Com os dois assassinatos registrados no começo da noite de segunda-feira (16), no bairro Vila Leon, em Caxias do Sul, chega a 13 mortes violentas em maio deste ano. Esse é o mês mais violento na cidade desde julho de 2021. Dos assassinatos, 11 foram motivados pelo tráfico de drogas. Em março de 2022 foram registradas sete mortes no município, e este mês, até esta terça-feira (17) já foram contabilizados 40% dos 34 assassinatos do ano. O clima de violência e a disputa de território para o tráfico de drogas entre organizações criminosas deixando mais vítimas em Caxias.
As forças de segurança da cidade já haviam confirmado que a cidade vive uma nova guerra de facções, que começou pelo domínio de um ponto de venda de drogas conhecido como "Buraco Quente", no bairro Jardelino Ramos. Contudo, essa disputa tomou a cidade e provoca apreensão, principalmente, pela violência dos ataques como esse da segunda-feira e da última semana quando um homem foi morto e uma lancheria e casas incendiadas no bairro Vila Ipê. No crime mais recente, o suposto alvo dos criminosos está em estado grave no hospital. Na mesma ocorrência uma adolescente e um homem, que não tinham envolvimento com o crime foram assassinados pelos atiradores. As vítimas foram Anderson Gomes, 38 anos, e Larissa Mariá Barbosa da Silva, 14.
A adolescente era familiar de um jovem de 28 anos que seria o alvo de criminosos que chegaram a uma casa na Rua Rosana Prezi Batisti, e atiraram contra ele, atingindo também Larissa. Já Gomes estava no carro com a esposa e o filho, quando teve problemas elétricos e precisou parar o veículo. Os criminosos, ao perceberem a movimentação dele efetuaram, pelo menos, quatro disparos. O homem morreu no local, a adolescente foi socorrida e morreu no hospital. O outro baleado segue internado.
— Num primeiro momento, a jovem que morreu não tinha nenhuma espécie de envolvimento, acabou estando no lugar errado e na hora errada, infelizmente. O rapaz que estava nas proximidades tudo sugere que ele teve um problema técnico no carro, acabou correndo e os executores o mataram sem maiores critérios — afirma o delegado Caio Márcio Fernandes, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa.
Para o delegado, esse é um dos problemas que tem sido identificado na cidade: os atiradores são cada vez mais inexperientes, e assim há vítimas inocentes em meio a disputa de pontos de tráfico:
— Os executadores acabam "cumprindo missões", como dizem na gíria das facções, sem a menor preocupação e cuidado em preservar a vida de inocentes. Não se preocupam em apenas ir atrás do alvo determinado, eles acabam ceifando a vida de quem está na volta, porque não tem nenhum cuidado ou humanidade. Na nossa percepção, os últimos atos, como o incêndio no Vila Ipê é uma forma de mostrar força, poder e crueldade perante os integrantes da outra facção, mas sem se importar com as demais pessoas que estavam no local. É isso que tem nos chamado a atenção.
Mais cedo, ainda na segunda um casal foi encontrado morto a tiros em um apartamento no loteamento Campos da Serra. São Fabiano da Silva, 36 anos, e Dara Natalie Rodrigues de Souza, 24.
Ataques a pontos de vendas de drogas e retaliações
No primeiro momento, entre final de abril e início de maio, a Delegacia de Homicídios, identificou que os criminosos atacavam pontos de venda de drogas, e depois disso, começaram a matar os possíveis executores de ataques anteriores, o que intensifica a disputa e a onda de criminalidade.
— Isso nos parece a linha mais robusta de investigação tanto que o homem encontrado morto ontem no Campos da Serra apresentava diversos antecedentes policiais. Nós tínhamos ele como um dos suspeitos da prática de outros homicídios nesse contexto recente — ressalta o delegado Caio.
Até o momento, neste ano, a Delegacia de Homicídios, registrou 38 prisões entre temporárias e preventivas. Contudo, o delegado ressalta que os presos são facilmente substituídos dentro das organizações criminosas.
— Identificamos e prendemos os executores, mas o que ocorre é que a mente por trás do mando não está ao alcance da delegacia porque não estão em liberdade. Em Caxias do Sul, já identificamos essas lideranças e elas não estão nem sequer no sistema prisional da região de Caxias do Sul. Prendemos um executor e seguem na rua outros tantos, que muitas vezes, não tem nem antecedentes e para ganhar respeito dentro da facção aceitam esse tipo de missão de executar oponentes.
Transferências de presos e bloqueadores de celular
O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Emerson Ubirajara de Souza ressalta que já abordaram em reuniões com as demais forças de segurança a necessidade de intervenções nos presídios e transferência de lideranças.
— Estamos em contato direto com a Polícia Civil e com a Susepe, e sabemos da necessidade de bloqueadores de sinal porque os comandos vem de dentro dos presídios e os dados de inteligência nos mostram isso. O Estado está adquirindo bloqueadores de sinal, e não tenho dúvidas que Caxias, especialmente, o Apanhador (penitenciária) está entre elas, o que nos dá um suporte para coibir vários crimes que são coordenados de dentro do presídio. Já conversamos com a Susepe sobre a intervenções nos presídios e transferências de presos que estão comandando essa instabilidade do homicídio no mês de maio em Caxias do Sul.
Ele ressalta que até abril, a Brigada Militar (BM) comemorava os índices positivos, uma vez que, em 2022, até abril, a cidade registrava 23 mortes em quatro meses, uma queda de 40% em relação ao mesmo período de 2021, com 37 homicídios.
— Estávamos mantendo essa briga por ponto de tráficos controlada, e agora percebemos que as duas organizações mais fortes da cidade estão travando uma luta por pontos, e também vinganças devido as execuções que viram uma bola de neve. Temos todo o acompanhamento de inteligência. As 13 mortes aconteceram em dez bairros da cidade, isso dificulta o trabalho da policia, porque temos que dividir a atenção das guarnições, mas procuramos trabalhar com antecipação, aumentar o número de viaturas, colocamos forças policiais nas ruas e vamos manter operações para reduzir esse índice.
A sequência de assassinatos no mês de maio:
:: O primeiro crime foi um duplo homicídio no dia 3 de maio. Gabriel Teles Rosa de Melo e Kauã Souza de Abreu, ambos de 18 anos, foram mortos por criminosos que invadiram uma residência na Rua Glória, no bairro Cruzeiro. As características do crime remetem às execuções praticadas por facções que disputam o tráfico de drogas.
:: Menos de duas horas após as primeiras mortes, Guilherme Pagnonceli da Silva, 18, foi executado com cinco tiros na Rua Amábile Fontana, no bairro Nossa Senhora de Fátima. O ataque aconteceu às 21h30min.
:: Na noite de 4 de maio, criminosos efetuaram diversos disparos de arma de fogo e atearam fogo em uma residência na Rua Rachel Cousseau, bairro Mariani. O corpo de Jeferson Rosa dos Santos, 37, foi encontrado carbonizado.
:: O quinto homicídio deste mês é o único que não é relacionado às facções. Rodrigo Antonio de Bittencourt, 42, foi esfaqueado durante uma briga em via pública no bairro Salgado Filho. Câmeras de monitoramento registraram o tumulto e auxiliam a investigação.
:: A sexta morte aconteceu no domingo, 8 de maio. Égon Vieira da Silva, 29, foi morto com cinco tiros dentro de um Corsa no bairro Jardelino Ramos. A namorada dele, uma mulher de 23 anos, também estava no veículo, mas não foi ferida.
:: Allisson Eduardo de Brito dos Santos, que estava comemorando o aniversário de 28 anos com familiares, foi assassinado com 16 tiros em frente a uma casa de lanches do bairro Vila Ipê, na madrugada da última sexta-feira (13). Os criminosos atearam fogo na lancheria, o que destruiu outras casas de madeira próxima. A Polícia Civil definiu este ataque como uma "demonstração de força" de uma facção contra outra.
:: Ainda na noite de sexta-feira (13), aconteceu o oitavo assassinato. Criminosos invadiram um sobrado do bairro Planalto e executaram Daniela da Silva, 20. A jovem não possuía antecedentes criminais, mas, segundo a Polícia Civil, tinha relação com as duas facções que disputam o domínio da cidade —o que aparenta ter motivado a sua morte.
:: O segundo assassinato do mês que não é relacionado à guerra entre facções aconteceu em Galópolis. A Polícia Civil trata como feminicídio seguido de suicídio as mortes de Marivane Geraldina Cavalheiro de Oliveira, 49, e Ari de Oliveira, 55, no último sábado (ele não entra na contagem porque teria tirado a própria vida).
:: Na segunda-feira (16) um casal identificado pela Polícia Civil como Fabiano da Silva, 36 anos, e Dara Natalie Rodrigues de Souza, 24, foi morto a tiros na manhã em um apartamento do loteamento Campos da Serra. Conforme informações da Delegacia de Homicídios, o crime também tem relação com o tráfico.
:: Anderson Gomes, 38 anos e Larissa Mariá Barbosa da Silva, 14, foram mortos em um ataque a tiros. A adolescente era familiar de um jovem de 28 anos que seria o alvo de criminosos que chegaram a uma casa na Rua Rosana Prezi Batisti, e atiraram contra ele, atingindo também a adolescente. Já Gomes estava na rua no carro dele com a esposa e o filho, quando teve problemas elétricos e precisou parar o automóvel. Os criminosos, ao perceberem a movimentação dele efetuaram, pelo menos, quatro disparos. O homem morreu no local, a adolescente foi socorrida e morreu no hospital e o outro jovem baleado está internado em estado grave.