A declaração do prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves (PDT), de que água que chega nas torneiras dos munícipes pode estar contaminada pelo coronavírus, causou espanto na comunidade médica e gerou comunicados de empresas abastecedoras de água de Farroupilha e Caxias do Sul. A principal crítica é que o gestor municipal, que também é médico obstetra, não teve qualquer base em estudo científico ou prova de que a covid-19 possa ser transmitida pela água — infectologistas negam essa possibilidade. Diante da repercussão negativa, o prefeito afirmou que a crítica era à falta de tratamento de esgoto.
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Procurado pela reportagem nesta quarta-feira (8), Claiton minimizou a declaração e afirmou se tratar de uma relação com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), responsável pelo fornecimento de água na cidade. O gestor municipal não apresentou embasamento para a fala sobre o contágio da covid-19 pela água. Conforme a Sociedade Brasileira de Infectologistas, não há qualquer estudo científico ou relato de contaminação por meio aquático.
— É um assunto que não tem muita importância. É uma questão óbvia. O interesse é econômico, mais do que qualquer outra coisa. Todas pessoas que moram na cidade sabem que não temos esgoto tratado em Farroupilha. Esta declaração não tem importância jornalística. É um conceito de relação com a Corsan. Continuamos tendo água buscada numa bacia que recebe o esgoto da cidade — diz Claiton.
O prefeito não respondeu se há alguma comprovação de que a água está chegando contaminada nas torneiras da cidade. O gestor municipal afirmou que esta pergunta deveria ser feita ao Instituto Trata Brasil, organização da sociedade civil formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. A entidade já teria feito estudos sobre a água na cidade. No entanto, infectologistas afirmam que não há qualquer estudo científico que apontem para a transmissão da covid-19 pela água:
— O que eu pedi é para os maiores de 60 anos e quem está no grupo de risco para ferver a água. Não é só sobre coronavírus. Temos hepatite A, toxoplasmose e outras coisas que circulam nas fezes das pessoas.
Questionado sobre o que é feito pela prefeitura para melhorar a rede pluvial da cidade, o prefeito Claiton afirmou que há uma oitiva que já dura dois anos, com encontros públicos e reuniões com a Corsan, para aumento da rede e criação de uma central de tratamento de esgoto.
— Queremos mudar o contrato, porque este não é cumprido. São discussões e um processo que já dura mais dois anos — afirma.
Corsan tem certeza da qualidade da água fornecida
Por meio de nota oficial, mas sem citar Farroupilha ou a declaração do prefeito Claiton, a Corsan reiterou que não há registros de detecção em água tratada do novo coronavírus e, baseado na atual evidência, o risco para os consumidores é inexistente. A empresa ratifica que adota todos os procedimentos de tratamento e desinfecção recomendados pelo Ministério da Saúde e controla a qualidade da água que produz e distribui. A Corsan "recomenda que a população continue a consumir a água da torneira, sem fervura prévia e não entende como necessidade premente o consumo de água de outras fontes".
O documento cita que, com base em guias da Organização Mundial da Saúde (OMS), embora a persistência deste vírus na água seja possível, não há evidência de que sobreviva em água tratada ou de que esteja presente em mananciais superficiais ou subterrâneos. Também é ressaltado que não há informações sobre transmissão por meio de água para consumo humano, desde que submetida a processo de tratamento que compreenda etapas de floculação, decantação, filtração e desinfecção — as quais são executadas pela Corsan.
"O Sars-Cov-2 é um vírus envelopado, com uma membrana exterior. Geralmente, vírus envelopados são menos estáveis no meio ambiente e são mais susceptíveis aos oxidantes, tais como o cloro, o qual é item essencial e constante no tratamento de água da Corsan", cita a nota.
Samae também emite nota sobre água em Caxias do Sul
Nesta quarta-feira (8), o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) também divulgou um comunicado sobre a água fornecida em Caxias do Sul. A autarquia reforça que não foi detectado o vírus da covid-19 no abastecimento de água potável, até porque, cientificamente, não existe nenhum estudo que comprove que o vírus se mantém ativo na água.
O documento aponta que o SARS-CoV-2, causador da covid-19, é um tipo de vírus particularmente suscetível à desinfecção. Dessa forma, os processos padrões de tratamento são eficazes para eliminar patógenos, inclusive o vírus. O Samae também realiza o controle de prevenção de doenças adotando os procedimentos exigidos pelo Ministério da Saúde.
— Além disso, seguimos as recomendações para aumentar a concentração de cloro residual livre na água fornecida pelos veículos transportadores (caminhões pipa), mantendo abaixo do valor máximo permitido exigido — explica o gerente de Tratamento de Água da autarquia, Tiago Antonio Marcon.
O comunicado ainda explica como é feito o tratamento da água. Na estação de tratamento, a água passa por seis diferentes etapas até tornar-se potável. São estes os processos que garantem a qualidade da água consumida pela sua família.
Etapas para o tratamento da água:
:: Coagulação: Nessa etapa inicial, ocorre a adição de sulfato de alumínio, um produto químico que possibilitará a união das partículas sólidas em suspensão na água.
:: Floculação: Aqui, as partículas sólidas unem-se em flocos maiores, o que facilitará o processo seguinte.
:: Clarificação: Depois de se agruparem em flocos maiores, ocorre o acúmulo destes flocos no fundo do decantador. É nesta fase que se inicia a coleta superficial da água.
:: Filtração: Como o próprio nome já diz, nesta etapa a água passa por filtros compostos por camadas de antracito, areia e pedras de diversos tamanhos. É aqui que as pequenas impurezas ficam contidas.
:: Desinfecção: Quase no fim do processo, é feita a aplicação de cloro gás, hipoclorito de sódio ou outro produto adequado para a eliminação de microrganismos causadores de doenças.
:: Fluoretação: Por último, também é aplicado flúor para a prevenção de cáries.