O desfecho em torno do sumiço do militar aposentado do Exército Valdomiro Laurentino Xavier, 78 anos, provocou espanto não apenas pelos motivos que levaram uma sobrinha dele a manter o corpo escondido durante meses num depósito, mas também porque havia gente que sequer imaginava que ele residia na casa que foi cenário para o crime em Vacaria.
A mulher confessou ter ocultado o corpo do tio para continuar recebendo a aposentadoria dele, estimada em cerca de R$ 3 mil mensais, segundo a Polícia Civil. O delegado Carlos Alberto Defaveri informou que a perícia não identificou sinais de violência no corpo do aposentado. A mulher foi presa. O nome dela não foi divulgado pela Polícia Civil em razão da lei do abuso de autoridade.
O mecânico Cleomar Alves da Silva, 50, que aluga a parte térrea da moradia onde o corpo de Xavier foi encontrado no final da manhã desta quarta-feira, no bairro Pradense, relatou que jamais tinha visto o aposentado na moradia. Na casa, conforme a investigação, residiam Xavier, a sobrinha e três filhos dela.
— A polícia chegou ali, era por 10 para às 11h. Fomos almoçar, quando chegamos de tarde, não tinha ninguém ali (na casa, em cima). Daqui a pouco, o guri chegou (um dos filhos da sobrinha do aposentado). Ele que me contou — relatou.
A sogra da investigada disse à reportagem que Xavier sempre foi muito bem cuidado pela sobrinha. O marido da investigada já morreu há nove anos.
— Tô surpresa. Ela cuidava tão bem dele. Era a maior preocupação dela — afirmou a sogra.
ENTENDA O CASO
Foi a dificuldade de contatar o militar aposentado que causou estranheza entre familiares dele. Apesar de morar com uma sobrinha, outros parentes não conseguiam ter acesso a ele por telefone ou pessoalmente. O mistério foi desfeito no final da manhã desta quarta-feira: Xavier estava morto havia meses e seu corpo permanecia escondido em um saco dentro de um cômodo nos fundos da casa, segundo apurou a polícia. O motivo para a ocultação do cadáver é igualmente chocante: a sobrinha não queria que ninguém soubesse da morte para que pudesse seguir recebendo a aposentadoria do tio e, assim, usar o dinheiro em proveito próprio.
A mulher foi presa em flagrante por ocultação de cadáver, crime com pena prevista de um a três anos de detenção. A fiança foi arbitrada em R$ 20 mil, que não foi paga. Ela não tinha antecedentes criminais.
A reportagem tentou contatar a defesa dela, mas o advogado informou, por meio de terceiros, que não iria se manifestar.