Pouco mais de um ano depois do ataque a banco em Criciúma, considerado o maior da história de Santa Catarina, as autoridades seguem investigando o crime e trabalhando para penalizar os envolvidos. Atualmente, 10 suspeitos estão presos e dois estão foragidos.
O caso segue refletindo também na vida do policial militar baleado na ação, Jeferson Luiz Esmeraldino, que permanece em uma unidade de terapia intensiva (UTI) montada em casa, sem conseguir falar e se locomover.
O mega-assalto a tesouraria regional do Banco do Brasil ocorreu entre a noite de 30 de novembro e a madrugada de 1º de dezembro do ano passado, no município ao sul de SC, quando criminosos levaram cerca de R$ 125 milhões. Na ação, cerca de 30 criminosos sitiaram a cidade e aterrorizaram moradores.
Até o momento, 18 pessoas respondem na Justiça pelo assalto. De acordo com o Ministério Público (MP) catarinense, elas são suspeitas de participarem da sucessão dos crimes daquela noite e foram denunciadas à Justiça em duas ações penais ajuizadas pela instituição. As duas ações, que somam quase 3 mil páginas, foram remetidas em fevereiro e novembro deste ano. Os processos tramitam em segredo de Justiça na comarca de Criciúma.
Dos 18 denunciados pelo MP, 10 seguem presos preventivamente — cinco deles em penitenciárias federais. Outros seis tiveram, recentemente, a prisão preventiva substituída por medidas cautelares diversas, como monitoramento eletrônico e limitação de circulação, e dois, que têm prisão preventiva decretada, estão foragidos. De acordo com a participação de cada um, as denúncias são pelos crimes de organização criminosa, roubo qualificado, uso de documento falso, dano qualificado e incêndio. O Ministério Público afirma que as ações penais estão em andamento na Justiça, com audiências ocorrendo neste mês.
Na tentativa de identificar os demais participantes do assalto e o destino do valor roubado, as investigações seguem ocorrendo, em uma força-tarefa entre o MP, o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e a Polícia Civil.
Para os promotores de Justiça que integram a equipe, as provas colhidas até agora reforçam que o roubo foi premeditado e teve a participação de integrantes de facção criminosa.
Anteriormente, o MP e a polícia já haviam divulgado que ao menos seis dos denunciados teriam relação direta com o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo criminoso paulista, considerado a maior facção do Brasil. Essa relação já era indicada pela polícia desde o começo das investigações sobre o ataque.
Procurado, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina informou que não se manifesta sobre o processo, que está em segredo de Justiça.
Policial baleado
Mais de um ano após o assalto, o tiro que atingiu Jeferson Luiz Esmeraldino, 33 anos, ainda reflete na rotina do policial militar e de sua família. Desde fevereiro, quando recebeu alta do hospital, ele está acamado em uma UTI montada na sala da casa onde mora com os familiares, no município de Tubarão. Esmeraldino não consegue falar nem se movimentar, reage a alguns estímulos piscando os olhos e se alimenta por sonda.
Dias após ter sido baleado no assalto, ele conseguiu conversar com a família por videochamada, feita no hospital. Pouco depois, teve uma parada cardiorrespiratória, que atrasou a recuperação e causou sérias lesões neurológicas.
Atualmente, ele ainda realiza diversos tratamentos e por vezes precisa se deslocar ao hospital. Em casa, é atendido por uma equipe de profissionais, e realiza sessões de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional. A filha do policial, de seis anos, também recebe acompanhamento psicológio, assim como demais familiares.
Além dos cuidados, Esmeraldino é acompanhado de perto pela mãe, Sandra Aparecida Nunes, que também é técnica de enfermagem. Ela conta que a família pretende, nos próximos meses, mudar de casa para uma mais perto do posto de saúde e com melhores instalações para a UTI adaptada.
Mesmo sem saber como será a evolução do filho, Sandra conta que familiares e equipe médica seguem oferecendo todos os cuidados, na esperança de ver Esmeraldino melhorar:
— Ainda é muito doloroso, meu coração segue estraçalhado. Meu filho saiu para trabalhar com toda a saúde e hoje é o oposto disso. Ele fazia esportes, lutava, era ativo. Há dias em que choramos muito, porque é difícil aceitar. Esse tiro desestruturou uma família inteira. Mas nós sempre mantemos a esperança, o que pudermos fazer por ele, iremos fazer. Ele é o meu orgulho.
Segundo Sandra, apesar de gastos com equipe médica serem custeados pelo Estado, outros custos acabam sendo pagos pela a família. Quem quiser fazer doações ao PM pode utilizar a conta poupança da mãe, no nome de Sandra Aparecida Nunes (CPF: 966.611.789-49), na Caixa Econômica Federal, da agência 0425, número 935972616, dígito verificador 3 e tipo 1. Também é possível usar a chave Pix: CPF 96661178949.
Criminosos no RS
Na noite do crime, cerca de 30 homens fortemente armados invadiram a cidade, atacaram um quartel da Polícia Militar e montaram barricadas com veículos em chamas. Ao menos 15 pessoas foram feitas reféns. Na ação, o policial militar Jeferson Luiz Esmeraldino foi baleado.
Os 10 presos foram localizados pela polícia nos municípios de Três Cachoeiras, Gramado e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e em Passo de Torres, SC. Na sequência da investigação, outros seis foram presos preventivamente.
O trabalho de apuração também conseguiu encontrar 18 veículos utilizados pelos criminosos na ação, sendo quatro caminhões, nove carros blindados e outros cinco automóveis. Foram localizados ainda sete imóveis que foram usados pelos assaltantes, nas cidades catarinenses de Içara, Sombrio e Imbituba e nas cidades gaúchas de Gramado, Gravataí e Três Cachoeiras.
Na fuga do assalto, os criminosos ainda espalharam dinheiro pelas ruas, no intuito de dificultar a perseguição da polícia. Horas após o roubo, quatro homens foram presos por terem recolhido as notas. Eles foram localizados em um apartamento. Em dezembro do ano passado, foi concedida a liberdade provisória mediante cumprimento de medidas cautelares, que atualmente são comparecimento mensal ao juízo e sempre que intimados, bem como a proibição de mudarem de endereço ou ausentarem-se da comarca por mais de oito dias, sem autorização judicial.