Apesar de um adolescente de 15 anos ter assumido a morte da dançarina Dhiuliane Damiani Martins, 32 anos, o caso permanece cercado de dúvidas. A mulher foi morta a tiros praticamente na porta de casa na Rua Visconde de Pelotas, no centro de Caxias do Sul, por volta das 16h do último dia 29 de dezembro. O rapaz alegou ter agido por vingança supostamente devido a um desentendimento com Dhiuliane.
O jovem foi apreendido com a arma com a qual disparou pelo menos quatro vezes contra Dhu, como era chamada por familiares e amigos. A identidade dele não é divulgada em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O jovem está recolhido no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case).
Como foi o crime
Pouco antes do crime, a dançarina mandou mensagem ao pai, o chapeador Deomar Silveira Rodrigues, 60, para que ele fosse até o apartamento dela montar um móvel. Dhiuliane saiu do apartamento para levar o lixo até um contêiner. Nesse momento, foi baleada pelo menos quatro vezes e morreu.
O assassinato aconteceu na Rua Visconde de Pelotas, entre as ruas Os Dezoito do Forte e Sinimbu, ao lado do prédio dos Correios, via de intenso movimento. Depois de atirar, o adolescente, que usava uma camiseta azul, bermuda e tênis branco, correu pela Visconde em direção a Tronca.
Ele foi perseguido por um homem e, na sequência, por um policial civil que atua na Deam e percebeu que havia algo errado. O adolescente foi apreendido em flagrante, com a arma.
Passados 10 dias do crime, confira o que se sabe até o momento sobre o assassinato da dançarina:
1. Motivos
Esse é um ponto ainda não claramente esclarecido apesar da confissão do adolescente. Na delegacia, em depoimento, ele alegou que cometeu o assassinato após ter sido tratado mal pela dançarina — teria levado um tapa no rosto em outra ocasião. No caso, o assassinato foi aparentemente uma vingança por uma humilhação sofrida. O problema é que nenhuma testemunha ou alguém próximo da vítima tem conhecimento que a dançarina tenha se envolvido nesse tipo de confusão. Tampouco há testemunhas dessa suposta humilhação cometida pela vítima.
Para o pai da dançarina, a justificativa do adolescente de que Dhu teria lhe tratado mal não combina com a personalidade e o jeito dela.
2. Relacionamento
Outro ponto que levanta dúvidas é o grau de relacionamento entre a vítima e o adolescente. Dhiuliane tinha muitos amigos, mas ninguém sabia de uma possível aproximação dela com o adolescente. Esse detalhe chama ainda mais a atenção, porque o rapaz estaria morando em Caxias do Sul há cerca de duas semanas e não fica claro de que maneira os dois poderiam ter tido contato anterior e por qual motivo.
3. Crime encomendado
Essa tese é investigada pela polícia e cogitada por amigos e familiares da vítima. Como a hipótese de uma vingança pessoal não fica bem clara, não se descarta que o adolescente esteja sustentando uma versão fantasiosa para esconder a identidade de um possível mandante para o crime.
No velório da dançarina, uma ex-namorada de Dhu mencionou o jeito extrovertido e fácil da dançarina para fazer amizades. Para ela, essa era uma possibilidade para ter atraído alguém que "não fosse bem intencionado".
O pai da dançarina também acredita que a morte possa ter sido motivada por ciúmes, porque não acredita que a filha pudesse ter se envolvido em algum desentendimento banal com o adolescente.
4. Origem do autor do crime
Morador de rua e vendedor de balas. Essa seria a ocupação do adolescente, mas o que também não está confirmada. O adolescente não tinha documentos e disse que é natural de São Jerônimo, município da Região Metropolitana de Porto Alegre. A identidade dele foi confirmada pelos agentes da Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Caxias com as autoridades daquela cidade. Segundo a polícia, o adolescente teve passagens por abrigos e, antes de vir a Caxias do Sul, vivia com familiares. O rapaz teria vindo a Caxias de ônibus, sendo que a DPCA suspeita dessa informação, uma vez que ele não tem carteira de identidade e não tinha autorização para viajar sozinho, o que não é permitido por lei, justamente por ele ser menor de 16 anos
No dia do crime, ele relatou a policiais que vivia nas ruas do município serrano. Também disse que vendia balas na área central, informação que também chegou por meio de relato de testemunhas.
No entanto e talvez por estar há pouco tempo na cidade, o jovem não era conhecido de comerciantes ou moradores de rua que frequentam o centro. Em conversa com taxistas, comerciantes e funcionários de lancherias, a resposta é a mesma: ninguém conhece ou teve contato com o jovem. Os serviços de abordagem social da FAS também não possuem registro de atendimento, mesmo que informal, do adolescente. É um detalhe curioso, uma vez que é incomum um menor de idade em situação de rua e não ser detectado pela assistência social ou chamar a atenção de outras pessoas na mesma condição. No dia do assassinato, o adolescente estava bem apresentável, com roupas e tênis limpos, o que destoa de alguém que estivesse vivendo em calçadas ou casas abandonadas. Ele também não apontou onde dormia.
5. A procedência da arma
Um dos pontos da investigação é esclarecer a origem da arma do crime. O revólver calibre .38 foi apreendido e tem a numeração raspada, mas o adolescente não revelou onde conseguiu a arma. Mesmo que tivesse comprado, precisaria de dinheiro, o que não seria tão simples para alguém que vive na rua e mora numa cidade há pouco tempo.