Há sete anos, dona Magda Marli Xavier Godinho, 65 anos, não via o irmão, Valdomiro Xavier, 78. Mesmo morando na mesma cidade, ela se afastou dele por não concordar com questões que envolviam a família da sobrinha. Mas, recentemente, foi surpreendida por uma visita de militares do Exército, que foram à casa dela em busca de Valdomiro. É que ele recebia aposentadoria do Exército e precisava fazer a chamada prova de vida.
Na última tentativa de encontrar o aposentado na casa da sobrinha, a borinha disse aos militares que o tio estava em um sítio pertencente a Marli, em Muitos Capões.
— A tia pegou ele e levou lá para o sítio. Quando eles falaram isso, eu disse: nem de casa saía de medo de pegar o vírus. E falei: Não sei o que aconteceu com ele, mas alguma coisa aconteceu. Daí, fui na delegacia dar parte, porque, pensei: ela (sobrinha) vai ter que dar conta do meu irmão, seja vivo ou morto. Mas tinha esperança que ela tivesse deixado o portão aberto e ele tivesse saído caminhando, estivesse em algum lugar e alguém achasse — contou dona Marli.
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A Polícia Civil já tinha feito tentativas de localizar Xavier, mas a sobrinha dava desculpas, de que ele tinha viajado ou estava na casa de um parente.
Com o registro da ocorrência pelo desaparecimento de Xavier, a Polícia Civil chamou a sobrinha para depor e ela acabou confessando a ocultação do corpo do tio e indicando o local onde o deixou. A polícia estima que ele tenha morrido há pelo menos seis meses, mas esse tempo pode ser ainda maior, de cerca de um ano.
Horas depois de ter feito o registro policial, dona Marli recebeu a notícia de que o irmão havia sido encontrado morto.
— Não esperava isso. Eu quero enterrar os ossos do meu irmão lá no cemitério que está nosso pai — disse emocionada a irmã.
O corpo de Xavier permanece no Posto Médico-Legal de Vacaria. Segundo o delegado, a necropsia não apontou sinais de violência, o que corroboraria com a versão de morte natural dada pela sobrinha, mas amostras serão remetidas para análise laboratorial pelo Instituto-Geral de Perícias em Porto Alegre.
Confira um trecho da entrevista com o delegado de Vacaria:
ENTENDA O CASO
Foi a dificuldade de contatar o militar aposentado que causou estranheza entre familiares dele. Apesar de morar com uma sobrinha, outros parentes não conseguiam ter acesso a ele por telefone ou pessoalmente. O mistério foi desfeito no final da manhã desta quarta-feira: Xavier estava morto havia meses e seu corpo permanecia escondido em um saco dentro de um cômodo nos fundos da casa, segundo apurou a polícia. O motivo para a ocultação do cadáver é igualmente chocante: a sobrinha não queria que ninguém soubesse da morte para que pudesse seguir recebendo a aposentadoria do tio e, assim, usar o dinheiro em proveito próprio.
A mulher foi presa em flagrante por ocultação de cadáver, crime com pena prevista de um a três anos de detenção. A fiança foi arbitrada em R$ 20 mil, que não foi paga. Ela não tinha antecedentes criminais.
A reportagem tentou contatar a defesa dela, mas o advogado informou, por meio de terceiros, que não iria se manifestar.