Preso nesta quarta-feira (17) como por posse ilegal de arma de fogo durante uma operação contra o planejamento de um roubo a banco, Valdeni Alves da Silva, 32 anos, é apontado pela Polícia Civil como líder de uma facção em Bento Gonçalves e, em 2019, foi indiciado como mandante da maior chacina da Serra. O ataque ao Bar dos Amigos, que terminou com cinco mortos no bairro Municipal, teria sido ordenado por Valdeni de dentro do sistema penitenciário, conforme o inquérito policial.
— Ele se denomina o chefe dessa facção e montou um grupo de extermínio, que tinha a ordem de executar os rivais. Foi o que aconteceu (nesta chacina) e continuou. Esses indivíduos são matadores e estão envolvidos em todos os homicídios (praticados pela facção e a maioria das 42 mortes de 2019 na cidade) — declarou o delegado Álvaro Becker na coletiva de imprensa sobre aquela investigação.
Na época do indiciamento, Valdeni cumpria 15 anos de reclusão em razão de três condenações por tentativa de homicídio, porte de arma e tráfico de drogas. A pedido da Polícia Civil, ele foi transferido para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) numa tentativa de reduzir seu acesso a celulares e sua comunicação com comparsas fora do sistema penitenciário.
Até então, eram dois mandados de prisão preventiva da investigação da chacina que mantinham Valdeni recolhido. Caso contrário, conforme o Tribunal de Justiça, o apenado seria autorizado a cumprir sua pena em regime semiaberto em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica. Foi o que aconteceu.
Enquanto aguarda os trâmites do processo sobre a chacina no Bar dos Amigos, o apenado progrediu para o regime semiaberto no dia 3 de fevereiro deste ano. Foi em casa que, segundo a investigação da Polícia Civil, Valdeni estaria planejando um roubo a banco. Durante as buscas na residência dele nesta quarta-feira (17), o apenado foi preso em flagrante com uma pistola e um revólver — ele usava a tornozeleira eletrônica.
A operação foi batizada de Fratres, que significa irmãos em latim, em referência a Valdeni e seus irmãos que lideram a facção bento-gonçalvense, segundo a investigação. Na ação policial, foi preso em flagrante Sidinei Alves da Silva, 30, com uma pistola. Ele também é investigado por planejar o roubo a banco.
Na época da chacina, uma ação da Brigada Militar (BM) "desarticulou o quartel-general da facção" no interior de Bento Gonçalves e prendeu Reni Alves da Silva, irmão mais velho de Valdeni, no dia 25 de junho de 2019. Menos de um ano depois, em 15 de maio de 2020, Reni morreu aos 40 anos em um confronto com policiais militares na mesma localidade conhecida como KM2, às margens da BR-470.
Na operação desta quarta-feira, a Polícia Civil frisou que Valdeni também participou da logística do ataque a um carro-forte na BR-470, em fevereiro de 2018. Esse crime teve a participação do conhecido assaltante Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio, e outros criminosos. Na ocasião, o bando parou o blindado com tiros de metralhadora .50. Segundo o informe policial, Valdeni foi condenado por aquele assalto, mas a reportagem não teve acesso à sentença.
Contraponto
Valdeni é representado pelo escritório Fernando Alves Advocacia, de Caxias do Sul, que divulgou um comunicado de esclarecimento sobre as investigações contra o seu cliente. Os advogados Fernando Alves e Andrei Felipe Valandro garantem que o Valdeni não foi preso por estar articulando um suposto roubo a banco, mas por um flagrante relacionado a posse ilegal de armas. A defesa também se manifestou a respeito do indiciamento de Valdeni pela chacina com cinco mortes em 2019. Confira a nota:
"A prisão de Valdeni no dia 17 fevereiro não ocorreu por uma suposta articulação de roubo a banco, o que exigiria um mandado de prisão, e sim por força de um flagrante por posse ilegal de arma depois de uma mochila com dois artefatos ter sido localizada no terreno vizinho à moradia dele.
Já em relação ao processo sobre a chacina em um bar da cidade de Bento Gonçalves é preciso trazer a verdade à comunidade. Valdeni jamais teve a prisão preventiva decretada neste processo e tampouco restou condenado uma vez que o próprio Ministério Público solicitou novas diligências à Polícia Civil quando o indiciamento foi encaminhando à Justiça e, depois, pleiteou pelo arquivamento do inquérito por ausência de provas contra Valdeni. O processo ainda tramita e a Justiça ainda não se manifestou sobre o pedido do MP e com a fundamentação da defesa do réu.
Os criminalistas da banca Fernando Alves Advocacia se manifestarão sobre a operação Fratres, como é praxe, após o acesso irrestrito ao conteúdo do inquérito policial uma vez que o flagrante que levou Valdeni à prisão trata de crime previsto no Estatuto do Desarmamento e não tem relação com um suposto assalto."