O tatuador e empresário Diego Andrigo de Souza, 34 anos, nega ser o mandante do assassinato da ex-esposa Dhiuliane Damiani Martins, 32, no centro de Caxias do Sul. O investigado ficou 11 dias preso e foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por feminicídio. A investigação aponta que Souza pagou R$ 8 mil pela execução. Ele foi solto no dia 19 de janeiro, depois que o Tribunal de Justiça aceitou recurso da defesa que alegou colaboração nas investigações.
Souza é separado de Dhiuliane há sete anos, mas afirma que mantinha contato quase diário em razão dos dois filhos do casal. O tatuador alega que a relação era cordial.
Após a divulgação do conteúdo da denúncia pelo Pioneiro, Souza aceitou falar sobre a investigação. A entrevista de 35 minutos foi acompanhada pelos advogados Ivandro Bitencourt Feijó, Mauricio Adami Custódio e Raquel Rota.
Souza afirma que sempre colaborou com as investigações e que o seu desabafo no primeiro testemunho a Polícia Civil, ainda sem advogado e sem entender que era um suspeito, possa ter direcionado errado as investigações. Na ocasião, o ex-marido falou sobre o trato com Dhiuliane, as possíveis desavenças deles e demonstrou insatisfação com a mudança da ex para São Paulo com os filhos.
— (Naquele primeiro depoimento), o Diego abriu detalhes importantes que podem ser interpretados, por exemplo, como uma relação conturbada e que ele estava cansado daquela briga. Ele não se ateve aos fatos. O primeiro depoimento foi muito aberto sobre a vida deles, o que pode ser interpretado de várias formas — argumenta o advogado Feijó.
O desabafo de Souza corroborou para tese policial de que a morte de Dhiuliane foi um feminicídio. Segundo o MP, Souza encomendou a morte por não aceitar as circunstâncias de pagamento de pensão alimentícia e de tratamento aos filhos comuns e com menosprezo à condição de mulher. O tatuador nega que tivesse problemas sobre a guarda ou a pensão dos filhos.
Confira a entrevista com o ex-marido denunciado:
Pioneiro: Como se declara sobre a denúncia?
Diego Andrigo de Souza: Me sinto injustiçado. Ainda mais sendo que procurei advogados e fiz tudo que a lei me permite fazer. Em nenhum momento falei alguma mentira. Desde o meu primeiro testemunho, falei a verdade e o que o meu coração dizia. Estou cooperando desde o início.
Como era o seu relacionamento com a Dhiuliane após a separação?
Éramos separados há sete anos. Sempre tivemos uma relação de sempre querer melhorar a vida um do outro e dos nossos filhos. Como um homem que tem uma relação de 14 anos, sete casados e sete separados, eu só queria o melhor para ela. Fiz muito por ela e todos sabem disso. Nossa relação não era ruim, era rotineira, quase diária, com um contato com base nos nossos filhos, sempre querendo o melhor para eles e para nós dois. Apesar de ter contado no meu primeiro testemunho, quando fui sem advogado, algumas coisas que ali meu coração estava dizendo, eu não tinha uma relação ruim com a Dhiuliane. Eu não tenho rancor. Agradeço por tudo que ela fez para mim.
Conhecias o adolescente autor confesso dos tiros? E os outros dois adultos denunciados?
Não conheço esse adolescente. Só tive o desprazer de ter que olhar a foto dele lá na delegacia, que a Polícia Civil me mostrou. Não conheço, e ele não me conhece. Ele não me reconheceu lá na delegacia (durante procedimento policial). Conheço o Jean Carlos (Bernardes), que é meu funcionário, um ótimo trabalhador, confiável, por isso não acredito que ele faria uma coisa dessa. Não acredito que qualquer pessoa próxima de mim faria uma coisa desse tipo. Ele também é pai e tem uma filha. Já o Daniel (José Alves Silveira) não sabia da existência dele. Não sabia que existia alguém da família do Jean (os dois réus são cunhados) que era foragido. Não manteria tão perto de mim uma pessoa desse tipo. Não conhecia o Daniel e o adolescente.
Acha que o adolescente agiu sozinho ou o crime foi encomendado?
Tem mais gente envolvida. Esse adolescente estão tratando como uma criança que não sabia o que estava fazendo. Ele sabia muito bem o que estava fazendo. Ele já mudou cinco vezes a versão dele. Ele aponta muitas histórias e isso deveria ser investigado também. Acredito que ele tem alguma informação que está escondendo. Ele está jogando um jogo, talvez. Como apareci nesta história, é muito mais fácil apontar. Mas, ele não me reconheceu. Ele não me conhece, ele mesmo disse. Em nenhum momento disse que foi mandado por mim.
Como este adolescente tinha o seu nome?
Ele tinha porque eu tenho um trabalho que não é difícil me conhecer. Sou uma pessoa reconhecida pelo que faço. Saber o meu nome, saber onde eu trabalhava, saber que a Dhiuliane era minha ex-mulher, de sete anos atrás. Nossa vida era aberta. Era só procurar na rede social que tem tudo lá sobre mim. Não era difícil saber quem eu sou.
Há discordância sua com a investigação da Polícia Civil?
Não acho que eles estejam tão errados. Acho que o meu primeiro testemunho é que tem baseado isso tudo. Não nego nenhum fato, falei tudo que sabia. Não acho que eles estão no caminho errado, só acredito que deviam usar tudo que tenho para cooperar para encontrar a pessoa que realmente fez isso. Não consigo acreditar. A motivação que é o foco em que fui preso não é motivo para matar ninguém. Estava num momento muito bom com a Dhiuliane. Já tivemos momentos muito mais conturbados e a gente resolveu. Não precisando de Justiça, só com uma conversa. Não acho que a investigação está errada, só que o foco está em mim por este primeiro testemunho.
O que aconteceu no seu primeiro testemunho?
Achei que fosse um testemunho para início da investigação (e não como um dos investigados). Não entendia como funcionava um testemunho. Achei que fosse como ver um psicólogo. Falei muitas coisas neste testemunho. Sobre São Paulo, a nossa relação, a relação com a família dela, como era com nosso filhos... Falei muita coisa boa. Mas não sabia que aquelas coisas estavam sendo escritas de outra forma. Mesmo tendo assinado (o depoimento). Acredito que foi aquele testemunho que foi importante para a posição que estamos agora.
Como vê os próximos passos?
Voltei a trabalhar e estou em tratamento psiquiátrico. Os meus filhos, coloquei num psicólogo. Tenho melhorado. Foi um choque e, talvez, fosse o motivo para qualquer pessoa desistir de tudo. Mas, amo o que faço e vou continuar trabalhando para dar condição a minha família. Fui trabalhar no segundo dia que saí da cadeia. Não tenho medo de ir lá mostrar a minha cara. Como fui ver os pais dela e fui, com o advogado, ver a delegada do caso e as pessoas que me prenderam. Não tenho nenhuma dúvida que irá descobrir algo e isso tudo irá passar. Quando passar, voltarei a ter uma relação boa com a família dela. É isso que a Dhiuliane iria querer. Tenho fé, esperança e boas pessoas junto comigo. A polícia irá descobrir o que aconteceu.
Não usou a palavra inocente nesta entrevista. Tu és inocente?
Sou inocente. Desde o início, meu comportamento não foi de fugir ou de ameaçar alguém. Sou inocente, não tenho nenhuma dúvida e quem me conhece sabe. Sou quem mais quer saber (a verdade sobre o crime). Mais que a família, mais que tudo, eu quero descobrir quem fez isso. O porquê de tirarem a vida dela. Ela era como se fosse uma filha que eu tinha que cuidar, mas que não tinha mais como viver com ela. Ela seguiu a vida dela e eu a minha. Era como se fosse uma filha e ela não estar mais aqui é como se eu não tivesse cuidado dela. Ela não tinha essa maldade. Às vezes, penso que foi feita essa maldade para me prejudicar. Eu estou buscando ajuda psicológica e psiquiátrica, estou com advogados bons, tenho uma família boa e filhos. Vou superar isso e vamos descobrir quem fez isso com ela. Eu sou inocente. Se ela estivesse aqui, estaria fazendo a mesma coisa por mim. Ela sabe. Ela nunca deixaria alguém fazer isso comigo.