Ipurb, Melissa Bertolettu Gauer. O documento, no entanto, não foi impeditivo para que os trabalhadores seguissem acessando o local.
O prédio foi interditado e a empresa responsável avisada nesta manhã. Porém, de acordo com o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, ainda era necessária a retirada dos pertences dos trabalhadores do local. Por isso, justificou ele, ainda é possível o acesso ao alojamento. A pousada é cercada nas laterais por dois terrenos, nos quais existem três casas em cada um. Ali, ainda moram outras 15 pessoas. Dentre elas, o gerente da pousada, originário de Salvador (BA), Josué dos Santos. Segundo ele, são famílias que vieram trabalhar em Bento Gonçalves e não tinham onde ficar. Assim, alugaram as casas de Fábio Daros, que também é proprietário da pousada. Entretanto, segundo Santos, as casas, no papel, são registradas em outros CNPJs. Esses moradores também possuem acesso ao prédio interditado.
Ao ser questionado sobre a regularidade das casas no entorno do prédio interditado, o prefeito Diogo Siqueira informou que há denúncias e a prefeitura está investigando se são, ou não, novos alojamentos para trabalhadores em situação irregular. Além disso, outros dois endereços da cidade, que não foram divulgados pelo prefeito, também estão em investigação.
Vizinhos fizeram denúncias
Ao longo dos sete anos de funcionamento da pousada, os vizinhos fizeram inúmeras denúncias, segundo uma moradora da Rua Fortunato João Rizardi, que preferiu não se identificar. Esses registros foram no Disque 100, na prefeitura e no Ministério Público (MP). A reclamação principal era sobre o barulho na chegada e na saída dos trabalhadores.
A moradora, que hoje só dorme após tomar remédios, comenta que a situação de analogia à escravidão sempre ocorreu em outras épocas e que o alojamento chegou a abrigar mais de 400 pessoas. Ela também conta que desde sempre ouviu relatos de agressões aos trabalhadores. Contudo, o medo de denunciar acabou sendo maior, pois haveria aliciadores na Bahia que ameaçavam as famílias deles.
Outro morador da rua comenta que está com medo de ficar na casa onde mora, pois já ouviu, de forma indireta, ameaças por falar com a imprensa e órgãos de fiscalização. Ele questiona o posicionamento da prefeitura. Segundo ele, o local tinha as liberações de todos os órgãos de Bento. O morador, agora, quer saber o que será feito com o prédio e com as casas do entorno.
A reportagem tentou contato com Daros, mas até a publicação desta matéria, não obteve retorno.