Há exatamente cinco anos, um dos casos policiais que mais comoveram e indignaram os caxienses chegava a um triste desfecho. Depois de 13 dias de buscas, a polícia localizou o corpo da menina Naiara Soares Gomes, sete anos, em um matagal na região da Represa do Faxinal, em Ana Rech. A criança foi raptada, estuprada e morta por Juliano Vieira Pimentel de Souza, 36. Condenado a 36 anos, seis meses e 20 dias de reclusão, o autor confesso do crime segue recolhido em Canoas.
A história que mobilizou a comunidade e as autoridades de segurança de Caxias se iniciou na manhã do dia 9 de março de 2018, quando a menina fazia o caminho para Escola Municipal Renato João Cesa, no bairro São Caetano, onde estudava. Uma atividade rotineira se transformou em uma tragédia.
Naiara foi raptada por Souza na Rua Júlio Calegari, a cerca de um quilômetro da escola. Moradora do loteamento Monte Carmelo, a menina geralmente era acompanhada por um primo, mas, naquele dia, o rapaz a deixou sozinha no caminho e retornou para esperar a namorada.
O desaparecimento da criança logo chegou ao conhecimento público e no dia seguinte, um sábado, as buscas se ampliaram com a ajuda de vizinhos e amigos da família. Neste primeiro momento, já havia a informação, revelada por colegas, de que a estudante tinha entrado em um carro branco antes da aula começar.
A medida que os dias se passavam, a angústia da comunidade aumentava. Desconhecidos se uniam em orações e ações de procura à criança. Cartazes, fôlderes e camisetas eram ferramentas de familiares e voluntários para difundir o sumiço da menina ao máximo de pessoas.
Ao mesmo tempo, policiais da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) intensificavam as investigações de maneira sigilosa. Imagens de um carro branco manobrando de forma suspeita na Rua Mozart Perpétuo Monteiro, a cerca de 30 metros adiante de onde a menina foi vista pela última vez, começaram a esclarecer o caso.
Para se ter uma dimensão do trabalho, foram mapeados mais de 500 carros com as características de um Palio, que iam sendo descartados um a um. Uma fotografia do carro, feito pelos próprios policiais em um domingo, e características específicas no vidro e na parte traseira, posteriormente, levaram à identificação do proprietário e autor do crime, morador do bairro Serrano.
A prisão do homem aconteceu às 13h30min do dia 21 de março de 2018, quando ele chegava em casa. O preso revelou aos investigadores onde havia deixado Naiara na manhã de 9 de março, após ter abusado dela dentro de casa. Após a procura na região da Represa do Faxinal, com a ajuda do Corpo de Bombeiros e dos cães farejadores da Brigada Militar, a morte da criança foi confirmada oficialmente às 16h55min daquele dia.
Lei municipal propõe reflexão à comunidade
No último dia 8, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, sancionou uma lei que institui o 9 de março como o Dia da Vítima Penal no município. A proposta, de autoria do vereador Alexandre Bortoluz (PP), relembra a data da morte de Naiara e também deseja provocar reflexões sobre questões de segurança, justiça e apoio às vítimas de crimes.
— (Trata-se de) rememorar uma data que foi tão marcante pela maneira triste, violenta e vil como aconteceu. Também é uma maneira de refletirmos sobre como podemos auxiliar as vítimas de crimes que, graças ao bom Deus, não vêm a óbito, mas precisam de uma atenção do poder público ou, talvez, de alguma entidade ou associação (...) Precisamos chamar a atenção de alguma forma para façamos uma rede de proteção às diversas vítimas, sejam crianças, adolescentes, mulheres, idosos... — explica o parlamentar.
RELEMBRE TODO O CASO
:: Naiara saiu de casa por volta das 6h30min do dia 9 de março de 2018, uma sexta-feira. Ela morava na Rua Vesúvio, no loteamento Monte Carmelo, e seguiu a pé até a Escola Municipal Renato João Cesa, no bairro São Caetano, onde estudava — cerca de dois quilômetros distante da moradia. Um primo de 15 anos deveria acompanhá-la no trajeto, porém, o rapaz deixou a menina sozinha no caminho e retornou para esperar a namorada.
:: Pouco depois das 7h11min, momento em que as últimas imagens de câmeras mostram a menina com vida, Naiara foi abordada por Juliano Vieira Pimentel de Souza em um Palio branco na Rua Júlio Calegari, perto da esquina com a Rua Mozart Perpétuo Monteiro, no bairro Esplanada.
:: Para conseguir que Naiara entrasse no veículo, o homem ofereceu uma mochila de bicho de pelúcia. Dentro do carro, ele fez a menina tomar uma bebida alcoólica adocicada com sabor de laranja.
:: Ao chegar na casa de madeira alugada onde morava com a esposa, no bairro Serrano, Souza carregou Naiara, já embriagada, no colo para o interior do imóvel, que tinha dois quartos, sala, cozinha e banheiro. A mulher não estava em casa.
:: Ele levou a vítima ao quarto do casal e cometeu o estupro. Conforme o depoimento do réu a policiais civis, a menina chorou e, ao tentar silenciá-la, o homem lesionou a coluna da criança e sufocou ela até a morte.
:: Em seguida, Souza carregou a criança envolta em um cobertor com os objetos — mochila e calçados —, de volta ao carro. Do Serrano, ele dirigiu cerca de 12 quilômetros até uma estrada vicinal às margens da Rota do Sol (RS-453), perto da Represa do Faxinal, em Ana Rech, onde escondeu o corpo um matagal.
:: Ele largou a mochila e calçados pelo mato e, 40 metros adiante, deixou o corpo da menina com as roupas que ela usava ao sair de casa — camiseta, blusa e calça rosa.
:: No início da tarde de 21 de março de 2018, Souza foi preso pela Polícia Civil em frente à residência que morava no bairro Serrano. Ele apontou o local onde escondeu o corpo de Naiara. A morte da menina foi confirmada oficialmente às 16h55min daquele dia.
:: Durante as investigações do caso Naira, ele foi relacionado a outro crime, um estupro de uma criança ocorrido em outubro de 2017 e que continuava em aberto. Naquela ocasião, uma menina também foi abordada na rua no caminho da escola e foi solta horas depois em outra parte da cidade, após sofrer abuso — por este crime, em maio de 2019, o homem foi sentenciado a 16 anos, seis meses e 10 dias de reclusão em regime fechado.
:: Atualmente, Souza segue recolhido em uma penitenciária de Canoas, segundo a Susepe.