A negociação em torno de apartamentos que foram comprados, pagos, mas não entregues em Caxias do Sul está sendo alvo de investigação da Polícia Civil. Pelos valores revelados por compradores, a estimativa é que uma mulher teria recebido entre R$ 1,2 milhão a R$ 1,5 milhão após negociar imóveis que, supostamente, não existiam. O caso é mantido em sigilo pela polícia, que confirma ter recebido as denúncias, mas evita dar detalhes. Seriam cerca de 40 pessoas que podem ter sido lesadas financeiramente.
De acordo com relatos, as pessoas foram atraídas pela oferta de venda de apartamentos com valores abaixo do mercado. A justificativa seria de que os imóveis estavam em leilão judicial por causa de débitos de condomínio, o que explicaria o valor menor.
A negociação era realizada por uma mulher, que se apresentava como síndica de um condomínio da zona sul da cidade. Segundo os compradores, ela forneceu contratos de vendas com a própria assinatura. A suspeita dos compradores, que agora é investigada pela Polícia Civil, é de que ela recebia o dinheiro da negociação dos imóveis na conta do próprio condomínio e, posteriormente, os valores eram transferidos para outra conta. Contudo, após o pagamento, a mulher começaria a dar desculpas para não entregar os imóveis.
Os apartamentos eram ofertados na internet. Após contato com a mulher, eles eram informados que os imóveis estavam localizados em um condomínio em que ela residia. Ela afirmava aos interessados que se o apartamento fosse comprado com ela, o preço seria menor e a entrega das chaves do local seria feita em dois meses.
Entre os clientes que alegam terem sido prejudicados, estão dois idosos que pediram para não ser identificados na reportagem. O casal diz ter comprado dois apartamentos na metade de 2021, por valores de R$ 38 mil e R$ 36 mil. Em imobiliárias de Caxias, os imóveis no mesmo condomínio são encontrados por valores entre R$ 100 mil e R$ 130 mil. Os dois foram atraídos por anúncios em uma rede social.
Como não receberam o imóvel deste então, eles abriram um processo para tentar recuperar o dinheiro, e fizeram uma denúncia na Polícia Civil, que está sendo investigada. Nesse mesmo inquérito, há outras pessoas que se dizem lesadas.
Os advogados Giovana dos Reis e Vinícius Octávio Reis, do escritório Reis e Reis Advocacia Criminal, que representam o casal, relatam que a mulher teria convencido os idosos a partir do cargo dela de síndica e de um discurso "bem articulado". Por nota, eles alegam que "através do cargo de síndica que ela exercia, passava muita confiança e é uma pessoa muito bem articulada, utilizava termos técnicos e afirmava ter proximidade com o juiz que seria responsável pelos supostos processos de leilão dos apartamentos".
Em ao menos uma ocasião, a mulher que ofertava os imóveis teria levado o casal para visitar um apartamento no condomínio. Contudo, esse imóvel não era o mesmo que havia sido anunciado na rede social. Segundo eles, a vendedora usava uma desculpa de que não poderia levar clientes para o imóvel do anúncio. A justificativa era de que os imóveis não poderiam ser acessados por conta do suposto processo judicial que estavam envolvidos.
As duas pessoas, que são aposentadas, fizeram empréstimos consignados e iriam usar os imóveis como um investimento, pois a intenção era alugar os locais. Agora, os idosos permanecem com a dívida e afirmam que a situação financeira está "extremamente comprometida".
"Estão (supostas vítimas) muito abaladas psicologicamente e uma delas com grave problema de saúde em razão do ocorrido", reforçam os advogados.
O que diz a defesa da mulher apontada como vendedor dos imóveis não entregues
Daiane Oliveira, advogada da mulher que está sendo apontada como negociante de imóveis não entregues, declara que as denúncias serão apenas respondidas na Justiça. A defesa também manifesta que "a apresentação e a documentação comprobatória de toda inocência dela será apresentada perante o poder judiciário".
Cuidados antes de comprar um imóvel
:: Escolha com cautela a construtora/incorporadora, imobiliária, corretor ou vendedora: busque informações no Procon, por exemplo. Converse com moradores de imóveis já entregues. Ou seja, verifique a idoneidade de quem vende para não ter surpresas desagradáveis no futuro.
:: Guarde todo e qualquer documento e registro que sejam feitos por escrito entre você e a construtora/incorporadora ou corretor. Por exemplo, anúncios do imóvel e e-mails, pois esse material servirá como prova em caso de problemas com uma obra ou na entrega do imóvel. Importante: tanto o material publicitário como o contrato deverão trazer o número do registro e a indicação do Cartório de Registro de Imóveis competente.
:: Você precisa saber o valor exato que poderá dar como entrada e também saber o valor que poderá disponibilizar mensalmente para as parcelas, assim, será mais fácil a negociação e o pagamento. Cuidado com as ofertas em que o valor da entrada e das parcelas é muito baixo, pois isso significa que na entrega das chaves o seu saldo devedor será muito alto.