A simulação chamada "tomada de cidade" mobilizou as forças de segurança na madrugada desta quarta-feira (27), em Caxias do Sul. Foram realizados ataques simulados simultâneos em dois pontos onde há intensa circulação de dinheiro na área central do município. A ação começou por volta das 2h. Na encenação, 22 policiais agiram como se fossem criminosos. Divididos em dois grupos, eles simularam dois ataques: um em uma empresa que transposta malotes e abastece carros-fortes e outro no Setor de Retaguarda e Tesouraria (Seret) do Banco do Brasil. A ação contou com a presença de cerca de 150 agentes das forças de segurança e durou quase 3h, encerrando no distrito de Santa Lúcia do Piaí.
Dez policiais disfarçados de criminosos chegaram na Prosegur, na Rua Pinheiro Machado, no bairro Lourdes. Lá, eles simularam uma tentativa de explodir o portão e entrar na empresa. Como em um cenário real, em seguida, os seguranças entraram em confronto com os assaltantes. Um deles foi baleado e a quadrilha fugiu sem conseguir levar o dinheiro. O ferido foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento-Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado à Unidade de Pronto-atendimento (UPA) Central. Depois, a área foi isolada pelos policiais. Lá também atuou a Polícia Civil para analisar a cena do crime.
Da Praça Dante Alighieri, onde a reportagem estava para acompanhar o simulado, distante nove quadras da empresa, se ouvia o barulho dos tiros de festim e dos rojões que imitavam explosivos. Cerca de três minutos depois do ataque a Prosegur começar, dois carros chegaram ao Seret na Sinimbu. Deles, desceram 12 policiais agindo como se fossem de uma quadrilha. Os veículos foram deixados na Rua Sinimbu, atravessados na transversal, bloqueando a passagem – um deles na esquina da Marquês do Herval e outro na Borges de Medeiros.
Nos prédios da área central, poucas luzes estavam acessas, mas quando começou a simulação era possível ver a movimentação de alguns moradores que acompanhavam a ação.
Com máscaras e armados de fuzis, os "assaltantes" ameaçavam explodir a porta. Eles atiravam para o alto e diziam aos seguranças:
— Queremos dinheiro. Vamos abrir. Perdeu, perdeu. Abre esse porta.
Os gritos eram intercalados com tiros de festim disparados para o alto. As ameaças aos seguranças eram constantes:
— Tem gente nos prédios. Vai morrer gente. Não tem polícia. A cidade é nossa.
Às 2h22min, eles ouviram por um rádio que estava na frequência da Brigada Militar um morador relatando a presença de uma quadrilha fortemente armada em uma ligação para o Centro Integrado de Segurança Pública (Ciosp).
— Se chegar polícia vai morrer. Não deixa ninguém chegar. O segurança a gente só quer dinheiro. Tá tudo dominado — gritavam os policiais que fingiam ser criminosos.
Ainda se ouviam tiros e explosões vindos da empresa, enquanto no Seret do Banco do Brasil, com rojões o grupo também simulava explosões. Na quarta tentativa, conseguiram entrar na sede e sair com os malotes de dinheiro. Na Sinimbu, não foi simulado um confronto por ser uma área muito movimentada, conforme a Brigada Militar. A simulação seguiu no Centro com a chegada de equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Vestidos com traje anti fragmentação eles atuaram como se fossem desarmar os artefatos deixadas para trás pelos criminosos.
Fuga e captura em matagal
Enquanto isso, os criminosos fugiram com o dinheiro em direção ao interior de Caxias. Eles se encontram com os demais integrantes da quadrilha para tentar deixar a cidade. A essa altura no simulado, todos os batalhões haviam sido acionados e montado barreiras em pontos estratégicos. Numa estrada de chão batido, que dá acesso ao distrito de Santa Lúcia do Piaí, o grupo avistou uma barreira. Eram os policiais do 12º Batalhão da Brigada Militar. Os bandidos abandonam os carros. Em um deles era possível ver pelo menos dois malotes de dinheiro roubados no Seret.
Equipes do Bope chegaram ao local por volta das 4h10min. Eles entraram no matagal com equipamentos específicos como óculos com visão noturna. O helicóptero da Brigada Militar sobrevoava a área. Por volta das 4h32min foram ouvidos gritos e tiros vindos do matagal. A equipe capturou os criminosos. A simulação durou cerca de 2h45min.
Avaliação do comando da Brigada Militar
Liderada pela Brigada Militar (BM), a simulação foi teste para executar uma pronta resposta contra ataques, como os ocorridos em Criciúma (SC) no final de 2020 e recentemente em Guarapuava (PR). O planejamento contou com a participação do 12º BPM, do 4º Batalhão de Choque e de batalhões das cidades vizinhas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Comando Rodoviário da BM, o Batalhão de Aviação, a Polícia Civil, a Guarda Municipal, o Batalhão de Bombeiro Militar, a Fiscalização de Trânsito e o Samu também participaram da ação.
Esse plano de defesa foi desenvolvido por determinação do comando da Brigada Militar após análise do mega-assalto em Criciúma. Os batalhões policiais gaúchos tiveram orientação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do setor de inteligência da BM.
— Essa simulação faz parte do planejamento estratégico da Brigada Militar para que não tenha esse tipo de evento, e para capacitar as forças de segurança para evitar que, se ocorrer, não tenha danos à população e aos policiais que vão atender a ocorrência. A gente vê essa simulação com muito bons olhos porque envolve todas as forças de segurança para que a gente possa evitar (esse tipo de crime)e prender aqueles que possam tentar fazer uma ação como essa que foi simulada — destaca o subcomandante-geral da BM, coronel Douglas da Rosa Soares.
O planejamento foi feito em janeiro em Caxias e colocado em prática para avaliação. Toda a ação foi cronometrada para posterior análise.
— Estamos treinando a reação num evento como esse, quando assaltantes invadem uma cidade. Ao final, vamos avaliar os pontos positivos e negativos, como é que reagimos, como foi o nosso tempo de resposta para que possamos dar uma resposta cada vez melhor e sem provocar danos à população — completa Soares.
Um treinamento semelhante foi realizado recentemente em Campestre da Serra, liderado pelo 10º BPM. Uma simulação de assalto a banco também já foi realizada em Novo Hamburgo. Há mais ações do tipo previstas para cidades gaúchas.