No texto desta terça da série Crônicas de Natal, Claiton Melo conta como uma praça pode se tornar a extensão da casa.
Confira:
Sou morador do bairro Reolon há 26 anos. Minha história de vida é a da criança carente, de lutar no dia a dia e trabalhar em diversas profissões. Nestes últimos quatro anos, logo após me formar em Pedagogia, o meu sonho de Natal foi ver minha comunidade partilhando momentos de alegria na praça no coração do bairro. Para chegar ou sair do Reolon tem que passar por ali, sendo esse o único local de lazer que dispomos.
Desde que comprei um baú de caminhão, sempre tive a ideia de montar uma biblioteca para que a comunidade se alimentasse não só de comida, mas que pudesse sonhar o ano todo e viajar, através das letras. Com ajuda de muitas pessoas conseguimos melhorar a nossa praça. Hoje, tem churrasqueira, brinquedos em condições de uso, bancos, luz, tudo feito com ajuda de cada morador. Nunca imaginamos que tudo isso pudesse ser feito em uma praça.
Ouça o áudio da carta:
Melhorar a vida através da cultura é sonho de todos. Nossa comunidade teve a consciência e não se vivenciou o vandalismo na praça. Isso me enche de esperança. Cada dia que passo por ali guardo a certeza que na noite de Natal, o contêiner vai estar funcionando com muitos livros, carinho e amor coletivo, porque a maior história se constrói no conjunto. Os presentes mais importantes não serão aqueles que vamos ganhar e desembrulhar, mas serão os presentes humanos. Ela vai funcionar para que as pessoas possam ter um local para levar os filhos, brincar e alimentar a alma. Esse sonho que não é só meu e sim de toda uma comunidade.
Espero que neste Natal possamos comemorar com a comunidade na praça. Cheia de crianças brincando, mas com um tempero a mais. Ao invés de ficar em seus lares à noite toda, que famílias e amigos possam passar alguns segundos ou minutos ali na biblioteca, onde cada um possa partilhar histórias, sonhos, vivências. Quantas pessoas neste dia, assim como o ano todo, não tem ninguém para conversar, não têm família? Mas a grande família é a construção de um bairro. Acredito que é possível que a gente, por alguns minutos na noite de Natal, possa ir à nossa praça tomar chimarrão, um suco, levar amor e carinho, sem gastar nada, porque o maior presente todos nós já dispomos que é o presente de estar vivo.
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A praça pode ser um grande salão de festas, um local mágico. Diferente como é para cada criança que diariamente vemos correndo, sorrindo e brincando no parque, pois isto é sonhar, imaginar e acreditar no que fazemos. Meu sonho sempre foi ver este espaço cheio, que possamos reunir a comunidade toda. A praça para mim tem um significado muito especial e um resgate de autoestima perdido no meio do lixo e de brinquedos quebrados. A revitalização pensada há um ano, no dia de Natal, foi um sonho coletivo que merece ser comemorado. Hoje se pensa em fazer uma cancha de bocha e por que não?
Vou ter orgulho de dizer que passei o Natal na praça. Na praça que tem churrasqueira, que tem quiosque, que tem biblioteca, que tem área verde, que tem vida, que tem brinquedos. Neste dia, vamos povoar a nossa praça e dizer a quem está triste, a quem não vai receber presente físico que os maiores presentes não pegamos, mas sim vivemos e sentimos.
Claiton Melo, educador social
*Crônicas de Natal é um projeto assinado por Adriano Duarte, Andressa Paulino, Juliana Rech, Luan Zuchi e Manuela Balzan.
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