Quatro meses após criminosos aterrorizarem moradores de Criciúma, em Santa Catarina, e balearem um policial militar durante um assalto ao Banco do Brasil, a investigação que tenta identificar o bando segue em andamento. Embora o assalto em si ainda seja apurado pela Polícia Civil, em paralelo outro inquérito já foi encaminhado ao Judiciário. Ele foca em 16 pessoas, que respondem pelo crime de organização criminosa — os nomes não foram divulgados. Todos tiveram prisão preventiva decretada pelo Judiciário e três estão foragidos.
— Essa primeira fase é voltada à organização criminosa. São especialmente aqueles que já tinham sido presos, em flagrante, nos primeiros dias, nos levantamentos preliminares. Mais algum que foram identificados, e também denunciados. O processo já está andando — explica o delegado Anselmo Cruz, da Delegacia de Roubos e Antissequestro da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santa Catarina.
Essas pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público (MP) pelo crime de organização criminosa, com emprego de arma de fogo. Quatro delas, respondem ainda pelo uso de documento falso. Mas isso não significa que essas mesmas pessoas não possam vir a responder pelo roubo em si e pelo crime contra o policial militar. O soldado Jeferson Luiz Esmeraldino, 32 anos, foi baleado no abdômen com um tiro de fuzil. Após ficar dois meses hospitalizado, parte do período na unidade de tratamento intensivo (UTI), ele se recupera em casa.
A apuração do roubo é mantida em sigilo pela Polícia Civil. Por isso, o delegado não fornece detalhes sobre o número de pessoas identificadas ou se novos valores foram apreendidos. Logo após o roubo, cerca de R$ 1 milhão havia sido recuperado. Naquele momento, a estimativa era de que os criminosos tivessem conseguido roubar cerca de R$ 80 milhões da tesouraria regional do Banco do Brasil.
— Não posso divulgar mais detalhes, mas está andando e caminhando bem — diz o policial.
O inquérito já acumula mais de mil páginas, segundo informações divulgadas pelo MP e pela Polícia Civil. A Promotoria continua acompanhando e dando suporte às investigações para tentar chegar aos criminosos envolvidos diretamente no roubo. Dezenas de pessoas participaram da ação criminosa, entre a noite de 30 de novembro e a madrugada de 1º de dezembro. Inicialmente, a estimativa era de fossem cerca de 30 assaltantes, mas o grupo como um todo envolveria mais criminosos.
Segundo nota divulgada pelo MP e pela Polícia Civil, dos 16 denunciados, pelo menos seis têm relação direta com o Primeiro Comando da Capital (PCC), no qual ocupam funções importantes. O possível envolvimento de integrantes do grupo criminoso paulista, considerado a maior facção do Brasil, já era apontado pela polícia desde o começo das investigações.
Ao longo da apuração, suspeitos foram presos em São Paulo. No Rio Grande do Sul, em Gramado, na Serra, logo após o assalto em Santa Catarina, Márcio Geraldo Alves Ferreira, o Buda, apontado como um dos líderes do PCC, foi preso em uma casa de luxo.
O armamento pesado empregado no crime, como metralhadora antiaérea e fuzis, apontam para a organização do grupo. Além disso, os bandidos usaram como estratégia primeiro atacar a sede do policiamento, para depois cometer o roubo. O bando metralhou a unidade do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
— Uma coisa é a facção criminosa, outra coisa é a organização criminosa que se montou em razão do roubo, tanto que tem pessoas desses 16 indiciados que não são vinculados à facção de São Paulo. O envolvimento a gente já sabe. A ordem, o planejamento ou o comando do roubo pela facção, isso ainda está sendo trabalhado, apurado – afirma o delegado Cruz.
A investigação sobre o assalto ainda não tem prazo para ser concluída.
PM baleado
O soldado Esmeraldino, que foi baleado na noite de 30 de novembro, durante o confronto com os criminosos, ainda está em recuperação. O PM permaneceu dois meses internado no Hospital São João Batista – durante mais de um mês na UTI. Depois disso, foi encaminhado para casa, onde segue em tratamento.
Os amigos e familiares de Esmeraldino mantêm uma página online, onde arrecadam recursos para auxiliar no suporte ao soldado. O salário dele, segundo o comunicado na página, não é suficiente para custear todas as despesas, que envolvem melhorias no quarto onde permanece e consultas médicas, entre outros. Quem tiver interesse em auxiliar o PM pode entrar neste link e fazer a doação de qualquer valor.
GZH entrou em contato com o Tribunal de Justiça de Santa Catarina para saber qual a situação atual do processo contra os 16 denunciados, mas ainda não obteve retorno para os questionamentos.