Ao mesmo tempo em que enfrenta o coronavírus, Caxias do Sul vê o número de assassinatos disparar. São 34 casos entre abril e junho, contra 20 mortes nos primeiros três meses de 2020. Para comparação, o número de 54 assassinatos até o dia 15 de junho é 46% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando aconteceram 37 mortes — 2019 terminou com 89 assassinatos. Com mais três casos registrados no final de semana, a cidade contabiliza nove mortes neste mês, sendo seis homicídios e três criminosos que tombaram em confronto com policiais militares. Em junho, a média é de uma morte a cada 40 horas.
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A vítima mais recente foi Beatriz Neves Castanha, 43 anos, morta a tiros em frente à filha no bairro Ana Rech na tarde de domingo. Conforme a Polícia Civil, a mulher tinha saído de casa para esperar o mecânico que iria consertar seu carro quando foi alvejada pelo motorista de um Corsa branco. Testemunha relataram que os tripulantes do carro seriam um casal de irmãos que possui uma desavença antiga com Beatriz. O delegado plantonista Ives Trindade aponta que um cunhado da filha da vítima teria matado um parente dos suspeitos.
Apesar da suposta autoria e motivação apontadas durante a apuração na cena do crime, o titular da Delegacia de Homicídios manteve a cautela.
— O suspeito é um bandido velho, então ainda não temos sua localização. É um caso esclarecido. Ouvimos as testemunhas e estamos em busca do resto. Mas, a investigação leva para outro rumo (além da vingança) — comenta o delegado Adriano Linhares.
Além desse crime, a Delegacia de Homicídio também assumiu outras duas investigações nesta segunda-feira (15). No sábado, Gabriel de Biasi, 18, morreu em uma troca de tiros com policiais militares que verificavam uma denúncia sobre distribuição de drogas na Rua Henrique Cia. Ele é o terceiro suspeito a tombar em confronto com a Brigada Militar (BM) no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz neste mês.
Na noite de sexta-feira (12), André Bissani, 28, foi executado no bairro Serrano. Segundo a BM, dois homens teriam invadido a residência de Bissani, que pulou a janela e tentou fugir correndo, mas foi baleado e morreu na via pública. Os dois assassinos fugiram em um HB20 preto.
— Esse crime já segue aquela receita de tráfico de drogas e vida criminosa, que leva ao homicídio. É um caso mais difícil e mais complexo, pois não basta saber quem praticou o crime, mas é preciso provar, ter a prova constituída para a fase judicial — analisa Linhares.
Delegado aponta mortes ordenadas de dentro das cadeias
O aumento no número de assassinatos é um assunto que incomoda o delegado Adriano Linhares. O titular da Homicídios aponta que são diversos os fatores que motivam as mortes e que a responsabilidade principal da Polícia Civil não é de prevenir os crimes ou de buscar as causas de aumentos, mas de esclarecer e apresentar os autores à Justiça.
— Se tiver 100 homicídios por mês, iremos investigar os 100. É a nossa função. Se refletir em uma diminuição, muito bem. Mas tem casos que são isolados. Alguns são (envolvimento em) facção, outros é a droga, outro é um desafeto, até uma vingança por uma "bronca velha". Cada um tem seu motivo e sua razão, são isolados. O nosso trabalho é investigar um por um — desabafa.
Linhares aponta que o tráfico continua sendo o motivador da maioria dos homicídios em Caxias do Sul, mas faz uma ressalva:
— O que é mais interessante é quantos homicídios surgiram a mando de uma casa prisional. Um preso que decide que alguém tem que morrer e convence um sujeito a tomar aquela atitude. Essa é a pergunta que deve ser feita. Por que acontece isso? É só em Caxias? Não. Vamos ampliar, todos os dias deve ter uns 30 estelionatos em Caxias do Sul que partem de dentro do sistema prisional. E tem extorsões também. Até roubo de veículo é relacionado ao que acontece dentro das cadeias. Tudo precisa ser analisado — salienta o delegado, sem divulgar quantas investigações concluíram que homicídios foram ordenados de dentro do sistema carcerário.