Gramado será a primeira cidade gaúcha a aderir a campanha Sinal Vermelho contra a violência doméstica, lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no ano passado. A iniciativa orienta farmácias para que recebam pedidos de ajuda de vítimas, que não conseguem acionar a polícia em razão da violência que sofrem em casa. Basta as mulheres fazerem um X vermelho na palma da mão para os funcionários entenderem o pedido silencioso. A proposta é semelhante a campanha Máscara Roxa, lançado pelo Comitê Gaúcho Impulsor Eles por Elas e que, até abril, recebeu 88 denúncias em 33 municípios gaúchos.
Ambas as campanhas tiveram a necessidade reforçada pela pandemia de coronavírus. Neste momento de distanciamento social, muitas vítimas de violência doméstica só conseguem sair de perto do agressor por poucos minutos, e, muitas vezes, com o argumento de que precisam ir a locais como postos de saúde e farmácias.
— Surgiu para ajudar justamente aquela mulher que está presa em casa e que não tem como pedir socorro, seja porque o companheiro quebrou o celular dela, ou escondeu o telefone, ela não tem um computador, não tem como se comunicar com a família, enfim, não consegue chamar ninguém para auxiliá-la e não consegue fazer a denúncia pela forma virtual. Mas, muitas vezes, ela consegue ir a uma farmácia e esse é o momento — declarou Cristiana Ziouva, representante do CNJ, à época do lançamento.
Desde o início da pandemia, os índices de feminicídio no Brasil cresceram 22,2% em comparação com 2019. Os dados apresentados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública motivaram o CNJ a propor uma nova estratégia para dar um basta na violência contra a mulher.
O protocolo é simples: com um X vermelho na palma da mão, que pode ser feito com caneta ou mesmo um batom, a vítima sinaliza que está em situação de violência. Os atendentes das farmácias e drogarias, que aderirem à campanha, irão manter o atendimento normalmente e coletar o nome, telefone e endereço da mulher. Estes dados serão repassados para a Brigada Militar (BM) ou Polícia Civil verificarem a situação.
A adesão da prefeitura de Gramado acontece por meio do Gabinete da Primeira-Dama. A campanha será lançada no próximo dia 18 de junho. A primeira-dama Jandira Tissot acredita que a ação será uma nova ferramenta de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica.
— A campanha tem como proposta um ato simples, mas que pode salvar muitas vidas — exalta.
Nos primeiros quatro meses de 2021, 17.881 mulheres foram vítimas de lesões, ameaças e estupros no Rio Grande do Sul, segundo os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). A média é de 149 mulheres agredidas por dia.
O Estado contabilizou 34 mulheres assassinadas em razão do seu gênero entre janeiro e abril. Outras 97 tentativas de feminicídio aconteceram, mas as vítimas sobreviveram.
Neste período, Gramado contabilizou 19 casos de lesão corporal, 22 ameaças de morte e um estupro contra mulheres.
Sinal vermelho contra violência doméstica
- Se uma mulher chegar à farmácia ou drogaria com um X vermelho na palma da mão, os atendentes entenderam como uma denúncia silenciosa de violência doméstica.
- Os atendentes não farão muitas perguntas. Sua ação deverá ser discreta e de acolhimento.
- De forma reservada, os atendentes anotarão o nome, o telefone e o endereço da vítima e acionarão o 190. Se a vítima disser que não quer a polícia naquele momento, o funcionária irá entender. Após a saída dela, as informações serão repassadas aos policiais pelo telefone.
- O farmacêutico ou atendente não precisará acompanhar a polícia. Não são testemunhas da violência.