Mobilizados pela solidariedade, um grupo de amigos acolheu duas famílias venezuelanas em Caxias do Sul. Há cerca de 15 dias, veio o casal Irving Moreno,26, e Laura Medina, 27. Foram instalados em uma casa alugada e mobiliada pelos voluntários no bairro Esplanada. Ao perceber a possibilidade de estender a ajuda a mais pessoas, o grupo caxiense recebeu do casal a indicação de outra família com quem formou amizade em Boa Vista-RR, destino inicial da imigração. Na última sexta-feira à noite, desembarcaram em Caxias do Sul Jose Luis Lara e Estefani Araque, com seus quatro filhos: Diego, 12, Milagro, 6, Stefano, 3, e Misael, 7 meses. Também veio a irmã de Estefani, Argelis Araque, 14.
A busca dos refugiados, claro, é por uma vida melhor fora do país que atravessa crise socioeconômica gravíssima. E, aos poucos, os ventos serranos passam a soprar favoráveis. Irving já está empregado em uma empresa de sucos, com carteira assinada. Jose Luis fará teste nesta segunda-feira, na mesma empresa. No entanto, as duas esposas ainda precisam de emprego, assim como as crianças, que estão sem estudar desde julho, precisam de vagas em escolas e creches.
— Em Roraima passamos por muitas dificuldades para arrumar trabalho e sofremos xenofobia. Moramos na rua. As pessoas fecham as janelas das suas casas ao verem os estrangeiros — comenta Laura, que já fez entrevistas para trabalhar como frentista em Caxias, mas não obteve retorno. Ela é formada em Administração de Empresas. O marido, Irving, é engenheiro elétrico.
Na tarde de domingo, os imigrantes aproveitaram para conhecer um dos cartões postais de Caxias do Sul, o Parque dos Macaquinhos, onde puderam assistir ao Concerto de Verão, apresentado pela Orquestra Municipal de Sopros. A primeira impressão da cidade, segundo Estefani, foi de hospitalidade. Outra vantagem em relação ao Norte do país foi o clima, após deixarem para trás temperaturas próximas aos 40 graus.
— A recepção em Caxias foi muito bonita. Sabemos que há brasileiros bons e maus, assim como há venezuelanos bons e maus. Aqui em Caxias do Sul, só conhecemos os brasileiros bons. Só temos a agradecer aos que nos acolheram e também às Forças Armadas, que viabilizaram nossa viagem — elogia Jose Luis.
Ajuda humanitária
Transportados desde Boa Vista em voo da Força Aérea Brasileira (FAB), a chegada dos venezuelanos a Caxias do Sul se deu pelo programa de articulação humanitária Operação Acolhida, chancelado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), além das Forças Armadas Brasileiras. Em um ano, o programa já beneficiou mais de 4,5 mil refugiados, acolhidos em 17 estados brasileiros. A leva atual, que trouxe os novos moradores de Caxias, destinou 226 refugiados a oito cidades do país, incluindo Porto Alegre.
Chamada de "estratégia de interiorização", a iniciativa visa minimizar o impacto da migração em massa de venezuelanos para Roraima. Pessoas que aderem ao programa são registradas, documentadas e imunizadas, além de avisadas sobre o acesso a serviços públicos nas cidades de destino. Em Caxias, as famílias contam com o apoio do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) para questões jurídicas e de documentação.
Interessados em ajudar ou oferecer uma oportunidade às famílias podem entrar em contato pelo telefone (54) 98111.3733. Eles também têm uma conta para depósito de qualquer valor: Banrisul, agência 0183, conta 390708820-0, em nome de Vinícius Poletto (CPF 004.360.330-03).