A instalação das 48 celas já revela novidades do novo presídio em Bento Gonçalves. Com um sistema de abertura e fechamento automático das portas, a nova casa promete evitar um problema persistente no sistema prisional brasileiro: as galerias abertas, que deixam as chaves das celas nas mãos de detentos, criam hierarquias entre a população carcerária e favorecem o crescimento de facções criminosas. Na nova estrutura, os agentes penitenciários irão monitorar a rotina das galerias de cima, por uma plataforma que percorre o corredor das celas.
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Conforme a Verdi Sistemas Construtivos Ltda, as obras estão dentro do cronograma e a nova casa prisional será entregue dentro do período previsto em contrato, no fim de janeiro de 2019. A dificuldade enfrentada até o momento são as chuvas que, entre outros contratempos, deixaram o solo úmido e estenderam o trabalho de terraplenagem.
Na semana passada, a reportagem do Pioneiro acompanhou o diretor do atual Presídio Estadual de Bento Gonçalves, Volnei Zago, em uma visita as obras. A visão das duas galerias já montadas possibilita uma ideia melhor de como será a nova casa, que terá capacidade para 420 presos.
— Está tomando forma. Principalmente pela estrutura, será completamente diferente da casa atual. Terá mais vagas, o que ajuda contra o nosso grande problema que é a superlotação, e estrutura para oferecer aulas e trabalho para redimir a pena dos presos — comenta o diretor.
Essa é a primeira parte da montagem prosseguirá com a instalação de outros espaços de convivência, como refeitório, lavanderia e área administrativa. No momento, 80 pessoas estão trabalhando no local, entre pedreiros, auxiliares, armadores de ferro e carpinteiros. No auge da obra, esperado para agosto e setembro, a estimativa é que 130 pessoas deverão trabalhar de forma simultânea.
O que é a galeria aberta:
A galeria aberta surgiu diante da falta de agentes penitenciários frente ao aumento da população carcerária. Nele, alguns presos tem as chaves para abrir e fechar as celas e repassam orientações sobre quem precisa de atendimento médico ou transporte para audiências. É o modelo de trabalho diante da superlotação da Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, onde ocorreram plantões em que já haviam apenas quatro agentes penitenciários para lidar com mais de 200 detentos em uma galeria.
"Pretendemos retomar a referência em trabalho prisional"
Confira parte da entrevista com Volnei Zago, diretor do atual Presídio Estadual de Bento Gonçalves:
Pioneiro: É bem-vindo esse sistema mecânico para abertura e fechamento de celas?
Volnei Zago: Com certeza, é uma grande vantagem. Os presídios da Serra, especificamente de Bento Gonçalves pelo qual posso falar, dependem de abrir e fechar cada cela. Como temos poucos agentes penitenciários e uma estrutura precária, quem faz esse trabalho são presos nos plantões. Nesse presídio novo, provavelmente, isso não vai existir, pois as celas serão abertas por cima com o sistema automático. Na casa atual, temos muitas regras de disciplina que são cumpridas. Mas, com certeza, toda esta estrutura traz algo a mais.
Como está a expectativa dentro da casa atual?
É uma questão complicada. Acho que não caiu a ficha de ninguém ainda. Há uma grande expectativa, mas a maioria está esperando pela construção. Os presos estão praticamente amontoados nas celas. Eles sabem que, na vinda para cá, terão uma estrutura melhor para cumprir sua pena com dignidade. Pretendemos retomar a referência em trabalho prisional que tínhamos antes de 2014, quando houve aquela rebelião (com incêndio) e perdemos a oficina de trabalho.
Uma cadeia mais afastada é um dificuldade?
Em termos de deslocamento ficará mais difícil o acesso, mas estamos nos adequando. Não será um grande problema. Essa é a realidade dos outros presídios também.